O Álbuns Clássicos de hoje traz o músico Luciano Cardoso falando sobre o disco “Ultra”, da banda inglesa Depeche Mode.
Lançado em 14 de Abril de 1997, o 9º trabalho de estúdio do grupo foi cercado de problemas. O tecladista Alan Wilder tinha acabado de se retirar da banda, o vocalista Dave Gahan tinha tentado se suicidar e o guitarrista Martin Gore vinha sofrendo convulsões, seguidamente. Foi nesse clima soturno que “Ultra” foi concebido.
A produção ficou a cargo de Tim Simenon, fã declarado do grupo e criador da one man band Bomb The Bass. O disco teve a participação de outros músicos, fato inédito na carreira do Depeche Mode. “Pela primeira vez a banda trabalhava com colaboradores. Alguns estão até hoje com eles, como o baterista Christian Eigner”, diz Luciano.
Durante as gravações, o vocalista Dave Gahan teve uma overdose e foi declarado clinicamente morto. Naquele momento, só a faixa “Sister Of Night” havia sido gravada. Por conta de tantos problemas, “Ultra” demorou quase um ano e meio para ficar pronto. Após a recuperação do vocalista e o término do álbum, a banda e a gravadora decidiram não fazer uma turnê de divulgação do disco para não expor ao público a saúde fragilizada de Gahan.
Destaques
Luciano escolhe duas músicas como as suas favoritas do álbum. A primeira é “It’s No Good”. Com sua levada hipnótica, a canção resume bem o que é o synthpop do Depeche Mode. “É uma faixa com synths abusados, viajantes. Ela tem uma batida irresistível e uma letra cínica. Funciona na pista, no palco, nos fones, na rua, na chuva e em uma casinha de sapê”, brinca.
A segunda é “The Botton Line”, cantada pelo multi-instrumentista Martin Gore. “Ela é de uma beleza sublime, com uma melodia rica e vocais poderosos. É uma balada forte e sincera, com uma letra que prega a esperança e o desapego”, analisa.
A influência
Luciano, que hoje tem mais de 50 itens da banda, entre CDs, LPs, MP3 e vídeos, descobriu o Depeche Mode no começo dos anos 1990, quando as rádios tocavam sem parar a sequência de sucessos que o grupo já acumulava, na época. “Era a fase dos grandes hits radiofônicos com ‘Enjoy The Silence’, ‘Strangelove’ e ‘Just Can’t Get Enough’, entre outras. Era impossível a banda passar despercebida”, relembra.
“Ultra” foi uma espécie de “despertar” na vida musical de Luciano. As influências sonoras do disco o acompanham até hoje na sua vida pessoal e como instrumentista. “Foi por causa deste álbum que eu descobri que a música eletrônica pode, sim, ser pesada, rock, punk, direta, agressiva e dançante. Eu ouvi muito com a minha primeira esposa, na época do lançamento. Esse tipo de coisa marca. Ele é sombrio e pesado, mas com muita esperança” diz.
De acordo com o fã, o álbum foi, ao mesmo tempo, a morte, a ressureição e a consagração do trio inglês. “Com a saída do tecladista Alan Wilder, em 1995, a banda ficou perdida, durante algum tempo. Muitos não acreditavam que eles voltariam, mas retornaram como um sucesso de crítica e público”, analisa.
Entre 2008 e 2011, Luciano teve uma banda cover do Depeche, chamada HOTU. Esse contato maior com a sua fonte de inspiração musical consolidou, definitivamente, a sua paixão pelo synthpop. “Isso fez com que eu conhecesse de forma mais profissional o trabalho deles e me ajudou a desenvolver minha própria musicalidade. Sou grato à banda e toda a sua história musical. É a trilha sonora da minha vida”, finaliza.
A grande frustração de Luciano é ainda não ter visto o Depeche, ao vivo. Isso pode acontecer ainda neste ano. “Em 1994 eu era menor de idade e meu pai não me deixou ir. Em 2009 cancelaram o show no Brasil. Eu iria para a Argentina, já estava com as passagens e ingressos comprados. Acabei não indo porque minha filha tinha uma apresentação de ballet no Teatro Guaíra, na mesma noite. Mas agora, em 2014, eles vêm! E eu vou!”, finaliza Luciano.
Confira duas músicas do álbum “Ultra”, “It’s No Good” e “Barrel Of A Gun”.
Meu segundo álbum preferido do Depeche, atrás só de “Violator”. É uma mudança de sonoridade absurda em relação ao último trabalho (“Songs Of Faith And Devotion”, 1993) – muito por causa da produção de Tim Simenon: limpa, encorpada, precisa. O disco soa orgânico (“Home”), visceral (“Barrel Of A Gun”) e sintético (“It’s No Good”), ao mesmo tempo. Torço pro Simenon trabalhar de novo com o Depeche, ele entendeu muito bem o que significa fundir, inovar e arriscar, sem perder a essência da banda.
Boa Carlinhos! Falou tudo!