O público curitibano viu de perto dois virtuoses da guitarra
Existem artistas que ficam marcados por um hit, uma música que acaba se tornando um sucesso mundial e passa a ser seu cartão de visitas. Isso é bom e ruim, pois ao mesmo tempo em que eles serão reconhecidos em qualquer lugar por conta do super hit, também correm o risco de serem rotulados como “a banda de uma música só”.
“More Than Words”, do Extreme, pode se encaixar nessa situação. Mas o público que teve a oportunidade de ver a banda ao vivo na última quinta-feira (11) no Teatro Positivo, em Curitiba, pôde perceber que o quarteto é muito mais do que seu mega hit.
Uma abertura virtuosa
O guitarrista Richie Kotzen abriu a noite de Hard Rock e fez uma apresentação excelente. Acompanhado pelo baixista Dylan Wilson e pelo baterista Mike Bennett, o power trio mostrou uma mescla de Funk (americano, logicamente), Jazz, Blues e Rock em uma alquimia muito bem construída.
Além de sua carreira solo que já reúne 20 álbuns gravados, Richie tem passagens por grupos importantes como o Mr. Big, o Poison e o power trio The Winery Dogs, ao lado do baixista Billy Sheehan e do baterista Mike Portnoy.
Richie Kotzen une sua exímia qualidade como guitarrista a um vocal melódico e bem encaixado. Um fato curioso é que ele toca sem palheta, da mesma forma que outro grande guitarrista, Mark Knopfler do Dire Straits.
Como vocalista, em muitos momentos sua voz lembra a do frontman do Soundgarden, Chris Cornell. Em se tratando de qualidade e técnica, Dylan e Bennett não ficam atrás, mantendo o andamento e a melodia das canções para que o virtuosismo de Kotzen sobressaia.
Um dos destaques do setlist foi “Cannibals”, faixa título de seu mais recente álbum lançado no início deste ano e que tem um refrão que gruda imediatamente em seu subconsciente: “Now we’re living like animals we’re becoming the cannibals. It started off with a taste and now we’re tasting what we’re made of”, diz a letra.
Parece inacreditável que as boas rádios rock do país ainda não tenham descoberto a música e a colocado em sua grade de programação. “Fooled Again” encerrou a apresentação, sob os aplausos entusiasmados da plateia.
Uma situação curiosa aconteceu durante a apresentação de Richie, quando boa parte do público desceu e foi se concentrar na beira do palco. Afinal, estamos em show de Rock, não? Depende do ponto de vista.
Assista ao vídeo de “Cannibals”, gravado ao vivo no show do Extreme no Teatro Positivo. Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).
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Extreme
Assim que Richie Kotzen deixou o palco, os alto-falantes transmitiram a mensagem de uma pessoa que parecia falar em nome do Teatro. O recado era para que o público voltasse aos seus lugares, pois eles são numerados. Em um tom sério, a pessoa disse que os produtores tinham entrado em contato com a organização e que, caso as pessoas fossem novamente para a frente do palco, o show seria “imediatamente interrompido”.
Mas o primeiro pensamento que veio à mente foi: por que diabos uma banda que tem quase três décadas de estrada e que está acostumada a tocar tanto em estádios quanto em lugares menores, encarando seu público, iria pedir para que os fãs não chegassem perto do palco? A explicação para tal atitude, que parece mais óbvia, é a de que os organizadores se preocuparam com o público que pagou para ter seu lugar marcado na primeira fila do teatro, pois eles teriam sua visão do espetáculo prejudicada com o acúmulo de pessoas nesse local.
Sob vaias, o público foi para os seus assentos, sem maiores problemas. Mas a situação ainda teria desdobramentos, como você verá a seguir. O show em Curitiba fazia parte da turnê “Pornograffitti Live – 25th Anniversary”, que celebra os 25 anos de lançamento do álbum mais emblemático do grupo, “Extreme II – Pornograffitti” (1990). O quarteto subiu ao palco perto das 22h ao som de “Decadence Dance”, que abre o álbum “Pornografitti”.
