Dæmonical reúne grandes nomes do Metal curitibano. (Foto - Marcos Anubis/Cwb Live)

Dæmonical reúne grandes nomes do Metal curitibano. (Foto – Marcos Anubis/Cwb Live)

 

Texto – Marcos Anubis

 

Junte músicos com passagens por importantes bandas do cenário curitibano. Acrescente talento e boas composições. Com pouco mais de dois anos de estrada, o Dæmonical une todos esses predicados e já dá mostras de que veio para se estabelecer no Death Metal da capital paranaense.

Os primeiros passos do Dæmonical foram dados em 2012 por Gabriel (guitarra e vocal) e Covero (baixo, ex-Infernal). Naquele momento a tentativa acabou não dando frutos, mas no final de 2013 Gabriel decidiu reviver a ideia como um projeto solo, gravando as músicas com a participação de alguns convidados.

Durante esse processo, a banda se firmou com a formação atual: Gabriel (guitarra e vocal), Patrick (guitarra, ex-AMF), Jefferson (bateria, ex-Sadsy e atual Jailor) e Covero (baixo, ex-Infernal). Na concepção dos próprios integrantes, o som do Dæmonical transita entre o Death e o Thrash Metal com influências de bandas como Testament, Behemoth e Slayer, entre outras. Mas o que chama realmente a atenção é que as músicas do grupo possuem uma personalidade própria, absorvendo essas referências, mas não se tornando uma cópia delas.

 

Os primeiros passos

 

Após a definição dos integrantes, era preciso criar uma identidade. Por isso, o nome Dæmonical foi escolhido a dedo. Antes de batizar a banda, Gabriel e seus asseclas procuraram se certificar de que não existia outro “similar” no universo metálico mundial. “Fizemos várias listas com ideias e selecionamos os que realmente gostávamos. Depois disso, reviramos a Internet para ver se em algum lugar do mundo já não tinha alguém usando esse nome. Finalmente, conseguimos chegar em Dæmonical. Acho que nunca pensamos em um significado específico, mas sempre buscamos algo que aliasse a oposição ao ‘normal’ e a agressividade”, explica o guitarrista e vocalista Gabriel.

No início desse ano o grupo gravou o EP “Dæmo”. O álbum foi registrado ao vivo no estúdio Seko Audioworks e produzido pela própria banda. Duas músicas, “217-A” e “Red Mass”, já foram lançadas em formato digital na plataforma Soundcloud e no YouTube. Mais duas músicas ainda devem ser divulgadas nos dois canais. “Nós não pretendemos comercializar pois ainda se trata de um material demo, gravado com a banda toda junta, sem muito refinamento técnico, o que não traz o resultado que pretendemos ter. Tudo que publicarmos por enquanto será disponibilizado gratuitamente pelos meios mencionados. Talvez façamos a distribuição do material em formato físico nos shows, mas isso ainda não está totalmente decidido”, diz.

A banda planeja lançar no ano que vem seu primeiro full lenght, gravado de acordo com o selo de qualidade que o quarteto quer. “Estamos trabalhando nas composições. Já temos seis músicas prontas, com mais algumas a caminho. Ainda não pensamos em um nome para o álbum pois estamos concentrados em trabalhar o material que estamos criando e deixá-lo o mais afiado possível”, conta Gabriel.

 

O debut

 

No mês passado o Dæmonical fez o seu primeiro show ao vivo. A performance aconteceu no 92 Graus e mostrou um grupo coeso, o que com certeza tem a ver com o fato de os integrantes já terem passagens por outras bandas importantes da cidade. “O resultado foi muito legal e bem acima do que esperávamos. O fato de todos já termos um passado em outros grupos ajudou bastante, como você disse, pois a gente já tem uma boa ideia do que fazer se alguma coisa dá errado ou se não sai exatamente como previsto”, avalia Gabriel.

