Tradução – Priscila Oliveira
Ser alçado ao posto de vocalista daquela que muitos consideram a maior banda da história do heavy metal. Sair dela de forma abrupta e ter que reconstruir a sua carreira, praticamente do zero. Enfrentar a morte de sua esposa e ter forças para seguir em frente com sua música. A história do ex-vocalista do Iron Maiden, Blaze Bayley, é um exemplo de persistência e instinto de sobrevivência.
Blaze se apresenta amanhã (19) no Blood Rock Bar, em Curitiba. O show faz parte da turnê “Soundtracks Of My Life Tour”, onde o vocalista apresenta canções de sua carreira solo e alguns clássicos do seu período no Maiden, como “Sign of the Cross” e “Man on the Edge”. Seu mais recente álbum de inéditas, “Russian Holiday”, lançado no ano passado, não faz parte do setlist. Nele, o cantor gravou canções de forma acústica, em parceria com o violonista Thomas Zwijsen. “A turnê do ‘Russian Holiday’ terminou no Brasil em dezembro, então eu não estou apresentando qualquer canção acústica, mas o Thomas Zwijsen irá realizar algumas do seu próprio álbum antes do nosso set. Nós viajamos por todo o mundo com o acústico e já estava na hora de eu me concentrar nos meus shows de heavy metal novamente, que é o que eu mais amo fazer!”, explica.
A relação de Blaze com o Brasil é intensa. Historicamente, a paixão do povo brasileiro pelo heavy metal é uma das mais fortes no mundo. O país vem recebendo turnês dos maiores nomes do gênero desde a década de 1980. Com o Iron ou em seu trabalho solo, Blaze sempre inclui os ares tupiniquins em suas tours. “Eu adoro voltar ao Brasil. Eu tenho um ótimo agente que marca meus shows aqui, a Open the Road, e eu amo os fãs. Eles cantam com o coração nos meus shows e sempre querem saber tudo o que eu estou fazendo. Eles me apóiam em tudo e eu sou muito abençoado por tê-los em minha vida!”, agradece.
Os tempos de Iron Maiden
A carreira de Blaze é marcada pela passagem em uma das mais importantes e influentes bandas da história da música. Em 1994, com a saída de Bruce Dickinson, Bayley recebeu o convite para assumir os vocais do Iron Maiden. 11 entre dez vocalistas de heavy metal crescem sonhando com isso. O problema é que substituir um frontman, e uma voz do naipe de Dickinson, seria uma missão inglória para a maioria deles. Apesar do desafio, os quatro anos à frente do grupo inglês ainda estão em sua memória. “Eu fiquei extremamente feliz quando eles me convidaram e eu aceitei o trabalho. Eu pude trabalhar com os melhores músicos e produtores e ganhei muita experiência nas turnês, escrevendo e gravando”, afirma.
Logo no começo de sua trajetória com a banda, Blaze sofreu um acidente de moto e machucou gravemente o joelho. Por conta desse contratempo, o início da turnê do álbum “The X Factor”, lançado em 1995 e que marcou sua estreia no Iron, foi adiada. O vocalista relembra que, além da dor física, o medo de perder a vaga na banda também o atormentou, na época. “É claro que sim! Eu pensei que era o fim, mas eles foram legais em relação a isso e eu pude ficar!”, conta.
“Virtual XI”, de 1998, foi seu segundo e último álbum com o Maiden. No ano seguinte, Bruce Dickinson retornou ao Iron. Mesmo sendo pego de surpresa com a notícia de sua saída, o vocalista acredita que os quatro anos de trabalho com a banda acrescentaram muito em sua carreira. “Eu fiquei desapontado quando terminou, mas agora eu posso ver que foi um tempo sensacional e eu sou uma pessoa de muita sorte por ter tido a chance de chegar ao topo da minha profissão como o vocalista do Iron Maiden”, analisa.
