“O GUETO acha que nos anos 90 é misturando que a gente inventa”. A frase da música “G.U.E.T.O” resume o som da banda paulista de forma perfeita. Pois eis que após um longo período sabático, o grupo está retomando as suas atividades. Essa volta será celebrada com um show no Sesc Belenzinho, em São Paulo, na próxima sexta-feira (11).
Antes desse retorno, a banda havia se reunido em algumas raras ocasiões nos últimos anos. Só agora, porém, o quarteto decidiu voltar de forma definitiva e com sua formação original. “Já havíamos feito um show em 2004 no Sesc Ipiranga com a formação original e também uma apresentação em uma festa particular no Centro Cultural Rio Verde. Muitos amigos e fãs sempre nos pediam para que a banda voltasse”, conta o baterista do GUETO, Edson X.
O retorno aos palcos
A relação entre os integrantes de uma banda sempre é comparada a um casamento. Existem momentos de alegria, tristeza, brigas e separações. Edson conta que, nesse retorno, a química entre o quarteto precisou ser “reavivada”, mas aconteceu. “Tentar lembrar de tudo e reviver a nossa química não foi tão simples, esse processo de pegar o que temos de mais importante ao longo da nossa carreira e colocar no repertório. Podemos dizer que no último ensaio na quinta-feira passada (27), nós já conseguimos essa química e o nosso jeito de tocar voltou. Agora só falta a experiência dos shows”, revela.
A história
Julio Cesar (vocal), Edson X (bateria), Marcola (baixo) e Márcio (guitarra), estiveram juntos de 1986 a 1992. Julio deixou a banda em 1993, sendo substituído por Tom Neto. Na ocasião, o grupo mudou a grafia de seu nome, passando a se chamar Guetho. Essa formação durou até 1999 e rendeu o álbum “Tremeterra” (1997). A partir desse momento, a vida pessoal de cada um dos integrantes passou a ser a prioridade. “Depois fomos cuidar da vida familiar. Eu tive um filho, o Marcos trabalha com a família, o Marcio também cuida de assuntos da família e o JC depois de ter trabalhado o seu próprio som, começou fazer versões de música pop com uma banda que atua na noite de São Paulo”, conta Edson.
Peso e suingue
A química entre os integrantes do grupo sempre chamou muito a atenção. O som do quarteto sempre foi coeso e a explicação é que esse entrosamento já estava sendo desenvolvido antes do GUETO. “Trabalhamos direto durante quase 15 anos, pois teve uma parte embrionária da banda que vale como uma base importante para o som. Isso vem da experiência do trio baixo, bateria e guitarra que desde 1982 fazia a música ao vivo na performance ‘Grafite Efêmero’, do Theo Werneck. Ali testamos muitas vertentes musicais sem preconceitos e o conceito mântrico e hipnótico foi muito importante”, diz.
Dois clássicos do rock nacional
Logo no início de sua carreira, o GUETO conseguiu lançar dois álbuns que fazem parte da discografia essencial do rock nacional. “Estação Primeira” (1987) traz músicas como “Esse Homem É Você” e “A Mesma Dor”, que passaram a fazer parte das programações de rádios por todo o país. O cuidado na produção do disco foi determinante para esse sucesso. “Nós tivemos tudo: orçamento, dois produtores que foram o Pena Schmidt e o Geraldo D’arbilly, grandes participações especiais e tempo para pesquisa tecnológica. Acho que o ‘Estação Primeira’ é um álbum importante no conceito de produção e de conceito pop criativo para a época”, analisa Edson.
O segundo disco, “E Agora Para Dançar?” (1989) manteve a banda em evidência e acrescentou mais suingue às composições do quarteto. “Tentamos nos aproximar do mercado fonográfico que estava concentrado no Rio de Janeiro. Tivemos uma verba reduzida e o trabalho no estúdio foi captado de forma mais crua, como se fosse o som da banda nos ensaios, o inverso do anterior”, explica.
