A banda curitibana acaba de lançar o álbum “Written By The Devil”, pela Metal Army Records
Atualmente, no Brasil, o som extremo tem um cenário forte e consolidado. Algumas bandas, inclusive, conseguiram conquistar espaço no circuito de festivais e shows da Europa.
Porém, para que essa realidade fosse possível, alguns grupos precisaram abrir caminho no início dos anos 1990, em uma época na qual os vocais guturais e as guitarras dissonantes ainda não estavam em evidência.
Uma das principais pioneiras nessa luta hercúlea foi a banda curitibana Amen Corner, um dos primeiros grupos de Black Metal do Brasil.
Paulista (vocal), Tito “Murmúrio” e Mane Flach (guitarra), Fabrício Domingues (baixo) e Paulo Costa (bateria) montaram o Amen Corner em 1992 e, rapidamente, conseguiram conquistar um espaço na cena curitibana. “No início, não foi tão difícil, pois o nosso estilo era bem diferente do que rolava na cidade. Na época, nós acabamos surpreendendo os headbangers com um estilo diabólico e uma pegada musical com muito peso e agressividade, em uma mistura de Black Metal e Death Metal. Tudo foi muito rápido e, em pouco tempo, nós já estávamos com um compacto gravado e tocando em outros estados”, conta o vocalista.
Musicalmente, o Amen Corner tinha como base as grandes bandas do som extremo da época, entre elas os ingleses Venom e Bolt Thrower e os suíços do Celtic Frost.
O mais impressionante é que o grupo surgiu na capital paranaense, uma cidade que vive um contraste eterno entre a inovação em algumas questões urbanas e a mentalidade extremamente conservadora de boa parte da população e do poder público em relação à cultura local.
Escrito pelo demônio
A formação atual do Amen Corner conta com Sucoth Benoth “Paulista” (vocal), Tito “Murmúrio” (guitarra), Fernando Grommtt (baixo) e Tenebrae Aarseth (bateria).
Nessas mais de três décadas, o grupo lançou dois discos que fazem parte da discografia básica do som extremo brasileiro e são cultuados até hoje: “Fall, Ascension, Domination” (1994) e “Jachol Ve Tehilá” (1995).
A discografia da banda, além de diversos singles, EPs e demo-tapes, também conta com os álbuns “Lucification” (2007), “Leviathan Destroyer” (2010), “Christ Worldwide Corporation” (2014) e “Under The Whip And The Crown” (2018).
Em junho, o Amen Corner incluiu mais um trabalho nessa lista, o álbum “Written By The Devil”, que está sendo lançado pela Metal Army Records, selo curitibano criado pelo músico e produtor musical Tersis Zonato (ex-Axecuter e Archityrants, atualmente no Offal e na one man band Lutemkrat) em parceria com o diretor comercial Igor “Void” e que vem se destacando no cenário fonográfico nacional. “A Metal Army deu todo o suporte para a gravação do novo disco. Além disso, o fato de ser um selo paranaense e o Tersis ser um amigo nosso, aqui de Curitiba, facilita bastante”, explica Paulista.
Nos últimos anos, a Metal Army tem feito um trabalho fantástico tanto com álbuns inéditos quanto no resgate de CDs de bandas que estavam fora de catálogo.
Entre os relançamentos estão “Empire Of No Emperor” (2017), da Hecatomb, “Legacy” (2024), do Eternal Sorrow, além do inédito “The Code Of The Illumination Theory” (2017), do Archityrants.
Além da parte musical, a Metal Army também se destaca por sempre trabalhar de maneira muito caprichosa as artes que envolvem os lançamentos do selo (capas, encartes, posters e outros materiais).
Por causa de todo esse envolvimento que a Metal Army tem com as bandas parceiras,”Written By The Devil” está rendendo muitos frutos para o Amen Corner, justamente, porque a relação de respeito entre as duas partes já existia antes da gravação do novo álbum do grupo. “É o primeiro selo que realmente investiu bastante na banda. Inclusive, pela primeira vez, o nosso trabalho está sendo colocado no cenário internacional por meio de um licenciamento do disco para a Hammerheart Records, da Holanda. Agora, estamos crescendo e sendo mais conhecidos em todo o mundo”, diz o vocalista.
Essa afirmação retrata bem a importância do trabalho da Metal Army dentro do cenário curitibano, afinal, o Amen Corner já fez parte, inclusive, do lendário selo Cogumelo Records, de Belo Horizonte.
“Written by the Devil” começou a ser composto em 2020 e teve a participação de todos os integrantes da banda em cada uma das 12 faixas do álbum. “Fizemos aos poucos, sem pressa e com muita dedicação. O Tito criou as bases e os riffs, o Fernando também contribuiu muito e eu escrevi as letras. Depois, veio a ideia do Tito para a capa do disco e tudo foi se encaixando perfeitamente”, conta.
