Texto e fotos: Marcos Anubis
Peso, técnica e arte. O show do grupo americano Nile, ontem (19) no Music Hall em Curitiba, uniu todas essas variantes em uma apresentação marcante. A tour pela América do Sul, que faz parte da divulgação do álbum “At the Gate of Sethu”, lançado no ano passado, teve um setlist que revisitou toda a carreira do quarteto. A abertura foi do trio curitibano Imperious Malevolence. Confira neste link a cobertura do show.
Quando soaram os primeiros acordes de “Sacrifice unto Sebek”, do álbum “Annhilation of the Wicked”, de 2005, o público presente começou a ser levado em uma viagem aos primórdios da humanidade, há 3.000 anos. O uso da mitologia egípcia, e também do Oriente Médio, como base do som do grupo, confere ao quarteto uma identidade única. Elementos como sacrifícios, batalhas e julgamentos, presentes de forma muito forte na cultura principalmente do Egito, combinam perfeitamente com o Death Metal técnico produzido pela banda.
Após agradecer o respeito dos fãs, o guitarrista e vocalista Karl Sanders anunciou “Defiling the gates of Ishtar”, do disco “Black Seeds of Vengeance” (2000) e, na sequência, “Kafir”, que abre o álbum “Those Whom the Gods Detest”, de 2009. “Em nome do impiedoso, o que não é benevolente. Em nome do Senhor dos mundos, proprietário do dia do Juízo Final. Mostra-nos o caminho daqueles que ganham a raiva e daqueles que se desviam”, diz a letra.
Trabalhar artisticamente com uma cultura tão rica quanto a do Oriente Médio parece simples, mas envolve outras questões. Os integrantes do Nile são norte-americanos. Após o fatídico 11 de setembro, os Estados Unidos passaram a viver em constante guerra contra o que chamam de “terroristas islâmicos”. Assumir a importância que o legado musical e histórico que essa parte do mundo tem para a humanidade não deixa de ser uma atitude corajosa de Karl Sanders e seus asseclas.
Durante o show, o Nile executou algumas canções do disco “At the Gate of Sethu”, como “Enduring the eternal molestation of flame” e “The inevitable degradation of flesh”. Os grandes destaques, porém, foram as canções mais antigas como “The blessed dead”, do álbum “In Their Darkened Shrines” (2002). “Não ofereça nenhuma tumba. Nós devemos ser enterrados. Despreparados na areia. Nós nunca seremos mortos abençoados. Desprezado por Asar. A condenaram na pesagem do coração. Nós somos exilados no inferno. Serpentes caiam sobre nós, arrastando-nos longe”, diz a letra.
O texto da música faz menção ao “julgamento de Anubis”. A mitologia egípcia diz que, após a morte, a alma é recebida no submundo pelo deus Anubis. O falecido, então, tem o seu coração colocado em uma balança, com uma pena de contrapeso. Para passar nesse julgamento e poder ingressar no mundo dos mortos, o coração do réu precisa ser mais leve do que a pena, caso contrário, ele sofrerá castigos inimagináveis durante toda a eternidade.
O respeito dos fãs
A banda estava nitidamente surpresa e contente pela acolhida que receberam dos fãs curitibanos. Várias vezes durante o show o nome do quarteto foi gritado pelo público presente. “É uma honra muito grande para nós estarmos aqui ao lado desses headbangers malucos”, agradeceu o guitarrista e vocalista Dallas Toler-Wade em uma dessas ocasiões.
O Nile foi criado em 1993 na cidade de Greenville, nos Estados Unidos, por Karl Sanders na guitarra e vocal, Chief Spires no baixo e vocal, e Pete Hammoura na bateria. O disco de estreia do grupo, “Amongst the Catacombs of Nephren-Ka”, de 1998, já mostrava o potencial da mistura death metal/cultura egípcia. Da formação original, atualmente, só Karl permanece no grupo. No show, ele foi acompanhado por Dallas Toler-Wade na guitarra e vocal, George Kollias na bateria e Todd Ellis no baixo.
“Black seeds of vengeance” fechou a apresentação. Após os agradecimentos, Karl ficou por um bom tempo no palco dando autógrafos e tirando fotos com os fãs. A temporada curitibana de shows metálicos teve um grand finale em 2013. Que no ano que vem a cidade possa receber ainda mais bandas com essa qualidade.
Confira a entrada do Nile no palco, com “Sacrifice unto Sebek”, “Defiling the gates of Ishtar” e “Kafir”.
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