Texto: Marcos Anubis
Fotos: Blindagem, capa e Usina 5 (Leo de Freitas) - Motorocker (Jonny Faller) - Punkake (Nay Klin) - The Secret Society - Krucipha e Macumbazilla (Ariane Cordeiro) - Machete Bomb (Vinícius Grosbelli)

Evento reuniu mais de 8 mil pessoas e ratificou, mais um vez, que a música curitibana autoral continua viva



A “disputa por espaço” entre bandas cover e autorais, em Curitiba, já dura décadas. Nesse embate, na verdade, todos perdem porque insistem em discussões que não levam a nada. Nesse sábado (14), o Festival Crossroads Dia Mundial do Rock, que foi realizado na Usina 5, mostrou um caminho que pode trazer uma nova perspectiva para toda a cena.

O evento reuniu 33 bandas, sendo oito de música autoral curitibana (Blindagem, Motorocker, The Secret Society, Macumbazilla, Punkake, Machete Bomb, Black Maria e Krucipha) e uma de Brasília, a Scalene. Além desses grupos, também estiveram presentes 24 bandas cover/tributo.

Assim, o público teve a oportunidade de conhecer o som dessas bandas tocando em um grande evento, fato raríssimo na capital paranaense. Dentro do contexto do festival, os shows também serviram para minimizar essa incômoda divisão. “Não podemos deixar que isso aconteça! A música move as pessoas, seja autoral ou cover. Sempre lutaremos por essa união! Nossa ideia é fazer com que o público curta todo tipo de Rock’n’roll, do cover ao autoral. Fazendo essa mistura nos palcos do festival, as pessoas puderam curtir tudo de acordo com o seu tempo e o seu gosto”, diz o proprietário do Crossroads, Alessandro Reis.



Infraestrutura gigantesca

A Usina 5 está instalada perto da Linha Verde, atrás da loja Havan. O local é simplesmente gigantesco. Dentro, a sensação é a de estar em um cenário dos filmes Blade Runner ou Mad Max, afinal, os velhos e rústicos galpões industriais foram mantidos praticamente intactos. Dentro desse complexo, foram montados três palcos com excelente estrutura de som e luz. O quarto palco foi erguido em uma estrutura artificial em um dos gramados do local.

Perto de oito mil pessoas estiveram presentes no festival, em uma clara demonstração de que é possível realizar eventos desse porte. “Já começamos a formatar o do ano que vem. Traremos ainda mais novidades e atrações e, durante o ano, faremos algumas festas temáticas para esquentar as turbinas para o próximo Festival Crossroads Dia Mundial do Rock”, finaliza Alessandro.



Blindagem

Uma das apresentações mais aguardadas era, obviamente, a do Blindagem. Em um festival que procurava apresentar os artistas paranaenses para um público maior, a presença do maior ícone da música no estado era essencial.

Afinal, Paulo Teixeira e Alberto Rodriguez (guitarras e vocais), Paulo Juk (baixo e vocal), Ruben “Pato” Romero (bateria) e Rodrigo Vivazs (vocal) carregam uma aura fantástica junto de si. A mística do cantor, letrista e ícone da música paranaense, Ivo Rodrigues, ainda é muito forte nos shows do grupo e isso nunca vai (e nem deve) se perder.

A banda abriu o show com “Miragem”, seguida por “Cisco voador”. O setlist ainda teve vários clássicos, como “Lá vai o trem” e “Não posso ver”. No palco, ou fora dele, o Blindagem não precisa fazer força para ser respeitado. O grupo é admirado tanto por sua obra musical quanto pela postura que sempre teve no trato com os fãs.

Além disso, a coleção de músicas fantásticas que a banda possui em seu repertório realmente impressiona. Das mais pesadas, como “Você é igual a mim”, às baladas como “Oração de um suicida”, é difícil encontrar um curitibano que não tenha escutado uma dessas canções em algum momento da vida.

Algumas músicas se tornam ainda mais fortes ao vivo. É o caso da emocionante “Gaivota”, que talvez tenha o solo de guitarra mais sensacional da música paranaense. “Loba da estepe”, parceria de Ivo com o empresário Helinho Pimentel, também entra nesse hall de pérolas.