O álbum foi gravado no Beco Estúdio, do produtor Ivan Pellicciotti, com produção assinada em parceria pela equipe da Metal Army, a banda e o próprio Pellicciotti. “Resolvemos gravar com ele por ser um grande produtor musical. O resultado foi excelente e temos recebido críticas positivas de vários países”, complementa.
A capa do álbum foi criada pelo artista gráfico Marcus Miller, do estúdio Nausea Imagem, e todo o design, tanto do vinil quanto do CD, ficou a cargo de Tersis Zonato.
Rompendo barreiras
Além do pioneirismo musical dentro da cena Black/Death Metal, o Amen Corner também rompeu barreiras ao anunciar a baterista Tenebrae Aarseth, em 2018.
Afinal, ainda existem poucas mulheres tocando na cena brasileira de Metal extremo e isso faz com que a presença da instrumentista seja muito representativa nesse contexto que ainda é muito restrito. “Trabalhar com o Amen Corner tem sido uma experiência única. A bateria é um elemento essencial para o som da banda e contribuir para isso é algo que valorizo profundamente”, afirma Tenebrae.
A atitude do Amen Corner, assim como a coragem de desbravar novas sonoridades dentro da cena de Metal extremo brasileira, que marcou o início da trajetória do grupo, também é um passo à frente em um terreno no qual ainda há muito a se fazer não só no Brasil, mas em todo o mundo. “Para mim, é muito importante abrir as portas para outras mulheres, especialmente no contexto do Metal extremo e, mais especificamente, no Black Metal. Espero que, ao ver mais mulheres se destacando e participando ativamente, outras se sintam inspiradas a seguir seus próprios caminhos, seja tocando um instrumento ou apoiando a cena underground. A diversidade é fundamental para o crescimento do nosso cenário e me sinto honrada por fazer parte disso”, complementa a baterista.
Apesar de contar com uma base de fãs que acompanha a banda em todo o Brasil, em um reflexo direto do trabalho que o grupo manteve nesses 32 anos de vida, o Amen Corner também continua conquistando fãs mais jovens.
Um dos representantes dessa nova geração de músicos que foram influenciados pelo som do grupo é o baixista Fernando Grommtt (Imperious Malevolence e Chubasa), que faz parte da banda há quatro anos. “Ele entrou em 2020 e se firmou porque é um grande músico que toca com bastante energia e conseguiu trazer a agressividade do Death Metal para a nossa música. Estamos muito felizes e animados por tocar e compartilhar ideias com ele”, elogia Paulista.
Com a experiência de ter acompanhado todo o nascimento e a evolução do cenário Black/Death Metal no Brasil, poucas pessoas no país têm tanta capacidade quando o vocalista do Amen Corner para avaliar o que foi construído e o que ainda precisa ser modificado para que as bandas de Metal extremo consigam se estabelecer. “O cenário Black Metal nacional já foi melhor, nos anos 1990. Hoje, o público diminuiu consideravelmente, mas existem muitas bandas boas! É um estilo musical difícil no Brasil pelo fato de ser uma música também de ideologias bem diferentes de outros estilos do Metal”, analisa.
Porém, mesmo cientes de todas as mudanças pelas quais o Black Metal passou nas últimas décadas, principalmente, no Brasil, um fator parece incomodar a banda de uma maneira bem mais forte: o desrespeito em relação ao estilo como um todo. “Tem muita gente que não apoia e ainda por cima fala mal das bandas. São pessoas destrutivas e que, claramente, nem compram material, mas falam muita merda pela internet. Dificilmente você vê pessoas mais jovens entrando no estilo, não existe uma renovação, mas existem pessoas velhas, doentes e que não perdem a mania de falar mal dos grupos”, diz.
Assim, após passarem incólumes por tantas transformações vivenciadas no cenário do Metal brasileiro nas últimas décadas, acima de qualquer outro fator, a conexão com os fãs é o que ainda mantém a banda na ativa. “Existem muitas pessoas que nos apoiam, vão aos shows e compram material da banda. São eles que continuam impulsionando e inspirando o Amen Corner a seguir sempre em frente”, finaliza Paulista.
A versão brasileira de “Written By The Devil” vem em um slipcase e conta com uma bônus track exclusiva, uma versão da música “Destroyer of worlds”, do Bathory, gravada e produzida pelo músico e produtor curitibano Aly Fioren, do Funds House Studio.
Também foram disponibilizadas 300 cópias em vinil 180g, com encarte. Para os fãs mais ferrenhos, a Metal Army também confeccionou camisetas de manga curta (com impressão na parte da frente e nas costas) e longa (com impressão na parte da frente, nas costas e nas mangas).
“Written By The Devil” pode ser adquirido no site da Metal Army Records, na loja Let’s Rock (Praça Tiradentes, Galeria Pinheiro Lima, n.º 106, lojas 03 e 04, no Centro) e em diversos espaços especializados em som extremo por todo o Brasil.
Assista ao lyric video de “Signal from beyond”, faixa do novo álbum do Amen Corner.
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