O show no Teatro Positivo contou com a participação da banda curitibana Cigarras
No Brasil, há mais de 40 anos, a banda carioca Barão Vermelho é sinônimo de Rock’n’roll. Afinal, poucos grupos brasileiros conseguiram se manter fiéis às suas respectivas essências durante tanto tempo e de maneira tão sincera, mesmo com algumas mudanças na formação que poderiam ter acabado com a trajetória deles muito facilmente.
Nesse sábado (13), no Teatro Positivo, em Curitiba, o público curitibano teve a chance de passar uma noite se deleitando com alguns dos maiores clássicos que o Barão Vermelho gravou nos discos que eles lançaram e que, também, estão marcados na história da música nacional.
Rodrigo Suricato (vocal, violão e guitarra), Fernando Magalhães (guitarra), Maurício Barros (teclado e vocal), Márcio Alencar (baixo), e Guto Goffi (bateria) abriram o show simplesmente com “Por que a gente é assim” e “Bete balanço”.
O setlist do show foi uma viagem por praticamente todos os álbuns do Barão. Entre as canções escolhidas pela banda para o show em Curitiba, estiveram “Meus bons amigos”, do álbum “Carne Crua” (1993), e “Pedra, flor e espinho”, do disco “Supermercados da Vida” (1992).
A apresentação na capital paranaense foi a última da turnê “Barão 40”, que celebrou as quatro décadas de uma história forjada no Rock’n’roll e na poesia.
Aliás, a preocupação com a mensagem das composições sempre caminhou lado a lado com as estruturas musicais nas canções desde o início da trajetória do grupo carioca. “A MPB já veio das traduções literárias, então, o sarrafo do texto já era muito alto. A geração do Barão se inspirou nisso, de certa forma, trazendo uma certa irreverência, um discurso de rua, mas sempre com refinamento. A palavra tinha mais refinamento antes da coisa digital. Por isso que a gente vê tanta treta, hoje em dia. As pessoas não sabem se expressar. Antigamente, as pessoas escreviam cartas para se expressar! Imagine você expressar um sentimento em uma carta!”, analisou Rodrigo Suricato na coletiva que o grupo concedeu à imprensa antes do show.
Em “O tempo não para”, que foi um grande sucesso na voz de Cazuza, foram exibidos no telão alguns dados sobre os casos de AIDS no Brasil. Afinal, a doença continua ceifando vidas apesar de todo o avanço da ciência na criação de novos remédios e tratamentos.
Um dos momentos mais emocionantes do show aconteceu em “O poeta está vivo”, do álbum “Na Calada da Noite” (1990), quando o público curitibano teve a honra de ouvir e sentir na alma o magnífico solo, criado por Fernando Magalhães, que está entre as maiores pérolas do Rock brasileiro.
Depois de “Down em mim”, lançada em 1982 no álbum de estreia do Barão, Goffi chamou ao palco, com muito carinho, a banda curitibana Cigarras, que foi selecionada pelo próprio grupo carioca para participar do show na capital paranaense.
Na sequência, em uma atitude gigante de respeito, os integrantes do Barão tocaram junto com as Cigarras a música “Eu gosto de você, mas também gosto do bar”.
A faixa faz parte do álbum de estreia da banda de Curitiba, “Fumódromo” (2024″, lançado por meio dos selos Neves Records e Zoom Discos. É importante ressaltar que o grupo carioca fez questão de ouvir e tirar a canção das curitibanas.
Maria Paraguaya (guitarra e vocal), Tais D’Albuquerque (guitarra e backing vocals), Rúbia Barreto (baixo e backing vocals), e Babi Age (bateria e backing vocals) se mostraram completamente à vontade entre os barões, o que demonstra claramente que elas estão atingindo um nível de profissionalismo que só as grandes bandas têm.
Isso, aos poucos, vai fazendo com que o grupo cresça e tenha bagagem para partir em busca de voos maiores dentro do cenário nacional.
Depois de se divertirem no palco com as Cigarras, os integrantes do Barão se retiraram para que as meninas tocassem sozinhas a música “Horizontal”.
Para quem acompanha de perto a cena curitibana e sabe o quanto é difícil presenciar a valorização do trabalho dos artistas locais, em qualquer segmento cultural, foi emocionante ver a admiração e o respeito que o Barão demonstrou em relação às Cigarras.
Uma das grandes características do som do Barão, talvez a maior delas, é a importância que eles sempre deram ao espaço que as guitarras devem ter nas canções. E nesse quesito, poucos músicos no Brasil são tão talentosos quanto Fernando Magalhães.
Dono de uma simplicidade e, ao mesmo tempo, de uma técnica apurada na construção de riffs e solos, Fernando aparece nos momentos certos das canções, trazendo a melodia ou a ferocidade que as composições pedem.
Atualmente, com o mundo da música mergulhado no uso dos Auto-Tunes, com camadas intermináveis de sintetizadores e uma produção que praticamente coloca o engenheiro de som no mesmo patamar da banda que ele está produzindo, ouvir a distorção de uma guitarra bem tocada é um bálsamo para os ouvidos de quem gosta da pureza do Rock’n’roll.
Outra grande constatação, para os fãs que ainda não tinham visto ao vivo a nova formação do Barão, é o acerto na escolha de Suricato.
Afinal, a banda ganhou um excelente vocalista e, ao mesmo tempo, um guitarrista de mão cheia, pois Rodrigo toca vários solos durante o show de uma maneira magistral.
Dono de uma personalidade e uma confiança muito grandes, Suricato se encaixou perfeitamente na estrutura musical que Maurício, Gutto, e Fernando construíram nas últimas décadas.
Outra particularidade que é possível perceber ao ver o Barão no palco é que, na maioria das bandas, o baixo e a bateria formam o que se convencionou chamar de “cozinha”, pois são esses instrumentos que marcam a base das canções.
Entretanto, no Barão, essa seção rítmica fica a cargo de Goffi e Maurício, os fundadores da banda, pois eles possuem uma química perfeita que só muitas décadas de convívio (juntamente com uma amizade sólida) conseguem proporcionar.
Depois de “Maior abandonado”, a banda se retirou durante alguns minutos do palco, sob os aplausos do público. Na volta, para encerrar, Suricato chamou novamente as Cigarras para que todos tocassem juntos o clássico “Pro dia nascer feliz”.
É claro que, pela quantidade de músicas importantes na trajetória do Barão, cada fã poderia montar um setlist só com as grandes canções do grupo que ficaram de fora do show.
Entre elas, estão “Declare guerra”, “Pense e dance” (que estava no repertório, mas não foi tocada), “Política voz”, “Torre de Babel”, “Dignidade”, “Nunca existiu pecado”, e “Quem me olha só”. Porém, não é sempre que o público tem a oportunidade de ouvir tantos clássicos em um só show.
Acima de tudo, o show de despedida da turnê “Barão 40” em Curitiba vai ficar marcado pelo respeito que o grupo demonstrou ter em relação a cena musical da capital paranaense.
Afinal, essa é uma situação que, entre os próprios curitibanos, nem sempre costuma acontecer. “Nós fizemos uma ação com os artistas de Curitiba e escolhemos as Cigarras porque achamos que elas são uma banda importante no cenário musical independente. Elas botaram pra fudê no palco!”, finaliza Maurício Barros.
Assista aos vídeos de “O poeta está vivo” e “Eu gosto de você, mas também gosto do bar”, gravados ao vivo no show em Curitiba. Veja também a entrevista que o Barão Vermelho concedeu antes da apresentação.
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