Dado villa lobos

Dado Villa-Lobos, um dos mais talentosos guitarristas do país (Foto – Christian Gaul)

Dado Villa-Lobos é um daqueles artistas que não pararam no tempo. Apesar de sempre ser lembrado pelo seu trabalho à frente de uma das mais importantes e influentes bandas da história do rock nacional, a Legião Urbana, ele não se deitou nos louros do seu passado.

Seu mais recente álbum, “O Passo do Colapso”, que acaba de ser lançado, procura retratar o momento de incertezas pessoais e financeiras que a humanidade está vivenciando. “Tenho a impressão de que o resultado final, de repente, tenta explicar o porquê da ideia de colapso. Foi algo que me veio há três, quatro anos atrás com a bancarrota do sistema financeiro mundial”, explica Dado.

Ao absorver todas essas influências, o músico começou a dar forma ao que seria o seu novo disco. “Me vi pensando nessa vida, no meu trabalho, nos meus amigos, na minha vida, no tempo que voa e em tantos novos paradigmas surgindo e modelos ruindo. Isso tudo foi virando combustível pra seguir em frente e, então, fazer um disco”, conta.

O trabalho conta com várias participações especiais. Uma delas é a do escritor uruguaio Eduardo Galeano na música “O parto”. A narração de Galeano dá uma atmosfera apocalíptica para a canção. “Não foi nada pensado no sentido de programar o que fazer. Foi pura intuição e sintonia com as pessoas. Um amigo uruguaio, o Carlos Tarán, me trouxe o texto e a narração esplêndida de Eduardo Galeano que veio como a redenção final da estória de um colapso. A transformação é inevitável, a vida seguirá sempre”, diz.

O compositor Fausto Fawcett também participa do disco, dividindo os vocais da música “Beleza americana” com a cantora do Kid Abelha, Paula Toller, e com o músico americano Arto Lindsay que, entre outros trabalhos, produziu o álbum “Verde anil amarelo cor-de-rosa e carvão”, terceiro disco da carreira da cantora Marisa Monte, lançado em 1994. “O Fausto é o parceiro de sempre. Eu estou com ele desde que cheguei aqui no Rio de Janeiro, em 1987. Quando o chamo ele atende e vice-versa”, conta.

Legião Urbana

No ano passado, Dado e o baterista Marcelo Bonfá reuniram a Legião Urbana para um show histórico promovido pela MTV. Os vocais ficaram a cargo do ator Wagner Moura, o Capitão Nascimento do filme “Tropa de Elite”. A escolha surpreendente dividiu a opinião dos fãs. “Eu tiro o meu chapéu para o Wagner, um artista de muita coragem. Fomos todos com a força da Legião, arriscar e quebrar todos os conceitos e preconceitos, assim como fazíamos com a banda”, relembra Dado. O reencontro com os fãs foi emocionante, tanto para os músicos como para o público. “Fiquei em êxtase. Foi uma experiência desafiadora e muito intensa, como sempre foi qualquer show da Legião”, afirma.

Os shows em Curitiba

Com tantos anos de estrada, Dado teve várias passagens marcantes por Curitiba. Ele revela, inclusive, que um dos primeiros shows da Legião Urbana foi na capital paranaense. “Curitiba está no mapa da minha vida. Com a Legião, nosso primeiro show fora do eixo Rio-São Paulo, com passagens de avião, foi em Curitiba, numa antiga fábrica de tecidos em 1985. Os Paralamas estavam na área e deram um suporte bacana para a gente. Depois eu voltei várias vezes com a Legião e com o Fausto e seu Básico Instinto”, diz.

A nova era da música mundial

A internet, principalmente, mudou a realidade da indústria musical no mundo. As grandes gravadoras e os artistas em geral vem tendo dificuldades em se adaptarem a essa nova era. “O sistema colapsou. Precisamos de novos big shots, big bosses, cadê? Eles são necessários. A esquerda acabou. Adeus Lenin!”, comenta.

Dado produz os seus discos com recursos próprios. O músico é proprietário da gravadora Rock it!, fundada em 1993 em uma parceria com o baixista da Plebe Rude, André Mueller. “Minha produção é tipo Novos Baianos, independente futebol clube. Tenho o meu estúdio, a minha estrutura. O sistema colapsou, sigo os meus instintos”, explica.

O principal aspecto, nessa nova configuração da indústria musical no mundo, é a valorização do artista. O acesso gratuito ao conteúdo produzido por músicos e bandas é um dos temas mais polêmicos. “Acho que temos que fazer entender que música não é grátis, só isso. Que se remunere o autor, produtor e artista, por favor”, afirma.

As lembranças e influências dos tempos da Legião Urbana permanecem na vida do músico. Apesar de olhar sempre para frente, buscando se renovar e dar continuidade ao seu trabalho solo, Dado não renega o seu passado ao lado de Marcelo Bonfá e Renato Russo. “A minha forma de fazer música é idêntica à que fazíamos. Um tema instrumental, instigante e interessante que em seguida ganha um texto e vamos em frente. Eu sou o Dado Villa-Lobos da Legião Urbana e muito mais, para lá do além e para o infinito!”, finaliza.

 Ouça  o CD “O passo do colapso”, na íntegra.