Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Fotos: Divulgação




O fim do trio brasileiro Nervosa pegou o mundo do Heavy Metal de surpresa no início deste ano. Afinal, após o show no Rock in Rio, em outubro de 2019, a banda parecia estar vivendo o melhor momento desde que foi criada, em 2010.

Apesar do destaque que o grupo conseguiu com uma apresentação que levou o público a lotar o Palco Sunset, pouco mais de seis meses depois, em abril, a baixista e vocalista Fernanda Lira e a baterista Luana Dametto anunciaram que estavam saindo da banda.

E, seguindo essa sequência rápida de acontecimentos, menos de um mês depois de saírem da Nervosa, Fernanda e Luana já anunciaram que estavam montando uma nova banda que foi batizada de Crypta, ao lado das guitarristas Sonia Anubis (Burning Witches, Cobra Spell) e Tainá Bergamaschi (Hagbard).

Ao mesmo tempo, a guitarrista Prika Amaral também anunciou uma nova formação da Nervosa com a vocalista Diva Satanica (Bloodhunter), a baixista Mia Wallace (Abbath & Triumph of Death) e a baterista Eleni Nota (Mask of Prospero e Croque Madame).

Ou seja, dessa separação, que parece ter sido tranquila (na medida do possível), surgiram duas bandas femininas que prometem fazer barulho, literalmente, nos próximos anos.




A transição

Sair de uma banda sempre exige muita força mental para segurar o baque e seguir em frente. Afinal, essa formação da Nervosa era a mesma desde 2017 e ainda prometia muitos frutos após o álbum “Downfall of Mankind” (2018).

Contrariando a rotina mais “comum” no mundo musical, que faz com que o artista estabeleça um “período sabático” para colocar as ideias em ordem após um acontecimento desse porte, depois de se desligarem da Nervosa, Luana e Fernanda rapidamente anunciaram a criação da Crypta.

Esse novo ânimo pode ser explicado porque, na verdade, a ideia desse projeto já existia há aproximadamente um ano. “Era o nosso projeto paralelo e já tínhamos interesse em divulgá-lo em 2020, só não esperávamos que seria tão cedo. A meta era de, pelo menos, produzir um som para anunciar a banda”, explica Luana.

Porém, por causa das especulações do público e da própria mídia em torno do futuro das duas instrumentistas, elas resolveram antecipar o anúncio. “Como acabamos saindo da Nervosa e muita gente começou a comentar que tínhamos desistido da música ou que iríamos tocar outros estilos fora do Metal, resolvemos anunciar a Crypta muito antes do previsto. Fizemos isso justamente para acabar com os rumores e deixar todos cientes de que não desistimos da música e nem do Metal”, complementa.

Dessa forma, o novo grupo teve praticamente um nascimento prematuro. “Assim que saímos da Nervosa, sabíamos que a Crypta se tornaria a nossa banda principal. Antes do anúncio, estávamos com um pouco de medo em relação à aceitação das pessoas, mas depois, tivemos o melhor resultado possível. Tudo isso teve um impacto muito positivo em nós, pois a maioria das pessoas entendeu que tudo vai seguir normalmente. Então, com certeza, isso ajudou no baque que foi essa mudança tão brusca”,  conta.




As novas integrantes

Por causa da pandemia, Luana obviamente ainda não teve a oportunidade de ensaiar com as novas companheiras. Dessa maneira, uma das metas nos próximos meses é buscar essa química que é tão necessária para qualquer banda. “Não tivemos a oportunidade de fazer nada juntas e nem de gravar. Porém, isso não está nos afetando muito, pois eu e a Fernanda já moramos bem longe uma da outra, então, só continuamos trabalhando da forma que fazíamos na Nervosa”, diz.

Neste momento, o grupo está fazendo uso da tecnologia para buscar esse entrosamento. “Gostamos de fazer ligações e reuniões com câmera porque aí todo mundo pode se ver um pouco toda semana e conversar umas bobagens também. É importante que nós sejamos amigas antes de colegas de banda. Quando a pandemia acabar, vamos nos encontrar pessoalmente pela primeira vez. Eu já conheço a Sonia e estou bem animada para ensaiar pessoalmente com a Tainá!”, afirma.

Aliás, como tudo nesse início de vida da Crypta, a escolha das guitarristas Sonia e Tainá aconteceu de maneira rápida porque, nesse momento inicial, a decisão precisava ser muito certeira.

A primeira a ser convocada para o posto foi a holandesa Sonia Anubis. “Quando tivemos a primeira ideia de ter uma banda de Death Metal e pensamos em quem seria a guitarrista, eu e a Fernanda imediatamente falamos na Sonia, que nós sempre admiramos muito como musicista e pessoa. Ela tem uma ótima presença de palco, toca muito bem e sempre pareceu ser muito legal. Então, assim que descobrimos que pensávamos na mesma guitarrista, fomos falar com a Sonia”, revela.

Na sequência, ainda faltava uma peça no quebra-cabeça da Crypta. “Eu saí procurando gente em toda a internet! Queríamos pessoas que morassem no Brasil ou na Holanda, para que as coisas fossem mais fáceis. Achei muitas meninas, mas ainda não tínhamos testado mais do que uma”, conta.

Então, o último elo da banda acabou surgindo por vontade própria e se encaixando perfeitamente no que Luana e Fernanda estavam buscando. “A Tainá mandou uma mensagem para a Fernanda falando que ficou sabendo que provavelmente estaríamos em um projeto juntas e que, se a gente não tivesse guitarrista, ela estava disponível. Ela se autocontratou (risos), tirou os sons muito rápido e já mandou mais uma ideia de som. Ela é brasileira e exatamente o que queríamos. Foi tudo muito conveniente com as duas guitarristas”, complementa.




