Lô Borges faz parte de uma classe da música brasileira que está quase em extinção. São aqueles músicos ou compositores que procuram a excelência em tudo o que fazem. São pessoas que transformam as suas obras em arte. Como o mundo musical, hoje, privilegia a música descartável, a produção fonográfica de Lô não é mais tão assídua quanto ele, e os amantes dos bons sons, gostariam.
Seu trabalho mais recente é o álbum “Horizonte Vertical”, lançado em 2011, o 14º de sua carreira. O CD tem participações de vários músicos e cantores como Fernanda Takai, Samuel Rosa, Milton Nascimento e Nando Reis. “É um disco baseado nas minhas composições ao piano. Ele tem participações de outros artistas, uma coisa que eu não havia feito ainda na minha carreira”, explica.
Lô, assumidamente, não é um letrista assíduo. Seu talento é canalizado para a construção de músicas e melodias, o que faz com que essas parcerias, portanto, sejam de suma importância dentro da sua obra. “Eu sou um cara que faz poucas letras. Procuro me cercar de parceiros com os quais eu tenha sintonia e admiração. Assim, espero que eles possam dizer, no texto que eles escreverão, as coisas que eu pensei quando compus a música”, explica.
A participação de personagens deste naipe acrescenta várias nuances diferentes ao álbum. Samuel Rosa, por exemplo, dividiu com Lô os vocais da faixa título, “Horizonte Vertical”. A canção casou muito bem com o tom e a maneira de cantar do vocalista do Skank. “É uma troca de informações. Eu acho importante esse relacionamento com pessoas de estética e de gerações diferentes. Cada um tem a sua carreira, a sua história, mas contribuíram para que o disco ficasse da maneira que eu gostaria”, explica Lô.
Do Clube da Esquina à “evolução” da indústria musical
O debut de Lô na música brasileira não poderia ser mais especial. Ao lado do Clube da Esquina, espécie de confraria mineira formada por nomes essenciais dentro da MPB como Milton Nascimento, Márcio Borges e Wagner Tiso, Lô já se destacava como um grande talento.
O músico atravessou toda a transformação que a indústria musical, e o próprio público brasileiro, passaram nas últimas décadas. As grandes gravadoras foram regredindo do respeito à qualidade dos artistas à busca desenfreada pelo lucro. “Hoje é absolutamente diferente. Quando eu comecei a gravar os meus discos, o mercado não era tão midiático como é hoje. Atualmente todo mundo faz música, existem milhões de bandas e de estilos”, analisa.
Vivemos em uma época de cultura descartável. Valorizar o texto das canções, dentro deste contexto, está cada vez mais raro. Como dizia a profecia do artista plástico, e mentor intelectual do Velvet Underground, Andy Warhol, “no futuro todos terão os seus quinze minutos de fama”. Remando contra a maré “emburrecedora” da música atual, no repertório de Lô as letras sempre tiveram destaque. Canções como “Paisagem na janela” e “Equatorial” são exemplos dessa mescla bem feita. “Eu acho que letra e música são meio que indissociáveis. Uma coisa complementa a outra. Quando você faz canção popular é preciso sempre estar ligado no texto”, afirma.
A mudança na maneira de encarar o que é arte e o que é business, nas últimas décadas, foi brutal. Hoje não basta ter talento, ser um bom letrista ou um músico de qualidade. A quantidade de discos que um artista pode vender e o quanto a sua música é acessível ao grande público são os fatores que mais pesam. “Naquela época as gravadoras tinham uma política que separava de duas formas os artistas: os de prestígio e os que vendiam discos. Eu estava na prateleira dos de prestígio. Nunca caminhei junto com o marketing da gravadora. Isso foi criado depois e, hoje, é o principal departamento de qualquer gravadora”, explica.
No próximo dia 18, Lô Borges se apresenta no Teatro Guaíra ao lado de Milton Nascimento. “Eu tenho encontrado pouco o pessoal do Clube. Quem eu tenho visto mais são o Wagner Tiso e o Milton Nascimento. Eu fui convidado pelo Bituca para participar dessa turnê onde ele está comemorando 50 anos de carreira e 40 do Clube da Esquina”, conta.
A turnê “Uma travessia” é uma grande celebração à arte musical brasileira e uma excelente oportunidade rever um dos maiores talentos de nossa MPB.
Assista ao clipe de “Horizonte Vertical”.
Somos um povo sem educação e consequentemente sem cultura. Nos dias de hoje. quando ligamos o rádio ou vamos a uma festa, somos obrigados a ouvir letras de músicas redundantes dos inúmeros grupos de pagode e o pior, temos que aturar músicas funk que só incentivam sacanagem e putaria.