Texto: Marcos Anubis
Revisão e fotos: Pri Oliveira
“Valeu encharcar esse planeta de suor. Valeu esquecer as coisas que eu sei de cor. Valeu encarar essa vida que podia ser melhor. Valeu, mesmo assim valeu.” Os versos do poeta Paulo Leminski retratam bem os 40 anos de carreira do Blindagem. Indiferentes aos modismos e modernismos, Paulo Teixeira e Alberto Rodriguez (guitarras), Paulo Juk (baixo), Pato Romero (bateria) e o saudoso Ivo Rodrigues (vocal) construíram a sua obra baseados na essência do Rock ‘n’ Roll.
Nesse sábado (17) na Ópera de Arame o quinteto curitibano celebrou em grande estilo essas quatro décadas de luta. Ao lado da Opera Orquestra Curytiba, regida pelo maestro Alessandro Sangiorgi, o grupo recriou suas canções de forma magistral. A banda se apresentou também no domingo (18).
Essa união do Rock com a Música Clássica já foi responsável pelo momento mais apoteótico da história da música curitibana. Em 2007 o Blindagem se uniu à Orquestra Sinfônica do Paraná para executar sua obra em um lotado Teatro Guaíra. Na ocasião, o público foi brindado com uma performance inesquecível de todos, principalmente de Ivo Rodrigues.
Talvez esse tenha sido o auge do vocalista, como se ele estivesse deixando a sua marca definitiva na música paranaense. O show foi eternizado no DVD “Blindagem & Orquestra Sinfônica do Paraná – Rock Em Concerto”. Ivo faleceu três anos depois.
Agora, com Rodrigo Vivasz nos vocais, a banda reeditou a parceria com Sangiorgi e produziu outro show para ficar na memória de seus fãs. A participação da Opera Orquestra Curytiba deu ainda mais beleza às composições, pois canções como “Gaivota” ganharam uma nova atmosfera com a orquestra dando suporte para a trinca baixo/guitarra/bateria.
“Blindagem” abriu a apresentação. Da beleza poética de “Além do Silêncio” e “Se Eu Tivesse” aos versos paranaenses de “Cheiro do Mato” e “Lá Vai o Trem”, o show teve momentos de todas as fases da banda. Além de seus grandes clássicos, o grupo também aproveitou para mostrar algumas canções que farão parte de “O Equilibrista”, seu novo CD.
Além da faixa-título, “Joelho de Geleia”, “Furos do Vício” e “Valeu” tiveram a sua avant-première. O trabalho reunirá composições de Ivo e Leminski que nunca foram gravadas.
“Você é igual a mim, eu sou igual a você”
Um fato que sempre chama a atenção em um show do Blindagem é a alegria com que seus integrantes se entregam à apresentação. Nenhum deles está ali simplesmente para tocar. Eles incorporam a sua obra e a transmitem de uma forma pura, como se fosse a primeira vez em que ela estivesse sendo levada ao público.
Um dos momentos mais simbólicos do show foi a participação da pequena Rafaela Hultmann, aluna de Pato. A menina de apenas 6 anos, tocou bateria ao lado de seu professor em “Vida Gozada” e na cover de “Black Night” do Deep Purple. Rafaela estuda bateria há seis meses e mesmo assim demonstrou segurança e desenvoltura no palco.
Entre o público era possível perceber o respeito e a admiração que a banda ainda desperta. Fãs antigos e jovens que descobriram recentemente o Blindagem se misturavam e cantavam com o mesmo entusiasmo as músicas do grupo.
A bela “Oração de um Suicida” preparou o terreno para o grand finale. “Loba da Estepe” encerrou a apresentação, com a participação de Helinho Pimentel, coautor da canção. O show foi gravado e deve ser lançado em um DVD.
Como a força de seu nome exalta, o Blindagem significa a resistência da música paranaense. A recusa em se entregar faz da banda ainda hoje, 40 anos após a sua criação, o maior representante da nossa tão pouco valorizada arte. Confira três momentos do show: “Gaivota”, “Oração de um Suicida” e “Vida Gozada”.
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