Bullet Course 9

 

Texto – Marcos Anubis

Revisão e fotos – Pri Oliveira

 

Um das bandas mais originais do atual cenário Heavy Metal de Curitiba é o Bullet Course. O quarteto formado por Israel Erthal e Vicente Palazzo (guitarras), Bruno Solheid (bateria) e Daiton Arkn (baixo e vocal) faz questão de criar um som atmosférico, envolvente, que não se limite ao peso do Metal.

A “transgressão” não é simples de ser feita, pois incorporar outros elementos a um estilo tão tradicional nem sempre é uma tarefa bem-sucedida. Na química do Bullet, porém, os ingredientes foram bem dosados.

Além do peso do Heavy Metal, outras influências mais obscuras, para a grande massa, como Sonic Youth, Loop e Cocteau Twins, podem ser sentidas nas composições do grupo. “Gostamos dessa linha atmosférica dissonante. Estamos sempre estudando para buscar novos timbres, efeitos e ambientação nas nossas músicas. Tem muita coisa a ser explorada ainda”, diz Israel. “Buscamos influências desde a música experimental, a alternativa que tenha uma ambiência atmosférica e estilos como Post-Rock, Shoegaze, Post-Metal e Dream Pop”, complementa.

 

A banda nasceu em 2010 e o primeiro EP lançado pela banda foi “Without Memories” (2011), produzido pelo músico Alessandro Takassaki, de Joinville. Dois anos depois veio o segundo EP, “Into the Solitude”, gravado no estúdio Audio Bleed e produzido pelo baixista Thiago Valença, da banda curitibana de Heavy/Doom Metal Archityrants. O álbum foi relançado no ano passado pelo selo inglês Senseless Life.

No último mês de maio o Bullet lançou seu primeiro full lenght. “She’s Looking For Flowers Under City Light” foi gravado no estúdio AudioStamp e produzido por Virgilio Miléo.

O CD marcou uma guinada nas letras banda que no início faziam referência às civilizações antigas. “A música ‘River Of Needles’, por exemplo, que não foi gravada, tem toda a sua estrutura baseada em uma escala egípcia. A letra é uma analogia de séculos atrás com os conflitos e manifestações que ocorreram em 2011 no Egito. É um jogo de palavras relacionando tudo que aquele povo estava passando. O nome da música retrata o próprio rio Nilo”, explica Israel.

Dentro da obra do Bullet existem outros exemplos dessa mudança. “A música ‘MU’, também não gravada, fala sobre o continente desaparecido da Lemúria. Mas hoje posso falar que abordamos temas mais urbanos como o vazio da existência, a nostalgia do sofrimento humano e as dores mentais”, diz.

Apesar de ainda estar divulgando seu último CD, o Bullet Course já vem trabalhando nas canções que farão parte de seu próximo trabalho. “Inicialmente tínhamos definido que neste ano iríamos nos dedicar ao lançamento do álbum ‘She’s Looking For Flowers Under City Light’. Mas estão surgindo novas músicas nos ensaios, então acredito que no fim do ano iniciaremos as gravações” revela Israel.

 

On Stage

 

No último dia 1º a banda se apresentou no Eclipse Doom Festival, no 92 Graus, ao lado do Eternal Sorrow e do HellLight. Esse é um dos eventos mais respeitados e reconhecidos no mundo Doom Metal brasileiro. Por conta disso a casa estava lotada, fato raro em shows de bandas autorais curitibanas. “Fomos a primeira banda. Sentimos a energia que o público passava a cada música. Acredito que tudo foi favorável para uma noite de sucesso pelo histórico do Eclipse Doom Festival e pela união das bandas e do público. O nosso muito obrigado ao pessoal que compareceu e lotou a casa!”, diz.

Diante dos problemas que as bandas autorais da cidade enfrentam, a demonstração dada pelo público realmente impressionou quem está acostumado a acompanhar a cena local. “Sabemos que essa dificuldade acontece por todo o Brasil. Temos que persistir com o nosso trabalho e buscar aos poucos o nosso espaço. E, claro, sempre com muita humildade. É nisso que acreditamos”, finaliza Israel.

Confira três momentos do show no 92 Graus: “Desolate Room”, “7 Days Of Low Rain” e “November”.