Com mais de 40 anos de estrada, os integrantes do Blindagem, mais do que ninguém, podem avaliar a realidade curitibana de viver entre o autoral e o cover. “Particularmente, eu acho uma besteira essa briga de autoral com o cover. Acredito que toda música é autoral sempre, independentemente de quem está tocando. Gosto muito do trabalho autoral desenvolvido em Curitiba, existem artistas ótimos nessa área, pena que não podem se desenvolver, justamente porque as bandas esbarram na falta de mercado de trabalho”, analisa Paulo Juk.

O baixista acredita que Curitiba tem algumas características próprias que tornam o trabalho autoral um pouco mais complicado. ”Dificilmente podem ser realizados eventos com esse perfil (Festival Crossroads) em teatros ou espaços para esse fim. Sobram os ‘bares’ e daí esbarra no problema do cover, não por culpa das bandas que se prestam a isso, porque também são excelentes, mas porque o público parece não ter paciência com aquilo que não conhece. Com isso, desaparece a possibilidade de mercado e bandas com ótimos trabalhos autorais também desaparecem”, complementa o baixista.

Nessa linha de pensamento, o Festival Crossroads Dia Mundial do Rock foi um tiro certeiro. “A proposta do evento do Crossroads no Usina foi fantástico. Reunir os grupos em um único espaço deu a chance para todos interagirem de uma maneira em que tanto o público quanto as bandas puderam conquistar mais espaço. Para o Blindagem, com essa ideia meio de ‘tiozões’ da galera, foi maravilhoso ver todas as bandas tocando a sua música para um grande público, não importando se era autoral ou cover.E isso com um ótimo som e um super alto astral. Só temos que parabenizar a produção e o Crossroads pelo evento. E que venham muitos outros. Foi aberta uma nova perspectiva de evento compactuado e é disso que precisamos!”, finaliza Paulo Juk.

Assista ao vídeo da música “Gaivota”, gravado pelo Cwb Live ao vivo no show na Usina 5. Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).

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Motorocker

Uma palavra define a banda curitibana Motorocker: trabalho. O grupo, que já está chegando aos 30 anos de estrada, nunca seguiu a tradicional cartilha local de reclamar muito e fazer pouco. No show na Usina 5, o grupo colheu alguns frutos gerados por essa maneira de encarar a música de forma profissional.

Com o Palco Crossroads lotado, Marcelus dos Santos (vocal), Luciano Pico e Eduardo Calegari (guitarras), Silvio Krüger (baixo) e Juan Neto (bateria) abriram o show com “Igreja universal do reino do Rock”. O setlist ainda incluiu músicas que já são bem conhecidas, como “Blues do Satanás” e “Acelera e freia”, além de outras que mostram um lado mais acústico do grupo, entre elas, “Homem livre”.

No enorme telão posicionado atrás do palco, eram exibidas imagens em tom vermelho que criavam uma atmosfera visual bem interessante. “Gentilmente, a organização da festa fez esse vídeo para nós, baseado em algumas músicas do nosso set e em imagens do CD ‘Igreja Universal do Reino do Rock’ remasterizado. Ficou animal, somos muito gratos!”, diz Marcelus.

O festival reuniu dois públicos diferentes no mesmo local: um que normalmente assiste aos shows de bandas cover e outro que prestigia as autorais. Aliás, essa “divisão” é uma discussão que se arrasta na capital paranaense desde os anos 1980. “Eu sempre brinco que a minha única briga seria contra políticos bandidos e parte do STF (risos). Quem se importa com discussões bobas nunca terá tempo ou simplesmente não quer ir pra frente. A fila anda e o tempo é implacável”, analisa Marcelus.

Há quase três décadas, mas de forma mais forte nos últimos anos, o Motorocker tem trabalhado muito na profissionalização do show da banda. Isso inclui transporte próprio (o ônibus do grupo, que foi batizado de “Cara Preta”), shows constantes em outros estados e venda de merchandising (camisetas, agasalhos e bonés, entre outros itens). O reconhecimento veio de forma gigantesca quando a banda foi convidada a se apresentar na mais recente edição do Rock in Rio, em 2017.

