Prestes a completar quatro décadas de vida, a banda carioca tem lançado singles com parcerias inusitadas e se mantém na linha de frente do Rock brasileiro há quase quatro décadas
“Eu costumo dizer que, no palco, nós funcionamos como antenas capazes de transmitir muita energia e, também, captar a energia da galera. É isso que fazemos a cada apresentação”, diz o vocalista do Biquini, Bruno Gouveia.
Realmente, a palavra energia cai muito bem como um sinônimo do que Bruno Gouveia (vocal), Carlos Coelho (guitarra), Miguel Flores (teclado), e Álvaro Birita (bateria), continuam apresentando nos shows que eles fazem por todo o Brasil e que ficam marcados na memória dos fãs. “Eu acho que as nossas apresentações são o resultado dessa entrega entre palco e público. Quanto mais eles participam, mais intenso é. Sempre foi assim, desde o início. Eu gosto de dizer que os garotos de 18 anos que começaram essa história ainda continuam pulando dentro de nós”, complementa o vocalista.
Prime Rock Brasil, uma iniciativa que deu muito certo
Formado em 1985 na cidade do Rio de Janeiro, o Biquini está perto de completar 40 anos de estrada (fato que é raríssimo no showbizz) e continua colecionando essas apresentações marcantes.
Uma delas aconteceu em dezembro do ano passado no festival Prime Rock Brasil, na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba.
Aliás, a própria reação do vocalista ao final do show mostrou que ele estava visivelmente emocionado com a conexão que foi estabelecida com o público curitibano.
Tanto que, passada a adrenalina da apresentação, Bruno resolveu assistir a gravação do show para entender o que tinha acontecido no palco da Pedreira e tentar descobrir o que tinha feito com que aquela tarde de sábado fosse tão especial. “Vi que as câmeras me flagraram quando eu estava rezando, antes de pisar no palco. Sempre faço isso, peço para fazermos um show bonito, para Deus cuidar da minha voz, e para o público se divertir bastante. Eu acho que, às vezes, as minhas preces são atendidas com um bônus especial (risos). A minha emoção no final do show foi pela intensidade em um festival que estava apenas começando”, conta.
Um dos momentos mais legais dessa edição do Prime Rock Brasil, inclusive, aconteceu no show do Biquini, quando Bruno deu o tradicional mergulho na plateia, uma atitude que virou quase uma marca da banda.
O curioso é que ele afirma que essa decisão nunca é muito premeditada, pois surge de maneira espontânea ao longo do show. “Quando resolvo fazer, eu penso muito em como isso pode acontecer de modo a não machucar ninguém. Sempre busco lugares onde estejam várias pessoas com força suficiente para me segurar, já que não sou mais levinho (risos). O fato de muitos fãs já saberem que eu possa fazer isso também criou uma relação de confiança mútua. O melhor de tudo é que a galera entende, participa e respeita”, diz.
Toda essa sinergia com o público curitibano só foi possível por causa da atitude visionária que o produtor cultural Mac Lovio teve ao criar o festival Prime Rock Brasil, que nasceu com a intenção de valorizar a geração que, nos anos 1980, sedimentou o Rock brasileiro cantado em português como um produto extremamente viável.
Uma das grandes características dessa geração que é formada por bandas essenciais na história da música brasileira, entre elas, Plebe Rude, Legião Urbana, e RPM, era a preocupação com as letras, com o texto das canções.
Na verdade, praticamente todas elas, cada uma à sua maneira, abordavam temas sociais e particularidades da relação humana. Consequentemente, essa atitude gerava um ciclo virtuoso e fazia com que os fãs pensassem sobre esses assuntos sempre que ouviam uma canção desses grupos.
No caso do Biquini, essa marca ainda se mantém e continua sendo muito importante. “Eu não sei fazer música sem pensar na mensagem, no que dizer e dividir com as pessoas. É intrínseco da nossa geração com Cazuza, Russo, Herbert, Gessinger, Nando, Arnaldo, Leoni, e tantos outros. Nós crescemos ouvindo Caetano, Gil, Chico, Djavan, Zé Ramalho, Rita Lee, Alceu, Roberto e Erasmo, Tom e Vinícius, só para citar alguns. Hoje, também tem gente boa fazendo letras legais. Viva!”, explica.
Atualmente, mesmo em uma época na qual o Rock não está tão em evidência no país, o Prime Rock Brasil se tornou um grande case de sucesso.
Para as bandas, o evento caiu como uma luva pois, mesmo com a história que cada uma delas construiu, nem sempre esses artistas recebem a valorização que merecem. “É um festival muito bem organizado em todos os detalhes e que acontece também em Belo Horizonte. Acredito que, futuramente, role em outras cidades. É muito complicado fazer a logística de algo assim, mas o Mac é um maestro. Ele faz um espetáculo e nos coloca ali para somar a tudo que ele faz. É uma parceria de muito sucesso!”, elogia Bruno.
Além de fazer esses shows cheios de energia, como o que aconteceu no Prime Rock Brasil, o Biquini também continua lançando álbuns e singles, mostrando que a chama da inventividade não se apagou no trabalho deles.
Desde 2019, por exemplo, o grupo está disponibilizando os singles que fazem parte do projeto “Vou Te Levar Comigo”, no qual eles regravam canções da banda com a participação de artistas que não estão necessariamente ligados ao Rock. “Tudo começou quando nós fomos fazer uma apresentação no Teatro Bradesco, em São Paulo, e ficamos sabendo que a dupla Matheus & Kauan queria ir ao show e, depois, ver a gente. Aquilo fez com que caísse uma ficha importante nas nossas cabeças: não somos nós que decidimos quem vai gostar da nossa música. Parece óbvio, mas esse exemplo reforça isso”, explica.
Depois desse encontro, a banda decidiu fazer um convite inusitado para que Matheus & Kauan participassem da gravação da música “Quanto tempo demora um mês” e o resultado fez com que eles resolvessem dar continuidade a essas parcerias com outros artistas.
Entre eles, estão os cantores Fagner e Péricles, a banda Falamansa, e até o apresentador da Rede Globo, Alex Escobar. “O projeto deve virar um disco de duetos inusitados, com lançamento em 2024”, finaliza Bruno Gouveia.
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