O tecladista conversou com o Cwb Live para falar sobre o show do Dire Straits Legacy, que acontece nesta quarta-feira (3), no Teatro Positivo

A banda Dire Straits Legacy se apresenta nesta quarta-feira (3), no Teatro Positivo, em Curitiba. O grupo, formado por Phil Palmer e Jack Sonni (guitarras), Marco Caviglia (voz e guitarra), John Giblin (baixo), Primiano Dibiase e Alan Clark (teclados), Mel Collins (sax), Danny Cummings (percussão e voz) e Cristiano Micalizzi (bateria), foi criado para manter viva a história do lendário grupo britânico Dire Straits.

Essa é a terceira vez que a banda vem a Curitiba (as anteriores foram em 2019 e 2022) e, desta vez, o show na capital paranaense também será a estreia da turnê que o grupo fará neste ano por todo o mundo. “Curitiba é uma de nossas cidades preferidas!”, afirma o tecladista Alan Clark, que fez parte do grupo de 1980 a 1995 e gravou um dos álbuns mais importantes da história da música, o lendário “Brothers in Arms” (1985).

Obviamente, na visão dos fãs, a ausência do guitarrista e vocalista Mark Knopfler é muito pesada, mas, apesar disso, não há como negar que o grupo conta com vários músicos importantes que fizeram parte da trajetória do Dire Straits. “Tudo começou como um pouco de diversão em uma montanha no norte da Itália. Na época, éramos apenas eu, o John Illsley (ex-baixista do Dire Straits) e o Marco (Caviglia). Porém, gradualmente, tudo se tornou mais sério quando outros membros da banda se juntaram a nós”, diz.

Brothers in arms

Nos anos 1980, foram lançados alguns dos álbuns mais fantásticos da história da música, entre eles, estão “Purple Rain” (1984), do estadunidense Prince, e “The Joshua Tree” (1987), dos irlandeses do U2.

A lista é enorme, mas um dos discos que não podem faltar na retrospectiva dessa fase de ouro da música mundial é o álbum “Brothers in Arms” (1985), que é a grande obra-prima da discografia do Dire Straits.

A fama é justificada, afinal, o que dizer de um trabalho do qual quase todas as músicas, entre elas, “Walk of life”, “Your latest trick” e “ Money for nothing”, fizeram parte da programação nas rádios brasileiras da época?

Obviamente, naquele período, ninguém na banda imaginava que o álbum alcançaria tamanha repercussão. Porém, ainda na fase de gravação, uma das canções já tinha chamado a atenção do grupo de uma maneira diferente. “Não sabíamos que o disco seria bem sucedido, mas a ‘Money for nothing’ sempre esteve destinada a ser um grande sucesso por causa do riff de guitarra, que reconhecemos como um dos maiores de todos os tempos”, conta.

Apesar de não terem ideia do que viria a seguir, toda a banda se esforçou realmente para criar um álbum que marcasse a história do Dire Straits. O resultado, entretanto, foi muito além do que eles esperavam.

Clark, por exemplo, criou texturas de teclado belíssimas para todas as canções durante o processo de pré-produção, mas na faixa-título o tecladista realmente se superou, pois é o trabalho dele que conduz toda a atmosfera da música.

O surpreendente é que, apesar da beleza dessa canção, ela nasceu durante um dos conflitos mais sangrentos e sem sentido que foram travados após a Segunda Guerra Mundial. “Ela foi escrita durante e sobre a Guerra das Malvinas, com a Argentina. Estávamos em Nova York gravando o disco ‘Love Over Gold’, na época “, conta.

A Guerra das Malvinas foi um conflito travado em 1982 entre o Reino Unido e a Argentina pela posse das ilhas Falkland (ou Malvinas), um arquipélago de 11.718 quilômetros quadrados de superfície que fica situado a aproximadamente 500 quilômetros da costa do país sul-americano.

Essa região é ocupada pelos britânicos desde o século XIX e se manteve assim mesmo diante do processo de descolonização que aconteceu após o fim da Segunda Guerra.

A disputa, que aconteceu quando a ditadura argentina, comandada pelo general Galtieri, tentou recuperar as ilhas, durou dois meses e terminou com 907 mortes, sendo 649 soldados argentinos, 255 britânicos e três civis.

As primeiras ideias da música surgiram ainda em 1982, três anos antes do lançamento, a partir de algumas bases e esboços de letras criados por Knopfler. “Como a maioria das músicas de Mark, ele tocou para mim em um violão, eu trabalhei nas partes básicas do teclado e todos encontraram sua maneira de tocar. Sempre passamos muito tempo ensaiando, então, tínhamos uma boa ideia de como as músicas deveriam ser antes de chegarmos ao estúdio”, revela.

“Brothers in arms” também ganhou um videoclipe, criado por iniciativa da gravadora Warner, que se tornou um marco na história dos vídeos. Afinal, por causa da pouca tecnologia de edição que estava disponível naquele momento, a ideia de utilizar um efeito que transformava as imagens em rascunhos feitos por lápis acabou revolucionando o mundo das artes visuais.

Mesmo com toda essa repercussão que o disco alcançou no Brasil, o Dire Straits não chegou a fazer shows por aqui na turnê de divulgação do álbum “Brothers in Arms”, o que torna as vindas do grupo ao país nesses últimos anos ainda mais especiais. “É bom estar aqui, finalmente!”, afirma.