O caldeirão sonoro
O GUETO foi um dos precursores em misturar rock, funk, rap e outros ritmos. O som da banda vai facilmente do peso ao samba, sem nenhuma dificuldade. Edson acredita que o quarteto apenas absorveu essas influências. “Sabemos que tudo que se fez merece respeito, como diz a letra do Arnaldo Antunes em parceria com o GUETO. Não inventamos nada, apenas estamos com as antenas ligadas no que acontece nos guetos de todo esse mundo globalizado, onde as influências se fundem e a música se transforma”, analisa.
Porém, se não fosse o talento do grupo, esses ingredientes não se fundiriam perfeitamente. “Colocamos tudo de forma simples e dançante, tribal e hipnótica, com letras diretas e sem esquecer a nossa origem. Somos brasileiros, paulistas da zona norte que agora apontam as antenas para o universo”, afirma Edson.
Estação Primeira
Por uma feliz coincidência, a mais importante rádio da história do FM curitibano ostentava o nome do primeiro álbum do GUETO. A Estação Primeira, que esteve no ar entre 1986 e 1995, é até hoje considerada uma “lenda” entre os fãs dos bons sons. Edson afirma que a capital paranaense faz parte da história da banda. “Curitiba sempre foi a segunda cidade do GUETO. Os shows aí sempre foram muito bons e nós estamos ansiosos para voltar. Não sabemos como será a reação, pois na época tínhamos o público, a rádio Estação Primeira e também a divulgação da WEA. Acho que o nome da emissora foi inspirado no conceito de uma rádio que toca tudo o que você gostaria de ouvir”, explica.
Os novos tempos
O mercado musical atual é muito diferente, em comparação com a realidade dos anos 1980/90, no começo da banda. A internet, principalmente, mudou a maneira de se consumir música. Porém, mesmo durante esse período de mudanças e incertezas, os fãs continuaram a citar o grupo como um dos mais importantes da história do rock nacional. Edson acredita que o público do GUETO manteve vivo o nome do quarteto durante todos esses anos. “Hoje é muito diferente. Se temos alguma coisa agora é devido aos fãs e amigos da banda, que nos respeitam, e também à mídia que de certa forma mostra o nosso trabalho”, afirma.
Nada mais justo em se tratando de um grupo que foi importantíssimo para que o rock tupiniquim incorporasse outras influências, com criatividade e personalidade. “Mesmo não tendo um sucesso comercial, nós conseguimos respeito e várias matérias legais falando que estávamos à frente do tempo e somos atuais até hoje, e isso nos faz ter vontade de seguir e compor novos sons”, complementa.
Com a volta do GUETO aos palcos, a pergunta de todo fã é: existe a possibilidade de a banda lançar um novo álbum de inéditas? “Existe sim, mas vai depender dos shows, dessa volta e da organização entre ensaios, pré-produção, comprometimento e atitude. Por enquanto o clima está muito positivo”, revela.
Edson X faz questão de citar a importância do dono da loja/gravadora Baratos Afins, de São Paulo, que foi o articulador desse retorno aos palcos. “Estamos prontos para tocar em Curitiba e pelo Brasil. O grande responsável por essa volta é o Luiz Calanca, da Baratos e Afins aqui de São Paulo”, finaliza.
Em uma época onde o talento e os bons sons são cada vez mais escassos no Brasil, a volta do GUETO é um alento para aqueles que gostam da música como arte, e não como um simples comércio.
Confira uma apresentação do GUETO no antigo programa Boca Livre, da TV Cultura.
Foi uma puta banda.
Ainda tenho os dois primeiros L`s.
Mas ainda acho a UMA ESTÓRIA o melhor som deles.
Notícia muito boa.
Assisti a vários shows desse grupo no Aeroanta e no Dama Xoc.
Tenho os dois primeiros LPs e tive a sorte de adquirir o CD do Estação Primeira.
Os discos são muito bons, mas ao vivo os caras se superavam.
Além disso, tinha os bônus com versões de Talking Heads e Smokey Robinson.
Também concordo que Uma Estória é o melhor som.