Na apresentação no Teatro Guaíra, o grupo reviveu um dos álbuns mais importantes da história da música paranaense
A banda curitibana Blindagem e o Teatro Guaíra possuem um história que caminha paralelamente nas últimas quatro décadas. Afinal, entre tantas apresentações no mais tradicional palco da capital paranaense, a que foi realizada em 2008 se transformou no DVD “Blindagem & Orquestra Sinfônica do Paraná”, que é um dos marcos da história da música no estado.
Além disso, infelizmente, a gravação acabou se tornando um emocionante epitáfio do lendário vocalista Ivo Rodrigues, que faleceria apenas dois anos depois.
No domingo passado (6), Paulinho Teixeira e Alberto Rodriguez (guitarras e backing vocals), Paulo Juk (baixo) e Ruben “Pato” Romero (bateria) voltaram ao Teatro Guaíra, dessa vez para apresentar oficialmente o novo vocalista da banda, Willian Vox, e tocar na íntegra o primeiro álbum do Blindagem, autointitulado. “Nós estamos homenageando os nossos amigos que já se foram. Eles são os principais compositores desse disco”, disse Paulinho na entrevista que a banda concedeu ao Cwb Live antes do show.
O guitarrista está se referindo a Ivo Rodrigues e ao poeta Paulo Leminski, que eram grandes amigos e parceiros em muitas canções do Blindagem.
Você é igual a mim, eu sou igual a você!
Após a exibição de um vídeo que mostrava fotos de várias fases e formações do Blindagem, o grupo começou o show com um trecho a capella de “Oração de um suicida”.
Logo nesse início, com o Guaíra praticamente lotado, os fãs mais atentos conseguiram perceber algumas diferenças em relação às versões originais das músicas e a maneira mais livre pela qual a banda se acostumou a tocar essas canções nos últimos anos.
Uma das mais flagrantes foi, justamente, no conhecido solo de “Oração de um suicida”, que tem uma cadência diferente e algumas notas a mais na versão de 1982. “Nós estamos praticamente fazendo um cover de nós mesmos. Nós tivemos que reaprender a tocar essa músicas”, brincou Pato Romero na entrevista antes do show.
Na sequência da apresentação, o Blindagem tocou as outras nove faixas do álbum, entre elas, “Berço de Deus” e “Marinheiro”.
Um dos momentos mais emocionantes do show foi “Gaivota” que, na modesta opinião deste jornalista, tem o solo mais bonito já composto por um músico curitibano.
Afinal, nas frases que criou na guitarra para essa canção, Paulinho usou toda a sensibilidade que marca o trabalho dele desde os anos 1970, quando fazia parte da lendária banda A Chave ao lado dos companheiros Ivo Rodrigues (vocal), Carlão Gaertner (baixo) e Orlando Azevedo (bateria).
“Essa música é de vocês”, disse Vox antes de “Cheiro do mato”, que encerrou a primeira parte do show. Atendendo ao chamado, o público acendeu as luzes dos celulares e cantou a canção, criando um ambiente belíssimo no teatro.
A continuação de um sonho
Quando foi até o Hospital de Clínicas para visitar o amigo e companheiro de banda Ivo Rodrigues, em 2010, Paulo Juk não sabia que aquela seria a última vez que os dois se encontrariam.
Naquela noite, quando já estava saindo do quarto, Paulo escutou a voz de Ivo e, quando voltou, o vocalista fez um pedido que era quase uma ordem: “Compadre, não acabe com a banda”!
A frase era emblemática porque vinha de alguém que amava a música acima de tudo e sabia que Juk, Paulinho, Alberto e Pato poderiam e deveriam seguir com o legado que o vocalista ajudou a construir.
Hoje, doze anos após a partida de Ivo, o quarteto continua honrando esse pedido, pois, com a entrada do vocalista Willian Vox, eles estão iniciando o que pode ser considerada a terceira fase na vida do Blindagem.
O interessante é que, assim como aconteceu com o vocalista anterior, Rodrigo Vivazs, Willian chegou com muita personalidade e, acima de tudo, com uma boa aceitação dos fãs.
Essas duas situações são essenciais para que as coisas caminhem da maneira que a banda espera, afinal, não é nada fácil estar na posição que um dia foi daquele que era chamado de “a voz disfarçada de gente”.
No palco, Willian mostrou uma voz poderosa, uma interpretação de acordo com o que cada canção pede, tocou violão durante boa parte do show e se comunicou tranquilamente com a plateia.
Porém, acima de tudo, foi possível notar que ele já estabeleceu uma forte conexão com os outros quatro companheiros. Sem isso, nenhum novo integrante se dá bem em uma nova banda, principalmente quando ela tem uma história tão grande e rica quando o Blindagem.
A trilha sonora dos curitibanos
Na sequência, o Blindagem tocou algumas músicas que marcaram a trajetória da banda e também dos fãs de música em Curitiba. Entre elas, a linda “Além do silêncio” e a clássica “Lá vai o trem”.
Antes de “Miragem”, Paulo Juk falou sobre a ex-companheira de Ivo Rodrigues, Suka, que participou da composição dessa canção e estava presente no Guaíra.
Na sequência, a banda tocou “Vida gozada”, que tem uma letra que aborda os prazeres e amizades que a vida proporciona.
“Loba da estepe” encerrou o show de maneira inusitada, pois Vox pegou até a banda de surpresa ao convidar o filho, Vitor Juliano, para que viesse até o palco e assumisse o violão nessa música.
O jovem, que tem apenas 11 anos de idade, se saiu muito bem e certamente se lembrará durante o resto da vida da noite na qual ele se apresentou ao lado de alguns dos maiores ícones da música paranaense, no palco mais tradicional de Curitiba. Não é pouca coisa!
No bis, o grupo fez uma homenagem a João Lopes tocando o clássico “Bicho do Paraná” e encerrou com a pesada “Blindagem”.
Assistir a um show do Blindagem é reviver momentos que cada um de nós já passou e que tiveram a trilha sonora de alguma música desses resistentes curitibanos.
Em tempos nos quais a arte vem sendo deixada de lado, é preciso valorizar cada vez mais aqueles que se mantêm na luta pela cultura de Curitiba e do Paraná. Afinal, estar na estrada há mais de 40 anos unindo música e poesia de uma maneira como poucos conseguiram fazer nesse país não é uma missão para qualquer um.
Assista ao vídeo de “Oração de um suicida”, confira a entrevista e veja o álbum de fotos da apresentação.
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