Os preparativos para a estreia

Pouco depois do anúncio da formação da Crypta, a banda já fechou um contrato com a Napalm Records (que também tem a Nervosa no cast). Isso dá a dimensão da expectativa do mundo do Metal em relação ao novo trabalho de Luana e Fernanda.

Obviamente, esse reconhecimento é um combustível a mais, mas ele também não deixa de gerar mais responsabilidade. “Todas nós ficamos muito muito felizes com o feedback positivo do público e da gravadora. Sabemos o quanto algumas pessoas estão esperando que a gente lance algo, mas não quero fazer com que essa resposta do público se torne uma pressão”, diz.

Realmente, é impressionante a tranquilidade com que Luana encara esse novo passo na carreira, e isso faz com que a pressão de lançar o álbum de estreia que corresponda às expectativas não afete a banda. “Vejo isso como algo bom, pois a música que a Crypta vai lançar agora que as pessoas estão interessadas na nossa banda é a mesma que iríamos lançar se não tivesse ninguém interessado. Tentamos fazer tudo no nosso tempo e procuramos ficar felizes com os resultados do nosso som. Aí, se o público também gostar, está mais do que ótimo. Primeiro a gente tem que ficar contente com a própria música para depois os outros ficarem também”, afirma.

Nessa perspectiva, cada passo do álbum de estreia está sendo cuidadosamente pensado, desde a composição das canções até o planejamento de gravação e lançamento. “A maioria das coisas que não são os sons não estão prontas ainda e o que está pronto a gente ainda não sabe se está na hora de divulgar. Talvez, seja melhor esperar mais para divulgar algo, afinal, ainda estamos há alguns bons passos de distância de gravar o disco”, explica.

O importante é que o grupo nasceu com uma linha de trabalho musical bem-definida, e isso gera a tranquilidade que o quarteto precisa nesse momento inicial. “Não queremos um disco muito longo, que as pessoas se cansem em certo ponto e já não prestem mais atenção no que está acontecendo, e nem tão curto que soe como um EP. Eu sei que isso é um comentário supervago, mas não posso dar muitos detalhes ainda (risos). Temos músicas para um disco completo, mas ainda estamos decidindo quais vão entrar, quais ficarão para o próximo e tudo mais. Estamos montando um planejando agora que estamos finalizando as músicas”, complementa.

Nessa linha musical, o principal elemento será o Death Metal que, aliás, e o gênero preferido de Luana. “Eu tenho muitas influências no Death Metal sueco, como Interment, Dismember, Necrovation, Nominon, Morbus Chron e Grotesque. A Fernanda tem influências muito fortes do Death Metal americano, a Sonia e a Tainá gostam de ambos e de outras coisas bem variadas também”, revela.

Essas referências serão a base para o Death com espírito old school que o grupo pretende fazer. “Acredito que o nosso disco, principalmente por ser o primeiro, não vá soar como uma coisa só. Serão sons bem fortes em uma linha e outros em outra, mas prefiro que as pessoas ouçam e comentem, pois é difícil julgar as próprias músicas (risos). Temos muitas coisas que já entendemos como a sonoridade da Crypta, mas outras ainda estão sendo lapidadas e em fase de experimentação”, conta.

O que está bem claro é que, musicalmente, a linha da Crypta tem mais a ver com o estilo de Luana. “Muito mais! Eu sempre vou pender mais para o lado do Death Metal. É claro que eu gostava muito de tocar os sons Thrash Metal da Nervosa, mas não tenho como negar de que, no último disco do qual participei, eu coloquei várias influências de Death Metal. Ele tem muitos blast beats, por exemplo”, diz.

Isso, por si só, já é uma injeção de ânimo gigantesca nesta nova fase da vida de Luana. “Tocar o gênero musical que eu mais gosto, por completo, é muito animador. É o mesmo sentimento de quando eu tive a minha primeira banda. Principalmente, por eu estar junto com a Crypta desde o começo, existe um apego emocional maior quando você ajuda a escolher tudo desde o primeiro passo”, explica.

Para o público que acompanha o trabalho de Luana e de Fernanda nos últimos anos, só resta aguardar os próximos passos, e Curitiba deve fazer parte da turnê de estreia da Crypta. A capital paranaense, aliás, tem um cenário de Death Metal que produz grandes bandas desde os anos 1980.

Essa lista tem nomes importantes na própria construção do estilo no Brasil, como o Infernal, o Imperious Malevolence, o Division Hell e a Hecatomb. “Eu conheço o Imperious Malevolence. É uma banda que aparece bastante no cenário underground. Eu não sabia que eles eram de Curitiba! Provavelmente, eu tenho mais contato do que imagino, porque muitas vezes não sei de onde é a banda, assim como o Imperious Malevolence (risos). Espero tocar em Curitiba com a Crypta e conhecer algumas bandas por aí!”, diz.

Apesar de não citar nenhum show de maneira especial, Luana coloca a cidade de Curitiba como uma de suas preferidas. “Eu não posso mentir, não lembro muito bem da maior parte das coisas que já fiz na vida. É memória ruim e muita rotina de viagem mesmo. Eu gosto bastante de Curitiba, é uma cidade bem bonita e eu tenho alguns amigos aí. Nunca visitei muito a ponto de conhecer direito, mas já fui algumas vezes, até pra visitar um amigo antigo de internet. Espero realmente tocar em Curitiba com a Crypta e ter a chance de conhecer mais coisas e pessoas por aí!”, finaliza Luana.