Os míticos anos 1980

É difícil explicar os motivos que transformaram a década de 1980 em um celeiro de bandas criativas, dentro dos mais diversos estilos musicais, e que se tornaram gigantes nas décadas seguintes.

Entretanto, um dos fatores que contribuíam para esse cenário era a própria concorrência acirradíssima que levava os músicos se aprimorarem tecnicamente e intelectualmente para que pudessem “bater de frente” uns os outros.

O Dire Straits, por exemplo, estava no auge no mesmo período no qual outras bandas e artistas, entre eles, The Police, David Bowie, Queen e Simple Minds também estavam lotando estádios em todo o mundo. “Foi uma época de ouro, mas as eras da música vêm e vão com as gerações. Houve um tempo de ouro antes dele e há um tempo de ouro depois dele”, analisa.

Mesmo assim, ao que parece, a convivência entre esses grupos não era tão próxima quanto se pode imaginar. “Ocasionalmente, nós tínhamos a oportunidade de fazer shows com outras bandas, como no Live Aid, e isso sempre era bom. Porém, na maioria das vezes, nós vivíamos em uma bolha criada por nós mesmos”, diz.

O Dire Straits gravou “apenas” seis álbuns de estúdio, o que é um número até baixo para uma banda que esteve em atividade durante 18 anos: “Dire Straits” (1978), “Communiqué” (1979), “Making Movies” (1980), “Love Over Gold” (1982), “Brothers in Arms” (1985) e “On Every Street” (1991).

Mesmo assim, Mark Knopfler, Alan Clark e companhia conquistaram um lugar na história, que está garantido até hoje.

Guitar hero

Apesar de sempre contar com músicos excelentes nas diversas formações que a banda teve, muito da mística que o Dire Straits mantém até hoje vem do guitar hero Mark Knopfler.

Afinal, ele está entre os grandes guitarristas da história do Rock por causa da facilidade para criar riffs marcantes e por uma peculiaridade: Knopfler é um dos poucos que não usa palheta para tocar.

Na verdade, ele criou uma maneira toda pessoal de manusear a guitarra, na qual o polegar é usado para tocar as cordas graves e todos os dedos restantes da mão esquerda de Mark se encarregam de fazer os solos e bases das canções.

Desde o fim do Dire Straits, em 1995, Mark Knopfler passou a se dedicar a carreira solo e a compor trilhas sonoras. Por isso, ao que parece, uma reunião da formação clássica do grupo, ao menos por enquanto, não está em pauta. “Já faz um tempo desde que falei pela última vez com o Mark, mas sei que ele entende que a música dele está em ótimas mãos, como sempre esteve. Ele saiu do Dire Straits e não está interessado em reformar a banda. Eu tenho trabalhado com ele ocasionalmente desde então”, conta.

Outros projetos

Além da bem sucedida trajetória com o Dire Straits, Alan Clark já participou de vários projetos ao lado de outros artistas.

No início da carreira, por exemplo, Clark fez parte do Geordie, banda que contava com o futuro vocalista do AC/DC, Brian Johnson. “Nós tocamos juntos por cerca de um ano e foi divertido. Seguimos caminhos separados depois disso e foi bom saber que ele havia se juntado ao AC/DC. Recentemente, nós tocamos juntos em um show beneficente na cidade de Newcastle”, conta.

Outra parceria de grande sucesso firmada por Clark foi com a cantora estadunidense Tina Turner, em 1984. Nessa fase, o tecladista fez os arranjos de “Private Dancer” que, talvez, seja a canção mais conhecida da trajetória de Tina.

O que poucos sabem é que a música foi composta por Mark Knopfler para ser gravada pelo Dire Straits, mas foi deixada de lado pela banda e acabou sendo adaptada para a versão de Tina Turner.

A parceria deu tão certo que, depois do lançamento do álbum “Private Dancer” (1984), Clark acabou se juntando à banda da cantora para fazer alguns shows nos EUA. “A Tina e eu nos conhecemos durante a gravação dessa música e ela me perguntou se eu faria uma turnê pelos Estados Unidos com ela. O Dire Straits estava fazendo uma pausa de quatro anos após a turnê do ‘Brothers in Arms’, então, eu me juntei a ela por seis semanas para fazer a direção musical, durante o período no qual o disco ‘Private Dancer’ alcançou o primeiro lugar nos Estados Unidos e em todo o mundo, o que foi legal”, diz.

Depois disso, Clark entrou para a banda de Eric Clapton, com o qual gravou o álbum “Journeyman” (1989), mas permaneceu como diretor musical de Turner. “Ajudei a renovar a banda da Tina e, ocasionalmente, toquei em alguns shows quando ela precisava de mim”, conta.

Em relação à música brasileira, o tecladista demonstra admiração e respeito, mas não possui um contato mais direto. “Eu amo a música brasileira, mas não conheço os artistas. Um dos meus álbuns favoritos é o “Brasileiro” (1992), do Sérgio Mendes”, diz.

O show do Dire Straits Legacy em Curitiba é uma grande oportunidade para os fãs ouvirem os grandes clássicos da banda britânica. Alguns foram compostos há mais de 30 anos, mas continuam atuais, o que é uma característica das grandes canções. Confira neste link todas as informações sobre a apresentação.

Hoje, 46 anos após o início do Dire Straits, o tecladista garante que aquele friozinho na barriga que precede a emoção de estar no palco novamente ainda permanece o mesmo. “É claro! A música tem tudo a ver com emoção, com a maneira que as pessoas reagem a ela, e é por esse motivo que eu faço isso”, finaliza Alan Clark.

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