Texto: Marcos Anubis
Fotos e revisão: Pri Oliveira
A grandiosidade de um artista como Caetano Veloso surpreende até os fãs mais ardentes. Ao reunir os três filhos em uma turnê na qual o repertório é composto por poucas músicas “conhecidas”, era normal esperar um show que não empolgasse tanto o público. Grande engano!
O show no Teatro Positivo, em Curitiba, nessa quinta-feira (21), mostrou que o talento está, de alguma forma, gravado no sangue da família Veloso. Dessa maneira, a continuidade de um legado que já é impressionante está garantida.
“Alegria, alegria” abriu a apresentação. É desnecessário dizer a importância dessa música não só na carreira de Caetano, mas também na vida social do Brasil. Para muitos fãs, o show também foi uma grande e agradável surpresa pelo fato de ter revelado ao grande público o talento de seus filhos. Moreno, o mais “tarimbado” deles, já lançou dois álbuns e está mais acostumado ao palco. Já Zeca e Tom, os estreantes, ainda se mostram tímidos, mas não destoam do grupo.
Um dos momentos mais emocionates do show foi “Todo homem”, composição de Zeca que foi lançada justamente nessa quinta-feira. Logo de cara, quando Zeca soltou a sua voz, todo o público no teatro perdeu o fôlego. Levando a base da música no teclado e cantando em falsete, em um tom altíssimo, ele emocionou a plateia.
O palco e a iluminação da tour foram criados de forma simples, com a intenção de evidenciar a musicalidade dos quatro Velosos e não chamar a atenção para outros aspectos.
Aliás, o show transpareceu claramente um ambiente familiar, com Caetano e Moreno contando histórias que marcaram a sua família e o crescimento musical de cada um, com uma delicadeza difícil de encontrar no mundo atual.
Cada frase das canções remetia claramente a um momento vivido pelos quatro artistas e fazia com que essas lembranças voltassem à tona. A belíssima “Oração ao tempo”simbolizou bem esse clima, principalmente quando Caetano batiza o tempo como “compositor de destinos”.
“Eu não sou religioso, nunca fui. Tom e Zeca são cristãos convictos e Moreno é macumbeiro”, brincou Caetano. “Eu quero cantar essa música em homenagem à religiosidade dos meus três filhos”, complementou antes de “Ofertório”, música que dá nome ao CD/DVD dos Velosos, que será lançado no ano que vem. Essa canção foi composta em homenagem à mãe de Caetano, Dona Canô, quando ela completou 90 anos de idade. A matriarca faleceu em 2012, aos 105 anos.
Essa é outra questão que torna o artista Caetano Veloso ainda mais enigmático. Durante sua carreira, ele compôs letras belíssimas que abordam justamente o universo religioso. Além disso, sendo baiano, Caetano conviveu durante toda a sua vida com a diversidade religiosa de sua terra. Saber navegar por essas diferenças sem gerar nenhum tipo de atrito é uma habilidade rara − amais ainda no mundo atual.
“Agora chegamos ao ponto onde tudo começou. Essa foi a primeira canção que eu e Moreno fizemos. Eu fiz a música e ele fez a letra”, disse Caetano antes de “Um canto de afoxé para o Bloco de Ilê”. Antes de “Leãozinho”, Moreno brincou dizendo: “meu pai pediu para que eu aprendesse uma música dele”.
“Força estranha” foi outra canção que tocou fortemente a plateia. Assim como outros compositores que reverenciaram a capacidade de expor os seus sentimentos, como o saudoso João Nogueira em “O poder da criação”, Caetano paga o seu tributo às palavras que, de alguma forma, sempre estiveram ao seu lado. “Por isso uma força me leva a cantar. Por isso essa força estranha. Por isso é que eu canto, não posso parar. Por isso essa voz tamanha”, diz a letra.
Depois de “How beautiful could a being be”, composição de Moreno, o quarteto se retirou rapidamente do palco. Na volta, encerraram o show com “Canto do povo de um lugar/Um Tom”, “Deusa do amor”, versão para a música do Olodum e “Tá escrito”, do Grupo Revelação.
Confira o vídeo da música “Todo homem” e veja também o nosso álbum de fotos do show.
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