Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Fotos: Divulgação
A mítica coletânea “Cemitério de Elefantes” (1989), que reuniu as bandas Beijo AA Força, Bons Garotos vão para o Inferno, Tessália, Pós-Meridion e Ídolos de Matinée é, até hoje, uma das referências na história da música curitibana. Agora, quase três décadas depois, Sergião Rodrigues (vocal e baixo) e Dinho Peruscello (guitarra e backing vocal), da banda curitibana Sete Sangria’s, resolveram seguir os passos daquela empreitada.
Para materializar a ideia, os dois criaram o selo Garageira Records e estão prestes a lançar a coletânea “Rock e Más Cias”. O CD está sendo gravado no estúdio Thunderhouse, em Colombo, e reúne oito bandas: Sete Sangria’s, Repossíveis, Fal 762 e Chico Balboa (Curitiba), Sr. Barão e Cáusticos (Araucária), The’s Arranjus (quatro Barras) e Bia Benik (São José dos Pinhais).
Diante das diificuldades encontradas pelas bandas independentes, Sergião e Dinho resolveram criar o selo com o objetivo de abrir espaço para esses artistas gravarem. “Já vínhamos pensando no selo há muitos anos, pois sempre acompanhamos todas as cenas independentes do Brasil. Temos visto que, a cada dia, mais bandas, artistas e coletivos fundam os seus próprios selos, pois dificilmente alguém do Rock e dos seus subgêneros tem conseguido entrar nas grandes gravadoras”, conta Dinho.
Boa parte das “diretrizes” que norteiam a Garageira Records veio do e-book “Indepêndencia ou Morte – Breve Guia para Produções Independentes”, escrito pelo guitarrista do Velhas Virgens, Alexandre Cavalo. “São dicas valiosas para quem está começando no show business. Ele conta que as gravadoras nunca se interessaram pelo trabalho do Velhas, então, eles fundaram o próprio selo. A gente sempre se espelhou muito na forma com que eles administram a carreira da banda. Há mais de uma década eles já trabalham assim com o selo Gabaju Records”, explica Dinho. “Temos outros exemplos, como os selos Balaclava Records, Monstro Discos, Risco, Honey Bomb Records e Crasso Records. Para tornar o Garageira Records viável, tivemos a ideia de oferecer as coletâneas com prestação de serviços a preços acessíveis por meio de parcerias com estúdios, distribuidoras e todos os elementos do ecossistema musical”, complementa.
Dentro de um conceito que visa dar visibilidade aos artistas, o CD também apresenta bandas da região metropolitana de Curitiba. A intenção do Garageira Records é fortalecer a cena musical de toda a região. “Em nossa concepção, a cena paranaense não se resume apenas à capital. Temos muitas bandas e artistas da região metropolitana e litoral vindo com bons trabalhos e com sede de mostrar que o rock paranaense está mais vivo do que nunca. Além disso, nesses municípios, existem casas de shows, pubs, teatros e espaços culturais com estruturas e condições melhores do que alguns lugares em que já circulamos na capital. A cena paranaense é riquíssima! As bandas e artistas, os lugares para apresentações, os estúdios para ensaios/gravações e os blogs/sites, tudo isso faz parte da cena. É necessário que isso seja mais bem explorado pelo público e também pelos artistas”, analisa Dinho.
Inicialmente, devido ao baixo orçamento, as faixas da coletânea serão disponibilizadas apenas nas plataformas de streaming. “É a forma mais viável de lançar e divulgar. Algumas bandas vão prensar CDs por conta própria para usar o material nos shows e redes sociais. Vamos disponibilizar a master para cada participante e ficará a critério de cada banda a produção do material fisico, afinal, esse formato é cada vez mais descartado pelo público, na nossa visão”, diz.
Além do trabalho na coletânea, Sergião e Dinho também acabam de lançar o segundo EP da Sete Sangria’s. “Queria ter ido a Woodstock” foi gravado no estúdio Clinica Pró-Music, com produção de Marcus “Coelho” Gusso e da própria banda. As seis faixas foram disponibilizadas nas principais plataformas de streaming e também no YouTube.
O show de lançamento da coletânea “Rock e Más Cias” acontece no Barracão do Rock, em Colombo, no dia 2 de junho.
Interessante. Tenho até hoje o vinil do Vampiros de Curitiba que foi lançado depois e que melhor mostrava a cena na cidade de Curitiba pois tinha mais bandas e estilos diversos. Curti muito a vibe da época “dark” e pós-punk da época, em muitos shows no finado Blues Bar. O Sérgio da Tripla Identidade era namorado de uma amiga minha e o Luciano da Tessália era programador na HM, onde eu trabalhava. Quem não foi no show do Jesus and Mary Chain no Círculo Militar? Animal! Pouco depois comecei a tocar em uma banda de Psychobilly chamada Playmobillys, também do underground, hoje cult, de Curitiba. Ótimos tempos!