Texto: Marcos Anubis
Revisão e fotos: Pri Oliveira
Nesse sábado (9), o Sepultura se apresentou na Live Curitiba para comemorar os 35 anos de estrada do grupo, que é o maior nome do Heavy Metal brasileiro até hoje. O show, que fez parte do evento Curitiba MotorCycles, também contou com as bandas curitibanas Motorocker, Hillbilly Rawhide, Didley Duo e Fourface.
Cada uma delas tem um estilo completamente distinto e, para o público, foi uma experiência diferente ver artistas tão diferentes entre si lado a lado em um show de Heavy Metal. A cobertura da apresentação do Sepultura você confere neste link.
Didley Duo
A primeira banda a pisar no palco foi o Didley Duo, formado por Breno Teixeira (guitarras) e Ricardo Blasch (bateria). O grupo apresenta composições autorais pra lá de inusitadas, afinal, Breno usa instrumentos completamente diferentes do normal, chamados de Diddley Bows. “São instrumentos muito rústicos, que podem ser considerados os avós da guitarra elétrica atual. Basicamente, é uma corda esticada em uma madeira e tocada com um tubinho de metal chamado slide. Eu tenho várias para obter sons e timbres diferentes”, explica Breno.
A banda abriu o show com “Daddy’s job”, Boogie bow” e “Lo fi trip”. As guitarras usadas por Breno são construídas pela Siodoni Luthieria. Entre elas, estão a Guiparra (feita com uma pá) e outros modelos que têm como base peças no mínimo estranhas, entre elas, um cabo de vassoura acoplado a uma lancheira e um esfregador de roupas.
Um dos instrumentos mais inusitados é composto por uma viga de telhado, uma garrafa e uma corda. “ As primeiras diddleys foram criadas por mim basicamente com latas e cabos de vassoura. Hoje, algumas marcas me apoiam e estão construindo versões mais resistentes e até comercializáveis desses instrumentos”, diz.
Conceito
É importante entender a proposta da banda: a ideia é fazer um som “roots”, primitivo, e os instrumentos são criados exatamente para isso. Portanto, não se pode esperar um som claro e definido até porque o clima com microfonia e ruídos faz parte do contexto musical do Didley Duo.
Na criação dos instrumentos existem vários desafios para se chegar a um formato que possa ser usado principalmente ao vivo. “A adaptação é simples no quesito elétrico, pois os instrumentos recebem os modelos mais simples de captadores piezo e cordas de guitarra. A adaptação mais dificil é a ergonômica porque muitas peças não são projetadas originalmente para serem instrumentos”, revela.
Apesar de terem feito o show em uma noite que teve o Sepultura, de forma surpreendente, Ricardo saiu do duo no dia seguinte. “A saída dele foi amigável e por diferenças pessoais, mas bola pra frente. Já estou começando os ensaios com um novo baterista. A saída dele aconteceu de ser depois de um show grande, assim como poderia ser em um dia comum. Essas coisas acontecem”, conta.
“The boogie diddley” e “Diddley bow blue” encerraram a apresentação. “Foi uma experiência fantástica e é sempre bom estar novamente ao lado dos amigos. Além do Sepultura, todas as bandas que fizeram parte do festival são de amigos queridos. Muitas vezes, ficamos muito tempo sem vê-los e só podemos matar a saudade nesses minutos de backstage”, finaliza Breno.
O Didley Duo é uma das atrações da 20ª edição do festival Psycho Carnival, que acontece entre os dias 1º e 4 de março no Jokers Pub. Confira a música “Daddy’s job”, gravada ao vivo no show na Live Curitiba, e veja também o álbum de fotos da apresentação.
Fourface
Em seguida, foi a vez do Fourface subir no palco. Apesar de ter um trabalho autoral, a banda apresentou um repertório composto por versões de músicas do Raimundos. Entre as canções do setlist estiveram “I saw you saying” e “Puteiro em João Pessoa”. Confira o álbum de fotos da apresentação.
Hillbilly Rawhide
O Hillbilly Rawhide é o maior nome do Outlaw Country brasileiro nas últimas décadas. Em 2019, o grupo está completando 16 anos de vida e, para comemorar, resolveu encarar um desafio: apresentar o trabalho para um público composto essencialmente por fãs de Heavy Metal.
Mutant Cox (voz, guitarra e violão), Mark Cleverson (violino e voz), Osmar Cavera (baixo acústico), Juliano Cocktail (bateria e cajón) e Eduardo Ribeiro (banjo, violão, backing vocal, acordeon, mandolin e jaw harp) abriram o show com “Ferrovia centro-oeste”. O repertório teve a nova “My name is Rattlesnake” (homenagem da banda a Lemmy Kilmister), faixa-título do mais recente álbum do grupo que acaba de ser lançado, e até uma versão para “Sofrer”, da banda Ratos de Porão.
Como o Sepultura tocaria em seguida, como a grande atração da noite, praticamente todo o público que foi ao evento já estava em frente ao palco para assistir ao show. A banda mineira, aliás, é uma referência não só para os headbangers, mas também para os músicos do Hillbilly. “Foi uma grande honra dividir o palco com uma banda que mudou o rumo da minha vida! Ficamos muito surpresos e contentes com o convite. Foi muito legal tocar para o público deles e é sempre uma surpresa também, pois não dá pra saber se vão curtir ou não. No final das contas, foi animal! O público parece ter gostado, o som estava muito bom e a energia fluindo forte!”, diz Mutant Cox.
