Em uma entrevista exclusiva, o vocalista do CPM 22 fala sobre o novo álbum, a realidade brasileira e a relação muito próxima da banda com a cidade de Curitiba

Neste sábado (15), o CPM 22 vem à capital paranaense para apresentar o novo álbum do grupo, “Enfrente” (2024), que marca o retorno da banda paulista aos estúdios após sete anos. O show acontece na Live Curitiba e terá abertura dos curitibanos do No Reply.

Curitiba, aliás, faz parte da história do CPM 22 desde o começo da banda e essa relação continua sendo construída de uma maneira muito próxima. “É uma cidade com a qual nós sempre tivemos uma ligação muito forte. Ela tem um público muito grande de Punk Rock e Hardcore e essas pessoas sempre se identificaram com o CPM 22. Nós fizemos shows memoráveis na cidade em diversas turnês diferentes. Desde o começo, eu sempre cito que Curitiba é uma das cidades nas quais a gente mais gosta de tocar!”, elogia o vocalista Fernando Badauí.




“Enfrente”

Fernando Badauí (vocal), Luciano Garcia e Phil Fargnoli (guitarras e backing vocals), Ali Zaher (baixo) e Daniel Siqueira (bateria) não gravavam um álbum de estúdio desde “Suor e Sacrifício” (2017).

No novo disco, a pandemia e todo o contexto que envolve a sociedade brasileira nos últimos anos entraram na mira da banda na hora de compor as 14 músicas que fazem parte do álbum. “Eu sempre procuro escrever sobre coisas que estão me incomodando, que me façam sentir algo, seja positivo, negativo ou de indignação. O álbum tem um contexto nesse sentido, mas sempre de uma maneira positiva, colocando resoluções dentro daquilo que me incomoda”, explica.

“Enfrente” é o disco liricamente mais contundente do CPM 22, pois a banda não poupou palavras para abordar as questões que eles consideram importantes. “Eu acho que chegou o momento de falar sobre o que a nossa sociedade está vivendo. Existe muito ódio gratuito, individualismo e egoísmo. Essas coisas se fazem presentes quando você vai compor um disco, não tem como ser diferente”, complementa.

Uma das faixas mais contundentes do álbum é “Covarde digital”, que aborda uma realidade que existe em qualquer parte do mundo no século XXI. Afinal, a humanidade se vangloria de estar na era da informação, na qual é possível saber praticamente tudo por meio de apenas um clique.

Porém, essa facilidade se voltou contra as pessoas por meio, principalmente, das fake news. Parece que quanto mais informação está disponível, mais as pessoas escolhem “se desinformar”.

Esse é um dos temas centrais do álbum e dessa canção, especificamente. “O ser humano poderia usar, e boa parte da sociedade usa, para coisas boas, o aprimoramento das pesquisas e tal. É o que eu faço, procuro aprimorar o meu conhecimento”, diz.

Porém, existem outros lados bem mais sombrios na rede mundial de computadores e eles vêm sendo cada vez mais explorados. “É incrível que o ser humano use (a Internet) para fazer política, doutrinar pessoas menos esclarecidas em busca de teorias da conspiração, usando mentiras e espalhando ódio gratuito”, analisa.

Dentro desse contexto nada animador, o Brasil atual esteve muito presente quando a banda compôs as músicas do álbum e isso teve reflexos diretos em cada uma das faixas, principalmente, em “Covarde digital”, na qual Badauí faz quase um desabafo em relação a esse assunto. “O que a gente vê é uma degradação do ser humano e da sociedade no mundo todo e a normalização de ideias fascistas e nazistas, por exemplo, abertamente, sem consequências. Xingamentos racistas e homofóbicos acontecem diariamente e eu acho que a demanda é tão grande que não tem nem como você atuar todo mundo. Para mim, a Internet ainda é uma terra bem sem lei, ou com uma lei para poucos. Isso é triste e gera uma falta de esperança na humanidade”, complementa.

Esse novo status quo caótico acabou provocando uma mudança na própria base de fãs de diversas bandas em todo o mundo, pois as pessoas passaram a amar ou odiar determinado artista por causa de algum posicionamento a favor, ou contra alguma questão política. “As coisas vão se separando por nichos. Os idiotas andam com os idiotas e os progressistas andam com progressistas e isso não é bom para a sociedade porque as pessoas deveriam saber conviver de maneira pacífica com ideais diferentes. Entretanto, a gente sabe que isso é uma utopia, é completamente impossível de acontecer”, diz.

O próprio Baudauí sentiu na pele esse acirramento de ânimos porque, principalmente durante a pandemia, ele foi alvo de uma legião de haters. “Hoje, eu procuro me expor bem menos porque, em determinando momento, eu resolvi me posicionar bem claramente porque via muitas coisas que me deixavam indignado. Eu ainda tenho esse sentimento, mas talvez, agora, ele seja um pouco menor”, conta.

O curioso é que muitos dos perfis que passaram a atacar o vocalista sequer conheciam o trabalho do CPM 22, o que mostra claramente que a intenção não era estabelecer um debate de ideias. “Eu fui muito xingado e atacado de maneira gratuita por pessoas completamente ‘idiotizadas’ e sem conteúdo, muitas vezes com perfis falsos. É complicado, mas é assim que funciona e a gente precisa se adaptar. Eu vi muitas bandas, artistas ou pessoas que se comunicam por meio da Internet serem xingados e tratados com muito ódio em vez de ser estabelecido um debate com argumentos”, complementa.

Algumas canções de “Enfrente” serão apresentadas aos fãs curitibanos pela primeira vez, mas é claro que um dos momentos mais emocionantes do show deve ser “Dias atrás”, um dos grandes clássicos do Rock brasileiro.

Lançada no 3º álbum do grupo, “É Hora de Recomeçar” (2003), essa canção colocou o CPM definitivamente no cenário nacional e continua sendo um dos grandes sucessos da banda. “Naquele momento no qual a gente tinha lançado só músicas mais rápidas, ela bateu muito forte na galera. Ela foi escrita pelo Ricardo Galano (guitarrista do Não Há Mais Volta e do Armada) e o nosso público se identificou bastante”, finaliza Fernando Badauí.

Os ingressos antecipados para o show deste sábado (15) custam R$ 103,50 + taxa administrativa (meia-entrada ou ingresso solidário com a doação de 1kg de alimento não perecível) e podem ser adquiridos na plataforma Disk Ingressos.

A meia-entrada é válida para estudantes, maiores de 60 anos, professores, doadores de sangue, pessoas com deficiência (PCD) e de câncer. Na compra do ingresso e na entrada do local, é obrigatória a apresentação do documento previsto em Lei que comprove a condição do beneficiário.

A casa abre às 21h e a apresentação começa às 23h59. A classificação etária é de 18 anos (menores só entram se estiverem acompanhados dos pais ou responsáveis).

A Live Curitiba fica na Rua Itajubá, 143, no Novo Mundo.

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