Na visão do vocalista, o festival mostrou um caminho que pode ser trilhado na sequência. “O Crossroads sempre fez isso no próprio bar, abrindo espaço para bandas tributo, cover e autorais. Pra mim, eles fizeram o que já faziam há anos no bar, só que em outra magnitude. Juntaram tudo e fizeram a maior festa de Rock que Curitiba já viu. É, sem dúvida, o maior exemplo a ser seguido no momento. Agregar coisas boas é, sem dúvida, sinônimo de sucesso”, elogia.

O clássico “Salve a malária” encerrou a apresentação. “O show pra nós foi excelente! Muitos amigos de longa data e parte da nossa equipe também estavam trabalhando no evento. Isso ajudou para que tudo saísse mais perto do planejado. A estrutura era digna de eventos de grande porte e, sem profissionais de nível, poderiam acontecer problemas, o que obviamente não foi o caso. Nosso público compareceu em grande número, mas certamente muita gente nos conheceu naquela noite, também. Mais um ponto positivo a nosso favor”, finaliza Marcelus.

Assista ao vídeo da música “Rock na veia”, gravado pelo Cwb Live ao vivo no show na Usina 5. Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).

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Punkake

Nos últimos anos, a banda curitibana Punkake vem construindo um trabalho sério e talentoso. Bacabí (vocal), Ingrid Richter (baixo), Lívia Calil (guitarra) chegaram até a gravar um álbum com o produtor Roy Z, um dos mais renomados do mundo do Heavy Metal. Entre outros CDs, Roy produziu o clássico “Chemical Wedding”, de Bruce Dickinson, e fez parte da banda solo do vocalista Iron Maiden.

A Punkake foi a primeira banda a se apresentar no Palco Heineken e, por isso, o público ainda estava chegando ao local. O grupo, que teve a formação completada pela baterista Aline Biscaia como convidada, abriu o show com “You and us” e, aos poucos, as pessoas foram se interessando e chegando para acompanhar a apresentação. “Nós notamos isso e foi gratificante. Estávamos até preparadas para o pouco público, devido ao horário. Quando começamos, o público estava tímido e disperso, mas nosso show foi capaz de chamar a atenção de pessoas que estavam em outros locais da Usina 5. Elas foram chegando em massa e acabaram ficando até o final. Reconhecimento é o alimento do artista!”, diz Bacabí.

As integrantes da Punkake também possuem alguns trabalhos cover. Entre eles, está a banda Mandonnas, que presta um tributo à cantora Madonna. Vivenciando essas duas realidades, o grupo consegue ter uma boa ideia desse cenário complicado que envolve as bandas autorais e cover. “Adoramos a ideia de misturar os públicos porque o público de cover acaba sendo acomodado e conformado em curtir somente os sons que ele já conhece. No show, rolou o lance da curiosidade, pois muita gente foi só pra ver como era o palco/espaço e acabou se surpreendendo e curtindo nosso show até o fim. Foi uma delícia tocar as músicas do nosso novo álbum e sermos ovacionadas pelas músicas que compusemos”, diz.

“I will never” encerrou a apresentação.“Espero que outras casas, eventos e festivais se inspirem na iniciativa do Crossroads, pois foi uma escola. Foi lindo e todos os artistas foram muito valorizados igualmente, tanto os autorais quanto os cover, e os roqueiros da cidade curtiram tudo, do início ao fim. Que venham mais misturas entre cover e autoral, o público e as bandas agradecem”, finaliza Bacabí.

Assista ao vídeo da música “Vanilla dreams”, gravado pelo Cwb Live ao vivo no show na Usina 5. Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).

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Macumbazilla

O trio Macumbazilla une Stoner com Heavy Metal de uma maneira bem criativa. Ao vivo, André Nisgoski (guitarra e vocal), Carlos “Piu” Schner (baixo, ex-integrante da lendária Resist Control) e Júlio Goss (bateria) conseguem um peso ainda maior. O grupo abriu o show com “Blood, beer and broken teeth”. O setlist ainda teve uma versão para “Should I stay or should I go”, do The Clash, que contou com a participação de Madu (Machete Bomb), no cavaquinho.

