Texto e foto: Marcos Anubis
O punk rock é um gênero sem espaço para solos mirabolantes ou melodias intermináveis. O gênero é direto e reto ou curto e grosso, como queiram. O show da banda americana Bad Religion, que aconteceu neste domingo (9) no Curitiba Master Hall, honrou esse “código de honra”. O grupo tocou nada mais, nada menos do que 30 músicas de suas mais de três décadas de estrada.
Com a casa de shows lotada e sob um calor infernal, coisa raríssima em Curitiba, o quarteto subiu ao palco com “Fuck You”. A metáfora da canção deu o tom do que seria a noite. Na sequência, sem intervalo e sem papo com os fãs, o grupo emendou “Dharma and the Bomb”. As duas canções fazem parte do mais recente álbum da banda,“True North”, lançado no ano passado. O disco foi produzido pelo Bad Religion e por Joe Barresi, que já trabalhou com nomes como Kyuss, Queens of the Stone Age e L7. “New America” veio em seguida. A trinca deu o cartão de visitas do quarteto e mostrou como seria a próxima uma hora e meia de punk rock.
O vocalista Greg Graffin parecia se sentir em casa. Elogiou uma cerveja brasileira, colocou uma bandeira do Brasil no palco e cumprimentou o público nas poucas vezes em que se comunicou com os fãs. Muito bem acompanhado pelos guitarristas Brian Baker e Mike Dimkich, Jay Bentley no baixo e Brooks Wackerman na bateria, Graffin comandou o espetáculo com uma postura firme e cheia de energia.
A admiração que o público da capital paranaense tem pela banda, aliás, vem de duas décadas atrás. Durante os anos 1990, época da ascensão do Bad Religion, a juventude curitibana era dominada pelo skate e pelo bicicross. Nas pistas do Jardim Ambiental II, no Alto da XV, e da Praça do Gaúcho, no Bairro São Francisco, o som do Bad Religion e de outros grupos da época, como o Beastie Boys e o House of Pain, eram a trilha sonora para as manobras radicais da “piazada”. Muitos deles, logicamente já adultos, mas com o mesmo entusiasmo, estavam no Master Hall neste domingo em meio aos mosh pits e pogos que se abriram durante toda a apresentação.
35 anos de punk rock
O Bad Religion foi formado em 1979 na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos. A formação inicial tinha Greg Graffin no vocal, Jay Bentley no baixo, Brett Gurewitz na guitarra e Jay Ziskrout na bateria. Em 1981 a banda lançou o EP “Bad Religion” e no ano seguinte o seu álbum de estreia, “How Could Hell Be Any Worse?”. A mistura de punk rock com pitadas de hardcore logo foi recebida com entusiasmo pelo público e o grupo foi se consolidando como um dos mais importantes nomes do gênero.
A fábula do “sonho americano”
O Bad Religion sempre teve uma postura crítica em suas letras. “21th Century (Digital Boy”, um dos grandes momentos do show, retrata bem esse lado contestador. A música ironiza o chamado “sonho americano” e expõe a realidade das famílias de classe média dos Estados Unidos. “Eu não sei como viver, mas tenho vários brinquedos. Meu pai é um preguiçoso intelectual de classe média. Minha mãe usa Valium, tão ineficaz. A vida não é um mistério?”, canta Graffin.
Após “Punk Rock Song”, a banda se retirou do palco durante alguns minutos. O público estava esperando aquele que talvez seja o maior sucesso da do grupo, “American Jesus”. A canção é umas das mais incisivas na crítica ao status de nação dominante que os Estados Unidos ostentam. “Nós temos o Jesus Americano suportando a fé nacional. Nós temos o Jesus Americano oprimindo milhões por dia”, diz a letra. Você não verá muitos cidadãos americanos tendo essa postura. Por si só, a atitude de Graffin e seus asseclas é corajosa e digna de elogios.
Na volta para o bis, o quarteto saciou a vontade dos fãs com a trinca “Generator”, “American Jesus” e “Dept. of False Hope”. A apresentação encerrou a passagem do Bad Religion pelo Brasil, neste ano. A sensação que ficou no ar foi que, se a banda resolvesse tocar mais 30 músicas, o público estaria lá com o mesmo entusiasmo. Isso é reflexo de um bom show.
Confira três grandes momentos da apresentação: “American Jesus” , “21th Century (Digital Boy)” e “Fuck You” .
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