E logo de cara foi possível perceber que Gary Cherone (vocal), Nuno Bettencourt (guitarra), Pat Badger (baixo) e Kevin Figueiredo (bateria) são uma banda, no mais perfeito sentido da palavra. O substantivo se enquadra porque musicalmente, na execução das canções, todos funcionam como uma engrenagem só. Mesmo com o destaque natural que Nuno recebe, por conta do seu virtuosismo, todos os músicos fazem a sua parte e acrescentam ingredientes ao som da banda.
Uma “mea culpa” também se fez presente logo no início da apresentação quando Garry se desculpou com os brasileiros pelos 23 anos de hiato. O último, e único show do grupo no país foi em 1992 no festival Hollywood Rock. Nem eles sabem explicar o motivo que fez com que demorassem tanto para concretizar a sua “segunda vinda” ao Brasil. Na sequência do show, depois de “Get The Funk Out”, o roadie de Nuno entrou no palco para lhe entregar um violão. Ao ver a cena, todo o teatro já imaginou que um dos pontos altos da apresentação havia chegado.
Antes da canção, Nuno conversou com o público e disse que a banda queria que o todos estivem mais perto do palco, mas que eles foram informados que as regras do local não permitiam. Mais vaias para a determinação. Vale ressaltar que o Teatro Positivo é, certamente, o melhor local em Curitiba para a realização de shows. Ele é confortável, possui excelente visão e acústica, além de um estacionamento grande e seguro. Talvez uma adequação, permitindo que em shows mais vibrantes o público possa ficar perto do palco para interagir com seus ídolos, possa resolver esse tipo de situação.
Após a explicação, o guitarrista disse que iria falar em inglês, para o resto da banda entender o que ele estava dizendo. Garry então se juntou a ele no melhor estilo “um banquinho e um violão” e, aos primeiros acordes de “More Than Words”, o teatro veio abaixo com o público cantando boa parte da canção. Vendo o Extreme é impossível não reparar na qualidade técnica de Nuno, um daqueles músicos que não recebem o reconhecimento que merecem. Sabendo que virtuosismo sem criatividade não significa nada, ele mescla solos, riffs pesadíssimos e levadas que flertam com Funk, Jazz e Blues de uma forma inteligente.
O guitarrista mostrou talento até quando assumiu o piano elétrico para tocar “When I First Kissed You”. Gary também se sobressai porque é verdadeiramente um grande vocalista, pois sempre teve um bom alcance vocal e uma forte interpretação das letras das canções. Essas qualidades o levaram a ser convidado para substituir Sammy Hagar no Van Halen, após o fim do Extreme em 1996. Com o grupo de Eddie ele gravou o álbum “VIII” (1998). “Hole Hearted” encerrou a execução do álbum “Extreme II – Pornograffitti”.
A banda então se retirou rapidamente e voltou para o bis. E que bis. Foram sete músicas de “bônus” para os fãs. “Cupids Dead” do álbum “III Sides to Every Story” (1992) fechou o show. Na sequência a banda desceu do palco e foi ao encontro dos fãs, cumprimentando, tirando fotos e dando autógrafos. Antes de voltar para o camarim o quarteto ainda se reuniu no centro do palco e Garry agradeceu novamente a acolhida dos curitibanos.
Atitudes como essa mostram que ainda existem bandas que respeitam seus fãs e fazem o possível para estar ao lado deles. Foram aproximadamente duas horas, fazendo valer cada centavo do valor do ingresso. Ver um grupo com praticamente três décadas de shows em todo o mundo ainda ter o prazer de se apresentar para seus fãs e principalmente demonstrar respeito por eles, mostra que nem tudo está perdido no famigerado “mundo moderno”.
Assista ao vídeo de “More than words”, gravado ao vivo no show do Extreme no Teatro Positivo.
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