A veia pesada do Hillbilly
A entrada de Eduardo Ribeiro deu uma pegada mais pesada ao som do Hillbilly. Mesmo que o banjo seja um instrumento com uma sonoridade muito ligada ao Country, a atitude de Eduardo no palco demonstra uma veia também voltada para o Heavy Metal.
Além disso, a química com Mutant Cox foi perfeita, afinal, o guitarrista participa de várias outras bandas com uma vertente pesadíssima, entre elas, dois monstros do Psychobilly mundial: o Sick Sick Sinners e o trio Os Catalépticos.
Aliás, as duas bandas, além do Hillbilly e do The Mullet Monster Mafia, de Piracicaba, representarão o Brasil no maior festival de Psychobilly do mundo. No dia 3 de julho, as quatro bandas se apresentam no Psychobilly Meeting, que acontece em Pineda de Mar, na Espanha. Os shows são uma homenagem dos espanhóis ao festival curitibano Psycho Carnival que chega à vigésima edição neste ano.
“Foda-se, (ha, ha, ha) encerrou a apresentação. “Para nós, foi um show histórico e nos divertimos muito tocando. Só temos a agradecer a toda a equipe, às bandas e ao público. Que venham mais shows como esse! A cidade tem público pra isso e necessita de mais eventos como esse pra manter a chama do Rock pesado sempre acesa na capital dos pinheirais!”, finaliza Mutant Cox.
Confira a música “My name is Rattlesnake”, gravada ao vivo no show na Live Curitiba, e veja também o álbum de fotos da apresentação.
Motorocker
A honra de encerrar uma noite que teve o Sepultura como atração principal coube aos curitibanos do Motorocker. A situação inusitada ocorreu porque os produtores do evento decidiram colocar o grupo mineiro em um horário mais nobre, evitando que a banda tocasse muito tarde até por uma questão de logística.
Marcelus dos Santos (vocal) Luciano Pico e Eduardo Calegari (guitarras), Silvio Krüger (baixo) e Juan Neto (bateria) abriram o show com “Igreja universal do reino do Rock”. Na sequência vieram “Acelera e freia” e “Blues do Satanás”.
Essa foi a segunda vez o Motorocker teve a oportunidade de se apresentar ao lado do Sepultura. “A sensação é de enorme responsabilidade de procurar fazer um show à altura, pois o Sepultura é uma banda de renome mundial. Para mim, eles são a maior banda brasileira de todos os tempos ao lado do Raimundos e do Titãs. Ficamos felizes em vê-los novamente fazendo um show impecável como sempre”, diz Marcelus.
Sangue nos olhos e Rock na veia!
É preciso tirar o chapéu para o esforço que o Motorocker faz para apresentar um show de qualidade. Afinal, a introdução usada na abertura da apresentação e o enorme pano de fundo que compõe o cenário do palco do grupo, demonstram claramente a intenção de profissionalizar cada vez mais os shows do grupo. “Se profissionalizar no meio em que estamos já não é mais uma escolha, é uma obrigação. É muito fácil ser esquecido ou passar despercebido. Se você quer ser lembrado e abrir um show de uma banda como o Iron Maiden ou o Kiss novamente, tem que deixar a melhor impressão possível quando tiver essa oportunidade”, afirma Marcelus.
O vocalista se refere aos shows nos quais o Motorocker fez a abertura para o Iron Maiden na Expotrade, em 2011, e para o Kiss na Pedreira Paulo Leminski, em 2015. “Não é só pisar no palco, agradar a plateia e procurar fazer a melhor performance possível. Ter noção da parte operacional que está por trás de um grande show é tão importante quanto. Os shows de médio a pequeno porte têm outra logística, outro tipo de operacional tão importante quanto os grandes shows. Posso assegurar que subir e tocar é uma das partes mais fáceis desse negócio. Não importa se o show é pra 300, 3.000 ou 30.000 pessoas, o público merece o melhor que você pode fazer, e isso envolve desde a forma com que você trata desde o carregador de equipamentos até a tia que faz o teu café”, complementa.
O setlist do show na Live ainda teve canções que já fazem parte da cena curitibana, como “Vamo, vamo”, “Loco de gole” e a pesadíssima “Rock na veia”, que fazem muito sucesso entre o público. A plateia, aliás, gritou o nome da banda em vários momentos, fazendo com que Marcelus se ajoelhasse no palco para reverenciar os fãs.
Depois de Curva de rio”, o Motorocker apresentou em primeira mão a nova música da banda, “Bom pra você”, que foi lançada no mês passado pela plataforma Selo Virtual. “Resolvemos incluí-la permanentemente no setlist até lançarmos o novo disco. É uma música que provavelmente não entrará no novo álbum, ela ficará só no Selo Virtual de forma avulsa. Por recomendações do nosso novo produtor, não tocaremos músicas novas ao vivo até o lançamento oficial do CD. Às vezes é necessário que alguém nos coloque no prumo e corte nossas asas na hora certa (risos)”, finaliza Marcelus.
“Salve a malária” e “Rock Brasil” encerraram o show. Confira a música “Aonde você vai eu não vou”, gravada ao vivo no show na Live Curitiba, e veja também o álbum de fotos da apresentação.
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