Formada em 2012, a banda está se preparando para gravar um novo álbum. Na verdade, o trio está com um CD pronto, composto por dez faixas, mas acredita que, por uma série de problemas que aconteceram durante o processo, a melhor solução é regravar todo o trabalho. “Tivemos muitos problemas na realização, o tempo passou e temos muitas músicas novas. Vamos regravar tudo novamente para deixar o trabalho uniforme”, conta. O CD foi produzido por Mike Supina, guitarrista da banda norte-americana Wilhelm Scream e teve a masterização do produtor e músico Roy Z.

O novo projeto de gravação, provavelmente, também contará com a participação de Roy Z, que trabalhou com Bruce Dickinson na carreira solo do vocalista, especialmente no álbum “Chemical Wedding” (1998). “O Roy foi indicação de um grande amigo nosso, o André Hernandes, que é um dos guitarristas mais monstros do mundo (nas palavras do Roy Z). Estamos conversando sobre futuros trabalhos com ele. Vamos gravar um CD com mais músicas e recomeçar do zero para que possamos inserir canções novas e manter a identidade”, diz Piu. O grupo já possui 15 músicas inéditas prontas para serem gravadas.

“The ritual” encerrou a apresentação. Para o trio, a participação no evento evidenciou ainda mais a força da música curitibana. “O festival foi um grande passo para a música curitibana. Podemos dizer sem medo que pela estrutura, produção e público, ele tem tudo para ser um marco histórico. Foi ótimo tocar ao lado de outras bandas de diversos estilos, foi heterogêneo! Isso pode expandir o Rock e acabar de vez com os ‘mimimis’ entre autoral e cover. Foram 8 mil pessoas se divertindo com o Rock’n’roll, esse festival foi um golaço”, finaliza Piu.

Assista ao vídeo da música “Bloody phantom”, gravado pelo Cwb Live ao vivo no show na Usina 5. Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).

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The Secret Society

Guto Diaz (baixo e vocal), Fabiano Cavassin (guitarra) e Orlando Custódio (bateria) já construíram uma rica e longa história dentro da cena musical curitibana. Tudo começou em 1986, quando Guto integrou o Epidemic, uma das primeiras bandas de Thrash Metal da capital paranaense. Praticamente na mesma época, Fabiano fez parte do Abaixo de Deus, outro grupo pioneiro na cidade.

Na sequência, nos anos 1990, os três fizeram parte do Primal, banda que incorporou elementos do Rock Industrial (de grupos como o Nine Inch Nails, o Tool e o Einstürzende Neubauten) que, naquele momento, era pouco conhecido pelo público brasileiro. Com toda essa bagagem, o novo projeto do trio, a The Secret Society, não podia ter melhores referências.

Afinal, ao ouvir o som dos grupos integrados por Guto, Fabiano e Orlando, é possível notar que a visão musical dos três, em muitos momentos, estava à frente daquela época. E o mais interessante é perceber que essa insistência em buscar algo diferente sobreviveu ao tempo. “Quando a gente começou a trabalhar o som da Secret, as músicas foram surgindo naturalmente. Até por causa do leque de influências que nós absorvemos durante todos esses anos. Eu e o Fabiano, por exemplo, tocamos juntos há mais de três décadas”, diz Guto Diaz.

A banda abriu o show com a inédita “Beyond the gates”. No repertório, o grupo incluiu seus três singles, gravados no início deste ano: “The architecture of melancholy”, “Fields of glass” e “Deciduous (Les feuilles mortes)”, que serão disponibilizados em breve. O setlist também foi composto por canções da Secret que ainda não foram gravadas, como “Rites of fire” e “A map for a lonely man”.

