Bohemian Rhapsody, um tributo magnífico ao talento de Freddie Mercury

Transportar para a tela do cinema a história de uma grande banda ou artista é uma missão ingrata. Basicamente, existem vários caminhos para construir esse tipo de enredo: o diretor pode procurar ser o mais real possível ou pode ser mais fantasioso, exagerando ao contar algumas situações para criar um clima mais cinematográfico.

O diretor do filme “Bohemian Rhapsody”, o cineasta Bryan Singer, escolheu a veracidade para mostrar ao mundo aquele que, além da voz impressionante e do talento como compositor, talvez tenha sido o maior frontman da história do Rock. Dexter Fletcher, que assumiu o projeto depois que a 20th Century Fox demitiu Singer, deu continuidade a essa visão. A produção do filme, que estreia nesta quinta-feira (31) nos cinemas de todo o país, é de Graham King e a produção executiva ficou a cargo do guitarrista do Queen, Brian May, e do baterista da banda, Roger Taylor.

Certamente, a presença de Brian May foi decisiva para que Singer tomasse essa decisão. Afinal, Brian participou ativamente da produção do filme e em todas as entrevistas o guitarrista procurava ressaltar a preocupação com a imagem de Mercury. “O Freddie é precioso para nós. Uma das grandes revelações logo no início veio quando o roteirista Peter Morgan disse: ‘esse é um filme sobre família’. É sobre as coisas que acontecem em uma família, algumas boas, outras ruins, a partida, a procura por independência e o processo de nutrir a família. É um filme sobre isso, de certa forma, e sobre o talento emergente de Freddie, sua magnífica resiliência e senso de humor”, disse May em uma entrevista para o site Ultimate Classic Rock.

O filme

A semelhança física dos atores com os integrantes do Queen é impressionante. Rami Malek (Freddie Mercury), Ben Hardy (Roger Taylor) ,Gwilym Lee (Brian May) e John Deacon (Joseph Mazzello) realmente encarnaram os personagens reais.

É impossível contar a história de uma banda que teve 21 anos de vida, até a morte de Freddie Mercury em 1991, em pouco mais de duas horas. Além disso, existem algumas “falhas” como, por exemplo, a imagem de Freddie no Rock in Rio. No filme, o cantor aparece de cabelo comprido e sem bigode, mas em 1985, Mercury já tinha adotado o visual com o cabelo curto e o bigode que se tornou uma de suas marcas.

Levando esses pequenos detalhes em conta, “Bohemian Rhapsody” cumpre bem o papel de oferecer um vislumbre da história de Mercury com o Queen tomando por base três pilares que envolveram toda a trajetória do cantor: a solidão, o sexo e o talento.

O filme começa com o encontro de Freddie com Brian e Roger, que na época faziam parte da banda Smile. A partir desse momento, o enredo segue com o desenvolvimento da carreira da banda.

Um dos momentos mais interessantes do filme recria as sessões em estúdio para a gravação do clássico “Bohemian rhapsody”, quando Mercury leva a banda à exaustão ao exigir que cada um dos integrantes gravasse inúmeras vezes as vozes que fariam parte dos corais. Na época, a tecnologia não era digital, portanto, cada voz era registrada em uma fita isoladamente, sendo necessárias várias repetições para criar o coro que Freddie queria. Algumas passagens da música possuem mais de 180 pistas de gravação o que, mesmo com a tecnologia atual, é quase inimaginável.

O filme também retrata o relacionamento de Freddie com Mary Austin (Lucy Boynton) e o afastamento dos dois na medida em que o cantor mergulha na estrada com o Queen e começa a se entregar aos seus desejos homossexuais.

Uma das cenas mais emocionantes é quando Freddie coloca uma fita VHS para que Mary assista à apresentação do Queen no Rock in Rio. Na ocasião, em uma das performances históricas da banda, mais de 200 mil pessoas cantam “Love of my life” a capella na Cidade do Rock, no Rio de Janeiro. “Durante a maioria do show, eu não sabia se eles estavam me entendendo, mas, de repente, eles começaram a cantar para você”, diz Malek se referindo a canção que, segundo Mercury, foi escrita para Mary.

O filme também aborda o choque que a banda leva quando Freddie revela que assinou um contrato de 4 milhões de dólares com a EMI para gravar dois álbuns solo. Nesse período, Mercury mergulharia mais ainda no mundo do sexo, drogas e álcool.

Os dois discos foram “Mr. Bad Guy” (1985) e “Barcelona” (1988), gravado com a participação da Montserrat Caballé e que teve a faixa-título escolhida para ser a música oficial das Olimpíadas de Barcelona, em 1992.