Com o Iron, Blaze se apresentou em duas ocasiões na capital paranaense. Em 1996 no festival Monsters Of Rock, que aconteceu no Estádio Couto Pereira e ainda teve os grupos Skid Row, Helloween e Motörhead, e em 1998 no festival Skol Rock, que foi realizado na Pedreira Paulo Leminski, ao lado do Helloween, Raimundos e Pavilhão 9. “Foram shows loucos. Eu tive muita sorte por ter feito parte do Iron Maiden, então tocar nesses shows com eles foi um sonho que se tornou realidade”, relembra.
A carreira solo
Após a sua saída do Iron, Blaze gravou 11 álbuns em 13 anos. “Silicon Messiah” foi seu debut, no ano 2000, e “Russian Holiday” é o mais recente, lançado no ano passado. Esse ritmo de gravar praticamente um álbum por ano é fundamental para manter Bayley em harmonia consigo mesmo. Segundo o vocalista, a música é o seu principal meio de expressão. “Sim, é uma combinação de querer sair em turnês e de querer escrever música. Eu amo criar canções trabalhando com outros músicos e também amo interpretar as que eu escrevo”, diz.
Esse processo de “sanidade” vem desde os tempos de Wolfsbane, sua primeira banda, formada em 1984. “Não acho que eu seria apto a viver uma vida feliz se não pudesse escrever e interpretar as minhas próprias músicas. Isso é uma expressão de sentimentos e pensamentos que eu necessito”, afirma.
Em 2010 Blaze participou do álbum “The Labyrinth Of Truths”. O disco é de um projeto brasileiro chamado Soulspell Metal Opera, idealizado pelo baterista Heleno Vale. “Eu amei esse trabalho! Eu tenho recebido muitos convites para cantar em outros projetos. É algo que eu gosto muito. É sempre muito bom ter uma opinião diferente sobre a música, escrever e trabalhar com músicos. Eles me inspiram, em algumas ocasiões, e eu me sinto bem gravando e trabalhando em conjunto com as bandas para criar boas canções”, conta.
A dor da perda e a força para prosseguir
Em 2008, Blaze enfrentou um momento difícil em sua vida pessoal. Em julho, sua esposa e empresária, Debbie, foi diagnosticada com câncer no cérebro. Ela morreu apenas dois meses depois, no dia 27 de setembro. O vocalista tinha recém lançado o álbum “The Man Who Would Not Die”, gravado por seu próprio selo, o Blaze Bayley Records. Levantar e seguir em frente não foi nada fácil. “Foi um período horrível. Eu estava muito entorpecido, naquele momento, e a música me fez continuar por um bom tempo. Eu sofri e, naturalmente, ainda sofro. Eu precisei de um longo tempo para aprender a viver com isso, mas a música definitivamente me ajudou, assim como o apoio da minha família, amigos e fãs”, agradece.
Mesmo diante de tantos obstáculos que a carreira musical, e a vida lhe impuseram, Blaze Bayley conseguiu sobreviver. Seu show amanhã (19) no Blood Rock Bar é mais um capítulo dessa saga. “Eu gostaria de dizer um enorme obrigado a todos os meus fãs brasileiros por todo o apoio que eles têm me dado ao longo do tempo! Espero vê-los no domingo!”, finaliza.
Serviço
Blaze Bayley se apresenta amanhã (19) no Blood Rock Bar, em Curitiba. A casa abre às 16h e os shows começam às 20h. A abertura será da banda cover Best Maiden, de São Paulo. O primeiro lote de ingressos custa R$ 40 e está à venda nas lojas Dr. Rock, Let’s Rock, Arte do Rock, Red Light e por meio do site da Ticket Brasil.
O Blood Rock Bar fica na Rua Carlos Cavalcanti, 1212, no bairro São Francisco.
Confira o clipe da música “Hatred”, canção inédita gravada na coletânea “Soundtracks Of My Life”, lançada no ano passado, e o vídeo da apresentação do Iron Maiden na Pedreira Paulo Leminski, em 1998, com Blaze Bayley nos vocais.
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