Obscuridade e peso

O som da The Secret Society envolve uma ampla mistura de estilos e referências. É preciso estar atento para absorver e entender a proposta da banda, mas essa é a grande motivação de quem procura fugir do lugar comum. Entre as várias influências do trio, é possível perceber os riffs carregados de drive de Billy Duffy (The Cult) e a cadência doom do Paradise Lost, além do clima soturno das ambiências do The Mission e do The Cure.

Na prática, em cima da marcação do baixo e da bateria, a guitarra soa completamente livre, navegando entre acordes e frases pontuais. “Nossas influências vêm do Metal, do Punk, do Gótico e do Pós-Punk, principalmente. Ultimamente, eu tenho ouvido muito Death Rock, que eram os góticos de Los Angeles nos anos 1980 e são uma grande influência pra gente. Apesar de a Secret ser Metal, ela não é Metal. Nós temos o peso e a agressividade, mas tentamos fugir um pouco desse rótulo porque não queremos ser rotulados. Nós somos uma banda de Rock com muitas influências”, diz Guto.

Todos esses elementos, no final, geram uma sonoridade com característica própria. Outra questão que salta aos olhos de quem conhece a Secret é a preocupação com a estética visual. Durante o show, por exemplo, o telão posicionado atrás do palco exibia imagens em todas as músicas, criando uma atmosfera que ilustrava as letras das canções. “Eu sempre fui um músico muito preocupado com performance de palco. No futuro, a ideia é ampliar e ter um vídeo para cada música, passando um pouco do que cada letra está falando”, explica.

A parte visual, que ainda inclui a belíssima logo da banda e as imagens em vídeo, é criada pelo designer Alysson Pugas. “Nós pesquisamos essa coisa das sociedades secretas e místicas, como os illuminati e, então, eu passei as referências para o Alysson. Ele criou muito bem essa simbologia das sociedades secretas, meio obscura, mística”, diz.

Outro fator que complementa o som do grupo é a temática das letras. Em “The architecture of melancholy”, por exemplo, Guto aborda a morte, um dos temas mais presentes nos textos da Secret. “Da batida de coração primal, até a última pá de terra, todos esses momentos serão perdidos no tempo, como poeira no vento. Lágrimas de lamento sobre o ossuário, torres de marfim, templos de miséria, um santuário”, diz o texto. “As minhas letras sempre foram muito politizadas, principalmente na época do Primal. Eu falava contra o sistema, contra a guerra, era uma coisa bem engajada. Na Secret Society eu fiquei um pouco mais livre pra trabalhar temas mais obscuros. Eu trato muito do tema ‘morte’, isso é recorrente nas músicas. Mas não da morte em si, na verdade, eu faço várias metáforas com a morte”, explica.

Além da gravação dos três singles, a banda também acaba de lançar o seu primeiro clipe. Produzido pela Red Records, com direção de Rapha Moraes, “The architecture of melancholy” certamente já pode ser considerado um dos melhores vídeos já criados na música curitibana. Musicalmente, ele é um retrato fiel do som da Secret e, visualmente, mostra muito bem os conceitos que envolvem a temática do grupo. “O Rapha insistiu bastante pra gente fazer o clipe. Então, eu mostrei a letra pra ele e expliquei o que eu queria dizer, porque ela é cheia de metáforas. Talvez, traduzindo, ela não tenha o sentido que eu quero passar, mas isso é do entendimento de cada um. A letra faz um paralelo entre cemitérios e uma megacidade com pessoas mortas, melancólicas, que não vivem. Elas ficam fechadas nessa solidão, na miséria de uma cidade grande. A pessoa sai do prédio onde ela mora e vai para um jazigo que, de certa forma, lembra isso. Em uma das cenas do clipe, nós filmamos um cemitério, de cima, e ele parece uma grande cidade”, finaliza Guto.

A banda encerrou o show na Usina 5 com “The infantry”, do Primal, uma “cover de nós mesmos”, como brincou Guto. O cartão de visitas que a The Secret Society tem mostrado é impactante. Ao absorver as mais variadas influências do Metal e do Pos-Punk, entre outros estilos, o grupo realmente conseguiu criar uma sonoridade bem criativa. Isso, em um cenário musical cada vez mais repetitivo, aonde as bandas são feitas em série como cópias umas das outras, nada é mais entusiasmante do que ouvir algo que realmente soa diferente.

