A humanidade perdeu, na noite desta quinta-feira (5), um de seus maiores representantes. O líder sul-africano Nelson Mandela, morreu aos 95 anos na cidade de Pretória, na África do Sul, deixando um legado de luta e superação sem precedentes no século 20. O anúncio da morte foi feito pelo presidente da nação africana, Jacob Zuma. “Ele partiu, se foi pacificamente na companhia de sua família. Ele descansou, agora está em paz. Nossa nação perdeu seu maior filho. Nosso povo perdeu seu pai”, afirmou. Nos últimos anos Mandela vinha enfrentando vários problemas de saúde. Desde o último mês de dezembro, ele foi internado quatro vezes.
O funeral de Mandela deve durar de dez a 12 dias. Atendendo a sua vontade, seu corpo será enterrado na aldeia de Qunu, onde ele cresceu. Os restos mortais de três de seus filhos foram sepultados no mesmo lugar em julho, após ordem judicial.
Mandela Day
No mundo da música, a figura de Mandela sempre esteve presente. Uma das reverências veio da banda escocesa Simple Minds, que se apresentou no último mês de outubro no BioParque, em Curitiba, dentro do Circuito Banco do Brasil. Você pode ler a cobertura do show neste link. Em 1989, o grupo gravou uma música chamada “Mandela Day”, no álbum “Street Fighting Years”. A canção foi composta em homenagem ao Madiba. “Há 25 anos eles prenderam aquele homem. Agora a liberdade se aproxima a cada dia. Enxugue as lágrimas dos seus olhos entristecidos. Eles dizem que Mandela está livre, então pise lá fora”, diz a letra.
Por meio do site oficial do grupo, ainda ontem, o vocalista da banda irlandesa U2, Bono Vox, lamentou a morte de um dos grandes líderes do nosso tempo. “Era como se ele tivesse nascido para ensinar uma lição de humildade, humor e, acima de tudo, com paciência. No final, Nelson Mandela nos mostrou como amar ao invés de odiar, não porque ele nunca tenha se rendido à raiva ou violência, mas porque aprendeu que o amor faria um trabalho melhor”, declarou.
O vocalista do Simple Minds, Jim Kerr, também se manifestou. “Para muitos de nossa geração, Nelson Mandela era tanto um ser humano extraordinário quanto inspirador. Estou confiante de que nada, inclusive a triste notícia de sua morte, vai mudar isso. Foi uma honra para nós tê-lo encontrado em 1990, durante os estágios finais de uma campanha mundial que chamou a atenção para o fim do apartheid. Sua reputação pode ter sido maior que a vida, mas ele aparentemente se manteve humilde por toda parte”, publicou no site oficial da banda.
Uma vida cumprindo sua missão
Rolihlahla Dalibhunga, seu nome de batismo, nasceu no dia 18 de julho de 1918 na vila de Mvezo, na região de Transkei, na África do Sul. Uma professora lhe deu o nome de Nelson Mandela. Ele era membro da tribo Tembu, parte da nação Xhosa e pertencia ao clã Madiba.
Em 1943, Mandela começou a manter contato com os militantes do partido CNA (Congresso Nacional Africano), que viria a ser uma importante força política de combate ao regime segregacionista do apartheid. Pelas mãos de Gaur Radebe, Mandela passou a frequentar reuniões do partido e participou de um protesto contra o aumento de tarifas de ônibus. Em 1942, formou-se em direito pela Universidade da África do Sul.
Em 1952, participou ativamente da campanha do CNA de resistência à nova legislação segregacionista. Quatro anos mais tarde, com o aumento da insatisfação da população contra o regime, o governo prendeu 156 ativistas do partido. Eles foram acusados de traição e os julgamentos duraram até 1961. Mandela, que era advogado, foi porta-voz do grupo durante o processo, e todos acabaram sendo absolvidos.
Em 1960, ocorreu o massacre de Sharpeville, em que dezenas de negros foram mortos quando a polícia abriu fogo contra uma multidão. Em seguida, o CNA foi colocado na clandestinidade, e Mandela foi preso. Um ano depois ele foi libertado, mas passou a viver na clandestinidade e ajudou a fundar a ala militar do CNA, o Umkhonto we Sizwe, ou MK. Mandela chegou a ir para a Argélia receber treinamento militar, mas acabou sendo preso em 1962 por deixar o país ilegalmente.