Pouco tempo depois do voo solo, mesmo com uma autoconfiança quase inabalável, pelo menos em relação à sua capacidade como artista, Freddie percebeu que precisava da banda. Então, o grupo entrou em um acordo para retomar as atividades e aceitou o convite para fazer parte do festival Live Aid.

Idealizado pelo cantor, músico e compositor irlandês Bob Geldof, o evento aconteceria no estádio de Wembley, em Londres, e no JFK Stadium, na Filadélfia, com a intenção de arrecadar dinheiro para ajudar a combater a fome na África.

O Live Aid

Juntos novamente, o quarteto inicia uma série de poucos ensaios para tocar no Live Aid. Uma semana antes, Freddie perde a voz ao cantar uma das músicas do setlist do show e resolve revelar para a banda que está com AIDS. O cantor pede que o grupo não tenha pena dele e que, a partir daquele momento, eles procurassem criar o máximo de músicas possível.

Uma semana depois, no dia 13 de julho de 1985, o Queen faria uma apresentação perfeita e inesquecível em Wembley, no que seria um dos últimos shows do grupo com a formação original. Esse é o ponto alto do filme, portanto, prepare os lenços.

O que se vê a seguir é uma aula de realidade, emoção e sensibilidade. Recriar um show ao vivo de forma convincente é quase impossível de se fazer em um filme. Afinal, a energia do público e da própria banda não pode ser fingida. Por isso, “Bohemian Rhapsody” consegue o inimaginável. O impacto do show nas imagens e no som do cinema é de deixar emocionado até quem não conhece muito bem a história do grupo.

Cinco das as seis músicas apresentadas pelo Queen no evento são encenadas: “Bohemian rhapsody”, “Radio gaga”, “Hammer to fall”, “We Will rock you” e “We are the champions”. Só “Crazy little thing called love” ficou de fora. Além das canções, a sequência também mostra o célebre momento em que Freddie faz com que o público repita as vocalizações que se tornaram uma das maiores marcas dele.

A programação do Live Aid reuniu artistas icônicos, entre eles, David Bowie, The Who, Phil Collins, Elton John, Dire Straits e Sting. Mesmo assim, a participação do Queen ofuscou a “concorrência” no festival.

Singer e May também tiveram a sensibilidade de mostrar as reações do grupo durante o show. Assim, a apresentação começa com todos apreensivos em relação à voz de Freddie. Isso muda rapidamente com a percepção de que, naquele dia, o vocalista teria uma das performances mais sensacionais da carreira.

A reconstrução do velho estádio Wembley feita por meio de computação gráfica também é impressionante. Durante o show, as pessoas no público são mostradas bem de perto, com reações que realmente parecer ser reais.

“Bohemian Rhapsody” mostra ao público a grandiosidade do talento de Freddie Mercury. Assim, nitidamente, as pessoas saíram do cinema pensando no que ele ainda poderia estar fazendo se não tivesse partido tão cedo.

Remi Malek conseguiu interpretar de uma maneira brilhante um personagem tão forte quanto Mercury. De forma nenhuma, esse feito pode ser minimizado. “O maior elogio que recebi foi quando Brian May me mandou um e-mail depois de assistir ao filme e disse que foi levado às lágrimas e que se Freddie estivesse aqui hoje, ele não poderia estar mais orgulhoso do que conquistamos com o filme. Isso é algo que vou levar para o túmulo”, afirmou Malek durante o CinemaCon, um dos maiores eventos de cultura pop do mundo, que foi realizado no mês de abril em San Diego, na Califórnia.

Ao aceitar correr o risco de retratar um dos maiores personagens da história do Rock, “Bohemian Rhapsody” tem tudo para superar todas as expectativas dos fãs. “Eu acho que o filme o retrata de maneira verdadeira e não de forma bajuladora, mas de uma forma que aprecia o seu talento. Porque com certeza absoluta ele era único. Eu nunca conheci ninguém como Freddie em toda minha vida, antes ou depois, e provavelmente nunca mais irá acontecer”, disse May à Ultimate Classic Rock.

O filme estreia nesta quinta-feira (1) nos cinemas de todo o Brasil. Em Curitiba, ele estará em cartaz em várias salas de exibição, entre elas, o Cinemark dos shoppings Mueller, Barigui e São José (em São José dos Pinhais), o Cinesystem dos shoppings Cidade, Curitiba e Total,  e o Cinépolis Batel. Os valores variam de R$ 8 a R$ 57, de acordo com o dia e horário.