Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Fotos: Acervo Pedro de Luna/Reprodução Facebook Planet Hemp
“Qual banda brasileira teve tantos shows cancelados, público reprimido, material apreendido em lojas, o primeiro clipe censurado na MTV e pegou uns dias na prisão? Só isso já faz do Planet Hemp um ícone da luta pela liberdade de expressão e, portanto, merecedor de um livro ao completar 25 anos de carreira”, diz o jornalista carioca Pedro de Luna.
Neste sábado (1), Pedro estará em Curitiba, na loja Mega Grown, para lançar o livro “Mantenha o Respeito” (Editora Belas Letras), que retrata em 496 páginas as mais de duas décadas de história do grupo. No evento, também será realizado um bate-papo, com os jornalistas Abonico Smith e Digão Duarte, abordando a cena curitibana e as conexões do Planet com a capital paranaense.
Histórias, postura e coragem
Realmente, poucas bandas no Brasil construíram uma trajetória tão cheia de histórias quanto o Planet Hemp. Em “Mantenha o Respeito”, que começou a ser idealizado em 2016, todas as conquistas e polêmicas do grupo foram investigadas. “Foi uma iniciativa 100% minha, mas que só foi possível porque todos os integrantes e ex-integrantes colaboraram cedendo material, tirando dúvidas e dando entrevistas exclusivas. A grande maioria dessas conversas foi gravada em áudio, e pensamos em usar esse material em um possível áudio book”, diz.
Além de “Mantenha o Respeito”, Pedro também é autor de oito livros, entre eles “Brodagens”, “coLUNAs”, “Niterói Rock Underground 1990-2010” e “Histórias do Porão”. Nessas publicações, de uma forma ou de outra, o Planet Hemp sempre estave presente. “Eu já estava separando material para escrever sobre o Planet, pois a banda estava em meus livros anteriores. Foi quando um amigo que é editor me convidou para publicar pela editora Belas Letras, que lançou a biografia dos vocalistas do Red Hot Chili Peppers e do Pennywise e pretendia aumentar a coleção com títulos nacionais”, conta Pedro.
Durante o processo de pesquisa, o jornalista acabou recebendo o apoio da banda e, assim, o livro se tornou uma biografia oficial do Planet. “Na verdade, ninguém me convidou, o que aconteceu foi uma contratação durante esses dois anos de trabalho. Nesse meio tempo, recebi uma ligação do empresário da banda dizendo que o Marcelo D2 tinha gostado da ideia e que, por eles, estava autorizado. Poucos sabem, mas o que dá mais trabalho é a pesquisa, a apuração. É antes de sentar e redigir o texto”, explica.
Pesquisa
Encontrar e reunir o material gráfico para mostrar a história da banda também por meio de cartazes, flyers e fotos foi uma das etapas mais difíceis durante o período de pesquisa. “A banda não tinha praticamente nada. Nenhum rascunho de letra, alguns poucos flyers e fotos e só. Então, o garimpo foi por minha conta. Entre os que mais ajudaram, posso seguramente destacar o Marcelo D2 (que me recebeu em casa por duas vezes e esclareceu muita coisa por mensagem), o Bacalhau (primeiro baterista), o Ronaldo Pereira (primeiro empresário), a Elza Cohen (que cedeu fotos inéditas), o Kleber França (técnico de PA) e o Kadu Carlos (primeiro roadie)”, diz.
Uma das pessoas que mais colaborou com o autor foi o ex-baterista do Planet, Bacalhau. “O Pedro já tinha conversado com algumas pessoas, entre elas o Marcelo D2, e eu também lembrei de muita coisa. Eu disponibilizei bastante material fotográfico e quando ele tinha alguma dúvida eu sempre ajudava, porque parece que eu era o que lembrava de tudo, mesmo tendo uma ‘memória jamaicana’, da mesma forma que todos”, explica Bacalhau.
