Texto: Marcos Anubis
Fotos: Divulgação e Stefanie Telles
O músico gaúcho se apresenta neste sábado (2) no Jockey Eventos, dentro da programação do Blues Jazz Brasil Festival
O Rio Grande do Sul é um celeiro de grandes artistas dos mais diversos estilos musicais. No mundo do Rock/Pop, por exemplo, de lá vieram os Engenheiros do Hawaii, o Defalla, os Garotos da Rua, o TNT e Nei Lisboa.
Nessa extensa lista de talentos, poucos tiveram uma trajetória tão inovadora dentro do segmento do qual fazem parte quando o gaiteiro Renato Borghetti. Afinal, apesar de ter as raízes muito fincadas na música gaúcha, ele incorporou influências dos mais variados artistas nacionais e internacionais.
Renato Borguetti se apresenta neste sábado (2) no Blues Jazz Brasil, que será realizado no Jockey Eventos, em Curitiba. Além dele, o evento também terá shows de artistas nacionais, entre eles, o violonista Yamandu Costa e o multi-instrumentista curitibano Hélio Brandão, além da cantora estadunidense de Blues Tia Carrol.
Raízes sem amarras
Renato Borghetti foi criado desde a infância no ambiente dos chamados CTGs (Centro de Tradições Gaúchas).
Porém, apesar dessas fortes raízes regionais, nos álbuns que ele lançou em quase quatro décadas de trajetória artística, as influências de outros estilos sempre estiveram presentes. “Eu tenho essa música como base, mas eu sempre procurei mostrar as influências que eu recebo. Eu acho que, com a cabeça aberta, é muito bonito a gente beber nessas fontes também”, diz Renato Borghetti.
Essa troca de experiências com outros estilos começou logo nos primeiros passos, quando já em 1985, Renato lançou o segundo álbum solo, autointitulado, que contou com a participação do multi-instrumentista Sivuca.
Oito anos depois, em 1993, o músico gaúcho gravou o álbum “Renato Borghetti E Hermeto Pascoal”, ao lado do “Bruxo”, um dos gênios da música brasileira.
Com essas atitudes, Borghetti derrubou muitas barreiras da música brasileira porque, nos anos 1980/90, as matérias que saíam nas TVs e revistas de música da época falavam essencialmente de Rock.
Entretanto, aos poucos, Renato foi conquistando espaço nesses veículos e passou a figurar ao lado das bandas e artistas de Rock daquele período.
Essa nova realidade representou uma quebra de paradigmas, no sentido de que, naquele tempo, a guitarra era a protagonista no mundo da música.
Nessa esteira, vieram outros nomes que faziam uma música que não se prendia só a um estilo específico. Entre eles, estavam os cariocas do Picassos Falsos, que misturaram Samba e Rock principalmente no álbum “Supercarioca” (1988), e na década seguinte, os Raimundos com o Forró/Punk/Hardcore e o Chico Science & Nação Zumbi com a Manguebeat.
A importância dos festivais gratuitos
Festivais gratuitos são uma grande oportunidade para apresentar ao público outras cenas que não fazem parte do dia a dia das TVs e emissoras de rádio.
Afinal, uma parcela significativa das pessoas que acompanharão os shows no Jockey Eventos certamente não está acostumada com a Música Instrumental, o Blues, ou o Jazz porque esses estilos não fazem parte da realidade musical de cada uma delas.
Dessa maneira, eventos como o Blues Jazz Brasil também servem para criar uma geração de novos ouvintes. “É muito importante! As pessoas talvez associem esse tipo de música aos teatros, então é maravilhoso ter a oportunidade de levar a música a um espaço aberto e amplo”, diz.
Ao mesmo tempo, para os músicos, o festival também oferece uma conexão muito diferente com os fãs, justamente por se tratar de um tipo de show mais visceral. “É um pouco mais ‘barulhento’, mas a gente se aproveita desse bom barulho, dessa forma de manifestação de um grupo grande em um espaço aberto. A gente consegue colocar uma pressão maior na música e isso é muito legal. Eu gosto muito!”, analisa.
O projeto Fábrica de Gaiteiros
Um dos grandes legados que Borghetti construiu nas últimas duas décadas é o projeto Fábrica de Gaiteiros, que tem como sede a cidade de Barra do Ribeiro, no interior do Rio Grande do Sul.
O projeto começou a tomar forma em 2008, quando Borguetti percebeu que praticamente não existia mais fabricação de gaitas no Brasil. “Nós chegamos a ter 40 fábricas no país, mas elas foram fechando até chegar a um momento no qual não existia mais nenhuma”, conta.
Basicamente, o objetivo da Fábrica de Gaiteiros é fabricar gaitas para serem utilizadas em aulas oferecidas gratuitamente a crianças entre 7 e 15 anos de idade. “Eles têm o momento de aula com os professores e também podem levar a gaita para casa e estudar sem precisar comprar. Para muitos, a gaita tem um custo um pouco alto, então a gente faz essa apresentação do instrumento para a criança”, diz.
