O show do Capital Inicial, no último sábado (9) no Master Hall em Curitiba, levou o público, que lotou a casa, a uma viagem aos anos dourados do rock brasileiro.
Invariavelmente, quando você pensa em boa música, vai acabar voltando à década de 1980. O rock nacional, nessa época, era formado por bandas e artistas que combinavam boas músicas com letras inteligentes. Cazuza, Legião Urbana, Picassos Falsos e Hojerizah eram alguns dos que faziam da sua arte uma forma de passar uma mensagem ao público.
O Capital sempre foi uma dessas bandas. Oriundos de Brasília, os músicos traziam a realidade da política brasileira para as suas canções, usando o punk rock com meio de expressão para a crítica social. A formação atual do grupo tem Dinho Ouro-Preto nos vocais, Flávio Lemos no baixo, Fê Lemos na bateria e o ex-guitarrista do Viper, Yves Passarell. Nas turnês, a banda é reforçada pelo tecladista Robledo Silva e pelo guitarrista Fabiano Carelli.
Canções novas e velhos sucessos
O show começou com “O bem, o mal e o indiferente”, do recém lançado “Saturno”. Um telão atrás do palco exibia imagens criadas para cada música tocada. Essa preocupação com a parte visual do espetáculo, pouco comum entre as bandas, enriqueceu ainda mais o conteúdo das letras.
Antes de “Apocalipse agora”, Dinho tomou a guitarra de Yves Passarell para cantar o refrão da música “Só os loucos sabem”, do Charlie Brown Jr., e fez alguns comentários sobre a morte do vocalista do grupo, Chorão, que aconteceu na última quarta-feira (6). A relação entre as duas bandas era bem próxima, não só entre os músicos, mas entre seus filhos, também. ”Acho irrelevante qualquer motivo que for apontado como a morte dele. Esse show é dedicado ao Chorão”, disse.
“Saturno” impressiona pelo peso e acidez nas letras, uma das mais fortes características do Capital. Antes de “Saquear Brasília”, o vocalista perguntou ao público. “Vocês se sentem representados por alguém lá em Brasília? A impressão que eu tenho é que eles representam somente os interesses deles”, criticou Dinho. Durante a música, o telão exibia imagens de monstros destruindo a capital brasileira.
Um dos mais tocantes momentos do show foi a balada “Fogo”, do disco “Você não precisa entender” lançado em 1988. Antes da música, Dinho relembrou como foi o seu último encontro com Chorão, em Curitiba, no festival Lupaluna do ano passado. “Ele me disse que essa música parecia falar do momento atual da vida dele. Hoje, eu começo a entender, ligando as coisas, o que ele deveria estar passando”, contou.
Antes do bis, toda a banda saiu do palco e Dinho ficou conversando com o público. Segundo ele, todos os produtos que são lançados no país passam por uma espécie de teste em Curitiba e os artistas, atualmente, estão aderindo a esse costume fazendo os primeiros shows de suas turnês na capital paranaense. “Vocês são enjoados, difíceis de agradar. Se uma banda consegue ir bem aqui a tour será um sucesso. Falando sério, o pessoal de Curitiba é mais bem informado. Acho que vocês estão um passo à frente do resto do país”, elogiou.
Com a banda de volta ao palco eles tocaram “Passageiro”, versão do grupo para a música “The Passenger”, de Iggy Pop, e a nova “Água e vinho”. Em seguida dois clássicos, “Primeiros erros”, versão da canção de Kiko Zambianchi, pedida desde o começo do show pelos fãs, e “Veraneio vascaína”.
Para encerrar a noite, “Que país é este”, da Legião Urbana. Durante a música, Dinho chamou para o palco o vocalista da banda curitibana Motorocker, Marcelus, que abriu a noite. É impressionante como uma música composta em 1986, nos primeiros passos da “democracia” no Brasil, consegue ser, quase 30 anos depois, mais atual do que nunca. Impossível não pensar em como a nossa condição como nação, em vez de evoluir, parece que caminha para trás. “Terceiro mundo se for piada no exterior, mas o Brasil vai focar rico, vamos faturar um milhão quando vendermos todas as almas dos nossos índios em um leilão”, profetizava Renato Russo.
Curitiba recebeu em um período de três dias, dois monstros do nosso rock, o Barão Vermelho na última quinta-feira (7) e o Capital Inicial neste sábado, dois representantes do que de melhor o rock nacional produziu, até hoje. Vê-los ainda na ativa, e produzindo material novo com a mesma qualidade, é animador.
Motorocker
O Motorocker fez a abertura do show e agradou os fãs que tinham ido para a apresentação do Capital Inicial. É muito bom ver o público curitibano começando a conhecer a música que é feita na sua própria cidade. Algumas canções, como “Igreja universal do reino do rock” e “Salve a malária” já são conhecidas e cantadas pelos fãs.
O grupo demonstrava claramente o efeito causado que uma turnê longa pelo país. Era perceptível a confiança e a naturalidade dos músicos no palco. Isso faz com que a apresentação seja mais coesa e empolgante.
O grupo faz um rock and roll simples e direto usando todos os elementos do estilo, como riffs marcantes e letras falando de álcool e mulheres. O Cwb Live publicou uma matéria com a banda, no mês passado, falando da sua turnê pelo país e recontando a sua história. Leia nesse link.
Confira três músicas do show de sábado. “Fátima” e “Apocalipse agora”, do Capital Inicial e “Salve a malária”, com o Motorocker.
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