Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Fotos: Camila Kovalczyk
Trazer o talento no sangue é ao mesmo tempo uma dádiva e uma maldição. Afinal, as comparações são inevitáveis, e cabe ao artista encontrar a melhor maneira de lidar com esse tipo de pressão. Esse é o grande desafio que o cantor, músico e compositor baiano Chico Brown (filho do percussionista Carlinhos Brown e neto do ícone da MPB Chico Buarque) começou a viver em 2019.
Nessa segunda-feira (21) no Teatro da Reitoria, em Curitiba, Chico Brown teve uma das primeiras provas de fogo nesse caminho perigoso e traiçoeiro do show business. Na apresentação, que fez parte da programação da 36ª edição da Oficina de Música de Curitiba, Chico mostrou praticamente todo o álbum de estreia, que será lançado neste primeiro semestre.
Chico Brown (vocal, guitarra, piano e teclado), Ivo Costa (guitarra), Luidi Tedesco (baixo), Daniel Conceição (bateria) e Fabio Gomes (percussão) abriram o show com “Morrer de música”. Na sequência, veio uma versão para a suingada para “Carlito Marrón”, de Carlinhos Brown.
O repertório do show teve oito canções autorais que devem compor a base do CD. Entre elas, estão “Paia de coquero” e “Rumo ao destino”. No setlist, Chico também incluiu algumas versões como “Homenagem ao malandro” e “A história de Lily Braun”, de Chico Buarque, e “Jimmy, renda-se”, de Tom Zé.
O interessante é que, apesar de ainda não ter lançado nenhum trabalho, boa parte do público já conhecia as canções do show. Em todas as músicas, Chico foi muito aplaudido e, como estabeleceu uma relação próxima com os fãs durante a apresentação, essa conexão ficou ainda mais forte.
O show em Curitiba foi o primeiro de Chico com a banda fora do Rio de Janeiro, onde ele vem se apresentando há dois anos no circuito underground. Ele se mostrou um artista tranquilo, simpático e, sobretudo, muito inteligente, por não basear o início de trabalho no sucesso de seus “parentes famosos”.
Porém, durante o show, o que mais saltou aos olhos é o fato de que Chico Brown é um artista nato e não um produto criado para vender. Antes de mergulhar na carreira solo, ele foi tecladista da banda Nilú e guitarrista da 3030, mas começou a chamar atenção de forma mais forte depois da parceria com Chico Buarque na canção “Massarandupió”, gravada no mais recente álbum do avô, “Caravanas” (2017). Não por acaso, essa foi uma das músicas mais aplaudidas do show.
As características do trabalho autoral de Chico Brown
Chico Brown tem personalidade própria e muito talento. No show, além de cantar, ele tocou guitarra, teclado e piano muito bem, comprovando a afirmação de Chico Buarque quando disse que o neto era “o melhor músico da família”.
Nas composições, Chico apresenta influências bem variadas que vão do Samba à Música Latina, passando pelo Rock’n’roll e pelo Rock Progressivo. Entre as bandas que entram nessa miscelânea sonora, é possível perceber elementos do Novos Baianos, do Mutantes e do Secos & Molhados, por exemplo. Já as músicas em inglês, como “She knows”, remetem ao clássico “Transa” (1972), um dos melhores álbuns da discografia de Caetano Veloso.
Outra surpresa para quem não conhecia mais profundamente o trabalho de Chico Brown é a forma pesada com que ele toca guitarra, mostrando influências claras do Heavy Metal e do Hard Rock. A própria escolha do instrumento, um modelo Firebird, demonstra essa característica. Na entrevista que ele concedeu ao Cwb Live após o show, ele chegou a citar o Doom Metal da banda sueca Candlemass e o Death Metal com temática egípcia do Nile. Ou seja, a musicalidade de Chico Brown é composta por várias frentes, e isso é muito importante para criar um som original.
Em “Valsa do pôr do sol”, cantada em francês, Chico assumiu o piano e tocou uma bela melodia, mostrando destreza no instrumento. Na sequência veio o Reggae “Rasta with an apple”, que tem uma letra descrita por ele como “inglês da Jamaica”.
Após “Ar bandido”, a banda se retirou rapidamente do palco e voltou para encerrar a apresentação com “Chão da praça”, de Moraes Moreira, e a autoral “Paia final”. Após o show, Chico atendeu o público com muita simpatia, tirando fotos e conversando com os fãs.
Os primeiros passos (literalmente) da carreira de Chico Brown são promissores. Afinal, ele mostra talento, personalidade e, sobretudo, boas composições. Resta ao público aguardar o álbum de estreia e de que forma as canções chegarão ao mercado. O show em Curitiba foi uma bela amostra do potencial que o jovem Brown ainda pode colocar em prática.
Veja uma entrevista com Chico Brown e assista ao vídeo da música “Rasta with an apple”, gravada ao vivo na apresentação no Teatro da Reitoria.
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