Outro desafio foi confirmar as informações que foram surgindo durante a pesquisa, mas que obviamente precisavam ser apuradas. “Eu tirei muitas dúvidas com eles ao longo do processo porque as informações eram confusas e desencontradas. Então, um dos desafios foi montar uma cronologia com os principais marcos do Planet Hemp desde o primeiro show, no dia 24 de julho de 1993. Foi um trabalho hercúleo, mas que valeu a pena e agregou muito valor ao livro”, explica.
Pedro também garante que teve autonomia para abordar tudo o que achasse relevante para o livro. Ou seja, nenhum dos muitos temas mais delicados foi barrado. “Tive total liberdade, pois meu compromisso era apenas com a verdade. Tanto que ninguém teve que aprovar e nem ler antes. Vai ser uma surpresa para a própria banda!”, afirma. “Claro que não faltam polêmicas, inclusive sobre a saída dos integrantes. Então fiz o que deveria, relatando as versões de cada um, na palavra dos próprios, sem fazer julgamento ou tomar partido, com isenção jornalística” complementa.
Dentro desse processo de resgatar imagens para a biografia, um dos mais complicados foi garimpar esse material gráfico com os músicos da formação atual e com ex-integrantes da banda e também com fãs e colaboradores. “Foi um processo caro e trabalhoso que me consumiu muita energia, tempo e dinheiro. Tive que ir na casa das pessoas às vezes para buscar apenas uma foto. Porém, eu contei com a colaboração de muita gente pelo Brasil, que escaneou um flyer ou foto e contribuiu com a pesquisa. Acho muito preciosas, por exemplo, as colagens que o próprio Skunk fazia e guardava em uma pastinha, bem como as fotos da viagem pro SuperDemo em São Paulo em 1994, com a galera bagunçando no ônibus e tocando ao vivo. Essas fotos estavam em negativo e não foi nada barato para ampliar e digitalizar”, conta.
Depois de tanto trabalho, Pedro conseguiu reunir um grande acervo, mas nem tudo acabou sendo usado na biografia. “Pena que o livro ficou tão grande que só conseguimos usar umas 60 imagens. Espero fazer outros produtos em 2019 com o acervo pessoal que eu consegui formar. Ele é seguramente o maior sobre o Planet Hemp”, complementa.
Polêmicas
Obviamente, o tema central que as composições do Planet Hemp abordam (a legalização da maconha) gera muita polêmica. Por causa dessa postura, a banda se envolveu em muitos atritos e nem sempre foi bem recebida pela mídia e pelos próprios produtores que, em alguns casos, não tinham coragem de contratar o grupo, temendo algum problema com a justiça.
O caso que ganhou maior repercussão aconteceu no dia 9 de novembro de 1997, após um show da banda em Brasília, no Minas Tênis Clube, que reuniu aproximadamente 7 mil pessoas. Depois da apresentação, os integrantes do grupo foram presos em flagrante pela Polícia Civil do Distrito Federal sob a acusação de “fazer apologia do uso da maconha”.
Na época, o caso ganhou os holofotes da mídia porque o delegado titular da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes do Distrito Federal, Eric Castro, afirmou que a Polícia Civil do Distrito Federal vinha “estudando” as letras das músicas do Planet Hemp há um ano. A avalição da polícia era de que os músicos incentivavam o uso da droga e que poderiam ser enquadrados em dois artigos da Lei de Entorpecentes (6.368): apologia (artigo 12) e associação de pessoas para uso de drogas (artigo 18). Então, a polícia acabou gravando a apresentação e, após “constatar” que a banda fazia apologia, efetuou a prisão dos músicos.
Para reconstruir o que o grupo viveu naquela época, Pedro mergulhou profundamente no caso. “Comecei a biografia com esse episódio. Acho que se adaptassem o livro para um filme, seria um bom começo. Entrevistei pessoas que estavam lá e consegui sentir o clima como se eu tivesse ido ao show também. Peguei até mesmo um depoimento do Fernando Gabeira (que era deputado federal pelo PV-RJ), que na época foi quem tomou a frente pra conseguir liberar a banda do xadrez. Uma das passagens mais eletrizantes acontece justamente quando os músicos estavam no camburão a caminho do presídio da Papuda e o Gabeira consegue que o Governador do Distrito Federal interceda pelos artistas. Os policiais tiveram que dar meia volta putos da vida!”, diz.