Atualmente, o projeto tem aproximadamente 500 alunos em 17 escolas divididas nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e também duas no Uruguai. “É o meu projeto de vida!”, afirma.
O eterno respeito pela cultura gaúcha
Poucos estados no Brasil valorizam tanto cultura local quanto o Rio Grande do Sul. Isso faz com que automaticamente, o gaúcho faça questão de exaltar a cena da qual faz parte. Esse orgulho se reflete nas tradições centenárias, como o chimarrão e o churrasco, e também em relação aos times de futebol e as artes.
Na música, essa postura não é diferente, mesmo que ainda exista quem duvide do alcance das bandas e artistas do Sul. “Desde que eu comecei a tocar, eu escuto as pessoas falarem que ‘a música gaúcha não passa do Mampituba’, o rio que fica na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. Eu vejo de maneira diferente, acho que ela sai de uma jeito interessante”, opina.
Nessa questão, Borghetti pode falar com propriedade porque ele é um dos artistas brasileiros que mais fazem turnês internacionais. Nessas andanças pelo mundo, Renato percebeu que, ao ouvir a palavra Brasil, os estrangeiros imediatamente associam a música brasileira ao Samba.
Porém, existem várias cenas musicais diferentes no Brasil e elas vêm se consolidando fortemente no exterior nas últimas décadas.
Três grande exemplos disso tem a ver com o protagonismo de bandas como o o Sepultura, no Heavy Metal, os também gaúchos do Krisiun, no Death Metal, e a música do próprio Borguetti.
Dessa maneira, a percepção limitada de que só existem sambistas no Brasil vem sendo corrigida. “Hoje, com a informação mais rápida e abrangente, as pessoas sabem que o Brasil é muito grande e que existem outros ‘Brasis’. Eu procuro mostrar que, na terra de onde venho, faz frio, às vezes neva, se produz vinho, e ela é tão brasileira quanto o Brasil tropical que é mais conhecido. Nenhum estilo é melhor do que o outro. Eu sou fã de Samba, do Forró, e acho que tudo isso é um grande Brasil muito bonito”, conta.
A volta após o período mais pesado da pandemia
Nesses dois anos de isolamento por causa da pandemia, a música, a arte e a cultura foram algumas das ferramentas mais utilizadas por quase todas as pessoas para amenizar esse período tão difícil pelo qual o mundo todo passou.
Afinal, o ato de ouvir uma música ou ler um livro foram essenciais para que cada um de nós conseguisse manter minimamente a nossa sanidade.
Para os artistas, além dos cuidados que foram necessários para minimizar os riscos de contrair a doença, essa separação abrupta dos palcos e do público foi um peso quase impossível de suportar. “A gente sabe que essa relação com o público é importante, mas acho que a pandemia deixou ainda mais clara essa necessidade de ficar junto com a plateia que todo artista tem. Por isso, a gente tem que aproveitar momentos como esse que o Blues Jazz Brasil está nos proporcionando”, diz.
Jornada dupla em Curitiba e a possibilidade de uma surpresa no festival
Nessa quinta-feira (30), Renato Borghetti participou da abertura da 39ª edição da Oficina de Música de Curitiba, que aconteceu no Teatro Guaíra.
A capital paranaense, aliás, está presente na vida de Borghetti desde o início da trajetória dele, o que fez com que o músico criasse uma conexão muito forte com cidade. “Eu nasci em Porto Alegre, mas eu acho que as duas cidades tem algumas coisas muito parecidas. Eu acho bárbara a cidade de Curitiba!”, elogia.
Além de fazer dois shows em um curto espaço de três dias na cidade que tanto gosta, no Blues Jazz Brasil, Borguetti terá a oportunidade de reencontrar o violonista gaúcho Yamandu Costa, com quem mantém uma relação musical e de amizade muito próxima.
Essa conexão rendeu, inclusive, a gravação do CD/DVD “Borghetti Yamandu” (2017), que foi indicado ao Grammy Latino daquele ano.
Neste fim de semana, como o destino colocou os dois amigos lado a lado no mesmo festival, a possibilidade de uma jam session para presentear o público que estará no evento é muito forte. “O Yamandu está morando um pouco longe (em Portugal), então, quando ele vem para o lado de cá, a gente tem que matar a saudade. Com certeza, a gente deve fazer alguma coisa juntos!”, finaliza Renato Borghetti.
Confira a programação dos shows do Blues Jazz Brasil Festival:
11h – Orleans Street Jazz Band
11h30 – Hélio Brandão
12h30 – Renato Borghetti
13h30 – Escalandrum
15h30 – Isabela Morais Due Fole
15h15 – O Bando Rock & Blues
16h15 – Yamandu Costa convida Filipe Moreno e Fábio Perón
17h30 – Tia Carroll e Igor Prado & Just Groove
Os shows começam às 11h e vão até às 19h. A classificação etária é livre e a entrada é gratuita. O Jockey Eventos fica na Rua Dino Bertoldi, nº 740, no Tarumã.
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