Um show. Essa é a definição correta para a apresentação da banda americana Dream Theater, que aconteceu na última quinta-feira (2) no Master Hall, em Curitiba. Fora todo o contexto de som, técnica, luz e imagens que hipnotizaram o público que lotou a casa, um fato ficará na memória dos fãs: o grupo tocou durante inacreditáveis 3 horas e 20 minutos.
Antes do show, um telão gigantesco que cobria toda a frente do palco exibia imagens computadorizadas que levavam o público a uma viagem por uma galáxia imaginária. Eram 22h50 quando começou a projeção de um vídeo mostrando várias animações com as capas dos discos do grupo, com o fundo musical de “False Awakening Suite”. Em seguida, o grande pano onde as imagens eram projetadas foi baixado repentinamente e a banda iniciou o show com “The Enemy Inside”, do mais recente álbum do DT, autointitulado e lançado no ano passado.
A precisão técnica do trio James LaBrie (vocal), Jordan Rudess (teclados) e Mike Mangini (bateria) é impressionante. Mas não existem palavras para descrever o que é ver ao vivo o baixista John Myung e o guitarrista John Petrucci. Tecnicamente é desnecessário tecer algum comentário sobre os dois músicos, mas no palco também é possível perceber com clareza a criatividade e o feeling que ambos imprimem ao som do DT.
Outro destaque, além da música, foi o contexto cênico da apresentação que proporcionou uma experiência sensorial que certamente ficará na memória do público que esteve presente no Master Hall. Durante as canções eram exibidas imagens que ilustravam os vários climas que as músicas do DT possuem. A iluminação do show também era de tirar o fôlego, alternando luzes etéreas e fortes.
O setlist teve canções como “Enigma Machine”, onde Mangini executou um solo relativamente curto para os padrões da banda, levando-se em conta que set de sua bateria ocupava simplesmente 1/3 do palco. O setlist ainda teve petardos como “The Mirror”, com sua afinação baixíssima que confere ainda mais peso à melodia, e a belíssima “Lifting Shadows Off A Dream”, que começa com uma linha de baixo grave e marcado, sobreposta pelos harmônicos da guitarra de Petrucci e seguida pela melodia do teclado de Jordan Rudess.
Na primeira parada do show, uma mensagem com a palavra “Intermission” e uma contagem regressiva de 15 minutos foi mostrada no telão. Em seguida foram mostradas várias imagens, como bonecos dos integrantes da banda e vídeos postados na Internet com pessoas tocando as músicas do DT ao redor do mundo. “Finaly Free” encerrou a apresentação, depois de 3h20 de virtuosismo, luz e imagens que se uniram para dar o mais perfeito sentido para a palavra “espetáculo”.
A ditadura do politicamente correto
Há muito tempo o mundo musical não é mais mesmo, isso é um consenso. A Internet e toda a tecnologia que se agrega a ela mudou a forma com que a música é feita e comercializada. Os CDs cada vez mais perdem a sua força como produto principal das bandas, dando lugar aos shows. E é assustador o fato de que alguns artistas não se deram conta disso.
Após a primeira música da apresentação do Dream Theater, os seguranças do Master Hall, de forma educada, é verdade, abordavam as pessoas que estavam filmando com seus celulares dizendo que só era permitido tirar fotos. Quando elas alegavam que estavam usando apenas seus smartphones, os seguranças alegavam que a banda teria dado essa determinação.
Provavelmente essa diretriz tenha partido dos produtores da banda e seja válida para todos os shows no Brasil. O que acontece é que, em muitos casos, o artista nem sabe o que acontece fora do palco. No YouTube, por exemplo, é possível encontrar vídeos de shows completos dessa, e de outras turnês do DT, na Rússia, Espanha, Argentina e outros países.
Outro fato pouco agradável chamou a atenção. Muitas pessoas estavam postadas atrás da mesa de iluminação, no mezanino, e o trabalho do técnico de iluminação da banda despertou a curiosidade de boa parte dos fãs que ali estavam. Ele praticamente tocava junto com o quinteto, controlando as luzes por meio de uma tela touchscreem, onde cada música tinha o seu set de efeitos pré-definidos.
Eis que, em dado momento, um dos fãs resolveu filmar o trabalho do técnico. Ato contínuo, o gringo se virou e vociferou em 10 segundos boa parte dos palavrões do vocabulário da língua inglesa. Foi um festival de “ass”, “fuck” e outros adjetivos agressivos. Obviamente, todos que presenciaram o acesso de raiva ficaram constrangidos, não entendendo o motivo da reação deselegante e mal educada do técnico.
Atitudes como essas mostram o quanto o mundo está cada vez mais chato, cheio de regras sem sentido e que não lavam a nada. Para um artista, o mais importante é, ou deveria ser o seu fã. É ele que compra os CDs, vai aos shows e mantém a banda em atividade. Isso deveria ser o primeiro mandamento não só dos artistas, mas de seu staff que só está ali por causa deles.
Apesar desses percalços, o show do Dream Theater foi impecável e satisfez todos os fãs que enfrentaram o frio e a garoa curitibana para assistir a uma das melhores apresentações que a capital paranaense já recebeu. A banda ainda se apresenta hoje (4) em São paulo, amanhã (5) no Rio de Janeiro, na próxima terça-feira (7) em Brasília, sexta (10) em Olinda e sábado (11) em Fortaleza. Depois disso o DT segue para o Japão, dando continuidade à sua turnê.
Confira a música que abriu o show, “The Enemy Inside”.
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