De forma direta, o grupo colocou as cartas na mesa e mostrou ao público presente no 92 Graus que o início de trabalho é realmente promissor. “Às vezes a gente pensa que gostaria de ser mais novo, mas com a cabeça que temos hoje, e foi mais ou menos nessa linha. Apesar de todos termos experiência, o único que estava na ativa era o Jeff, que tocava no Sadsy e hoje faz parte do Jailor. Então foi aquela sensação de fazer a coisa pela primeira vez, mas já sabendo como fazer”, analisa.

Esse amadurecimento que os anos de estrada concedem é essencial, principalmente em uma cidade como Curitiba onde os obstáculos para o som autoral sempre foram enormes. “O entrosamento foi enorme desde o primeiro dia e isso foi impressionante. A gente tinha pensado em tirar alguns covers só para podermos nos conhecer musicalmente e ter um pouco de prática juntos, mas já no primeiro ensaio deixamos isso de lado e começamos a trabalhar no nosso material”, explica Gabriel.

A experiência acumulada pelos integrantes do Dæmonical em suas passagens por outras bandas também ajudou substancialmente quando o quarteto finalmente conseguiu consolidar a sua formação. “Esse lance de todo mundo ser macaco velho também ajudou a começar o grupo. Foi complicado para conseguir casar os horários e disponibilidade, mas a gente já entrou no estúdio com ideias e material, então em pouco tempo desenvolvemos a nossa dinâmica de composição e ensaio”, explica Gabriel.

A criação do seu material é a hora em que cada integrante deve colocar a sua vivência em prática. Compor, normalmente, é um processo coletivo que envolve egos e preferências musicais. Ao que parece o quarteto resolveu bem essa equação. “O mais legal é que todos contribuem para montar as músicas. Muitas vezes um de nós traz um riff ou o esqueleto de uma música e todo mundo dá o seu toque. No final, o resultado é bem diferente do original e enquanto todos não estão felizes com o que saiu, a gente não para de trabalhar. Acho que isso é o que completa a experiência para dar o resultado que temos apresentado no palco”, afirma.

 

Barreiras

 

Curitiba é uma cidade com seus caprichos e dificuldades. Se até as bandas dos gêneros mais populares, como o Pop, encontram dificuldades para mostrar os seus trabalhos, imagine os mais segmentados, como o Heavy Metal. Na visão de Gabriel, existe uma mudança em curso no cenário Metal curitibano. “Hoje, o Metal em Curitiba parece estar mudando. Passamos por um período de ‘quase morte’ do estilo por aqui e parece que está acontecendo um ressurgimento. As pessoas têm comparecido cada vez mais e se mostram fiéis ao estilo e às bandas locais”, analisa. “Os shows parecem ter mais público. O número de pessoas que ouvem Metal não é tão grande como foi nos anos noventa, porém o pessoal suporta mais as bandas com som próprio hoje. Isso pode ser considerado uma evolução. No geral eu diria que melhorou, apesar de que o número de pessoas que ouvem Metal no Brasil diminuiu radicalmente”, complementa.

Gabriel acredita que a realidade também melhorou em outros aspectos, principalmente na parte tecnológica. “Há 20 anos, quando os nossos integrantes começaram a tocar em outras bandas (e o Jeff ainda brincava de carrinho), gravar uma demo em cassete em um estúdio de fundo de quintal custava uma pequena fortuna”, relembra. “Hoje a maior parte dos estúdios disponibiliza o serviço por um valor razoável. A tecnologia também evoluiu e montar um home studio é relativamente fácil. As plataformas online ajudam na divulgação. Nosso principal canal, por exemplo, é o Facebook. Usamos para divulgar as músicas e as novidades da banda. O Soundcloud, Bandcamp e o YouTube também ajudam a espalhar nossa música”, complementa.

O próprio fato de que músicos com a qualidade dos integrantes do Dæmonical continuem acreditando que é possível fazer música autoral em Curitiba, demonstra uma luz no fim do túnel. Veja três momentos do show do Dæmonical no 92 Graus: “217-A”, “The Beginning” e “Dark Inside”.