Já na cadeia, cumprindo uma pena de cinco anos de detenção, Mandela foi condenado à prisão perpétua por sabotagem. Em seu testemunho no julgamento de Rivonia, ele atacou as leis sul-africanas que haviam deixado os negros quase sem direito algum e disse sonhar com o estabelecimento da democracia no país. “Eu tenho o ideal de uma sociedade livre e democrática. É um ideal pelo qual eu espero viver e que eu espero alcançar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual eu estou preparado para morrer”, afirmou.
Quase três décadas de cárcere
Nelson Mandela passou 18 anos detido na ilha de Robben, na costa da Cidade do Cabo. Em 1982 ele foi transferido para a prisão Pollsmoor, no continente, onde passou mais nove anos. Enquanto esteve preso, Mandela perdeu sua mãe, que morreu em 1968, e seu filho mais velho, morto em 1969. O regime do apartheid não o autorizou a participar dos funerais.
Durante os 27 anos em que ficou preso, sua imagem como líder negro só aumentou. Em 1985, Mandela iniciou um diálogo com o Partido Nacional, em busca de sua libertação. O PN exigia que ele não voltasse à luta armada, mas ele afirmou que não aceitaria enquanto os negros tão tivessem os mesmos direitos que os brancos na África do Sul.
Em 2 de fevereiro de 1990, o presidente sul-africano Frederik de Klerk reinstituiu o Congresso Nacional Africano (CNA) e no dia 11 Nelson Mandela foi libertado. Na época, em um evento que foi transmitido mundialmente, ele afirmou que continuaria lutando pela igualdade racial no seu país.
O Prêmio Nobel da paz e a ascenção à presidência
Em 1991, Mandela foi eleito novamente presidente do CNA e, em 1993, ele e Frederik de Klerk dividiram o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços para trazer a paz ao país. Em 27 de abril de 1994 foi realizada a primeira eleição democrática e multirracial na África do Sul. O CNA venceu com 62% dos votos, contra 20% do Partido Nacional. Mandela tomou posse em 10 de maio de 1994, tornando-se o primeiro líder negro do país e também o mais velho, com 75 anos. Ele cumpriu apenas um mandato. Em 1999, não se candidatou à reeleição e se aposentou da carreira política. Desde então, ele passou boa parte de seu tempo em sua casa no vilarejo de Qunu, onde passou a infância, na província pobre do Cabo Leste.
A luta social
Após o fim da carreira política, Mandela continuou a sua luta por seu povo, se dedicando a diversas organizações sociais e de direitos humanos. Uma delas foi a campanha de arrecadação de fundos para o combate à Aids, que tinha como símbolo o número 46664, sua identificação no tempo em que esteve na prisão.
Em 2008, quando comemorou 90 anos, foi realizado um show Hyde Park, em Londres, com shows de artistas e celebridades engajadas na campanha, entre eles os grupos Simple Minds e Queen + Paul Rodgers. Uma estátua de Mandela foi erguida na Praça do Parlamento, na capital inglesa.
Em novembro de 2009, a ONU anunciou que o dia de seu aniversário, 18 de julho, seria celebrado em todo o mundo como o Dia Internacional de Mandela. A intenção da iniciativa é estimular as pessoas a dedicar 67 minutos a causas sociais. O número é uma referência aos anos que Madiba dedicou a luta pela igualdade racial e contra o apartheid.
Com sua morte, não só a África do Sul perde o seu grande líder. O mundo se despede de um dos maiores exemplos de humildade, capacidade de perdoar e de lutar pelo sonho da liberdade. “O que conta na vida não é o simples fato de que temos vivido, é o que temos feito de diferença para a vida dos outros que irá determinar o significado da vida que levamos”, Nelson Mandela.
Veja duas canções em homenagem à Nelson Mandela: “Mandela Day” do Simple Minds e “Asimbonanga” de Johnny Clegg com a participação, ao vivo, de Mandela. Assista também à nomeação e ao discurso de posse de Mandela como presidente da África do Sul.
Tem também “Free Nelson Mandela”, do The Specials. Há uma versão dos Paralamas dessa música no youtube. E “Lágrima do Sul”, do Milton Nascimento. Abç!
es o melhor de todos o soberano do continente africano