Ao abordar o caso, Pedro também conseguiu retratar várias situações e atitudes que contribuíram para que o Planet se tornasse uma espécie de “patinho feio” do momento. “Eu tratei o caso como todo jornalista, mostrando os dois lados da história. É interessante, por exemplo, ver como a imprensa lidava com o Planet. Enquanto o Jornal do Brasil, que era de esquerda, divulgava positivamente a banda e registrava a perseguição sofrida por ela, outros veículos caíam de pau em cima. No episódio da prisão, que colocou a banda em todas as capas de revista, quem começou a noticiar os problemas foi a Veja, quando duas pessoas foram presas em Vitória (ES) em 1996 e os dois shows na capital capixaba acabaram cancelados”, complementa.
Em 2013, o juiz Vilmar José Barreto Pinheiro, que ordenou a prisão da banda, foi condenado à aposentadoria compulsória pelo Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). O magistrado foi acusado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) de receber R$ 40 mil para conceder a liberdade a um traficante quando exercia o cargo de titular da 1ª Vara de Entorpecentes e Contravenções Penais de Brasília.
As aventuras do sagaz homem fumaça em Curitiba
Curitiba sempre foi um dos “redutos” do Planet Hemp, pois é um local onde banda tem muitos fãs até hoje. Assim, a biografia também conta algumas passagens do grupo pela capital paranaense. “Abordei todos os shows que consegui apurar. Os dois primeiros no Mary Jane com a galera da Drop Dead produzindo, no Jail Bar, no Coliseu com o Maskavo Roots e no Aeroanta com o Resist Control. A relação do Planet com Curitiba é boa e antiga”, revela.
Porém, Pedro acabou encontrando outros fatos interessantes que a banda teve que enfrentar no Paraná. “O que eu descobri ao longo do livro foram os problemas na época do deputado Luiz Carlos Alborghetti, que não queria deixar que eles tocassem no Paraná. Uma pedra no sapato, por exemplo, era Londrina. A banda demorou muitos anos até conseguir fazer o primeiro show por lá”, complementa.
Tanto para os fãs mais antigos do Planet Hemp quanto para as novas gerações que descobriram a banda recentemente, a biografia é uma grande oportunidade para conhecer de perto uma história que continua sendo contada. “É bacana porque isso mostra o que todo mundo vem fazendo. Eu, por exemplo, saí da banda e fiz muitas outras coisas. Acho que talvez o nome daquele núcleo de fundadores da banda que fez o ‘Usuário’ é o mais marcante até hoje. Eu já fiz muita coisa, gravei vários discos, enfim, não parei. Todo mundo que passou pelo Planet ainda tem banda, e eu espero que o livro incentive as pessoas a verem os trabalhos que a gente vem fazendo. Quero que as pessoas se interessem pela história do Planet e pelos integrantes que tiveram uma importância para que o grupo se transformasse no que é hoje”, diz Bacalhau. “Tenho certeza de que qualquer pessoa que pegar pra ler ‘Planet Hemp: mantenha o respeito’ vai ficar tão envolvida que as 500 páginas passarão voando”, finaliza Pedro de Luna.
O convite antecipado para o lançamento do livro custa R$ 120 e pode ser adquirido na Mega Grow. Os compradores terão direito a participar de um evento exclusivo das 16h20 as 20h com a presença do autor Pedro de Luna, que apresentará a palestra “Planet Hemp Antes da Fama”, abordando as origens do grupo.
O evento é fechado das 16h20 até as 20h. Após esse horário, o acesso será liberado para o público em geral, que poderá assistir a um bate-papo com os jornalistas Abonico Smith e Digão Duarte, falandosobre as conexões da banda com Curitiba. A discotecagem no local ficará por conta do DJ Schasko (Smoking Time 4:20/Funk You).
O convite antecipado também dá direito ao livro autografado pelo autor, a um coffee break, cerveja artesanal e descontos nos produtos comercializados pela loja. A Mega Grow fica na Av. Manoel Ribas, 3946, no bairro Cascatinha.
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