Assista ao vídeo da música “The architecture of melancholy”, gravado pelo Cwb Live ao vivo no show na Usina 5. Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).

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Krucipha

Entre as bandas curitibanas, o Krucipha é o que melhor incorporou as influências apresentadas pelo Sepultura nos álbuns “Chaos A.D.” e, principalmente, “Roots”. Utilizando de forma inteligente os riffs em contraponto à percussão, o grupo faz muito bem o som a que se propõe. Fabiano Guolo (vocal e guitarra), Luis Ferraz (guitarra solo e backing vocal), Khaoe Rocha (baixo e backing vocal), Felipe Nester (bateria) e Nicholas Pedroso (percussão) abriram o show com “Indigenous self”, “Reason lost” e “Denial”.

A banda acabou de lançar o álbum“Inhuman Nature”. O CD foi gravado no estúdio Boom Sound Design, com produção de Lucas Pereira e mixagem/masterização do músico e produtor Karim Serri, do Silent Music Studio. “O álbum marca uma nova fase para o Krucipha. Foi a primeira vez que tivemos composições do nosso guitarrista Luís Ferraz que, junto com o Felipe Nester (compositor principal, até então), trouxe uma sonoridade muito peculiar. O time está mais fortalecido do que nunca e estamos profissionalizando a banda cada vez mais”, conta Fabiano. “O disco explora temas críticos da nossa natureza (des)humana de uma maneira muito escancarada, colocando o dedo na ferida”, complementa.

Sobre a relação tempestuosa entre as bandas cover e autorais, Fabiano tem uma opinião que vai de encontro ao pensamento de outros grupos, como o Blindagem. “Na nossa opinião, essa briga só existe porque as pessoas compram. Nos importamos 0% com o cover, porque quem decide isso é o público. Querer enfiar autoral goela abaixo de quem quer curtir cover é algo não muito inteligente. Não faz muito sentido. Você tem que conquistar seu público com sua música ao invés de exigir que curtam sua música a todo custo. A responsabilidade é nossa (de quem faz o autoral), somente nossa. E é difícil, muito difícil. Mas no geral, o Metal no Brasil é assim. Não é algo para os fracos”, analisa.

Nessa linha de pensamento, Fabiano acredita que a iniciativa do Crossroads foi importante. “No âmbito do evento (e dos eventos e casas de show em geral), um suporte da parte deles é sempre muito bem-vindo. As pessoas conhecem mais o autoral e o motivo é óbvio, então, com certeza, isso atrai muita gente. Colocar bandas autorais de qualidade entre os grupos cover com certeza é uma maneira muito inteligente de ajudar a divulgar o autoral”, diz.

“Afforddiction” encerrou a apresentação. “Foi simplesmente alucinante, um dos melhores shows da banda até agora! A estrutura e a qualidade de som estavam excelentes, tivemos um ótimo tempo de palco e público estava aquecido e responsivo, tudo que uma banda, especialmente autoral, gostaria de ter e quase nunca tem”, finaliza Fabiano.

Assista ao vídeo da música “Fomo”, gravado pelo Cwb Live ao vivo no show na Usina 5. Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).

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Machete Bomb

A mistura de Hip Hop, Rap, Rock e outros estilos aprsentada pelo Machete Bomb agradou em cheio o público no palco Heineken. Madu (cavaquinho), Daniel Perim (bateria), Rodrigo Spinardi (percussão), Vitor Salmazo (vocal) e Rodrigo Suspiro (baixo) abriram o show com “Fatcap”, faixa do álbum “Saga do Cavaco Profano” (2017).

Ao vivo, o som do grupo impressiona ainda mais por causa do peso que o quinteto consegue, mesmo sem usar um guitarrista na formação. “O giroflex refletiu e vai rodar geral”, que também fez parte do setlist do show, é um belo exemplo dessa sonoridade.

O que mais chama a atenção no Machete Bomb é o uso do cavaquinho praticamente no papel de guitarra. Por meio de pedais de efeito, Madu reiventa o uso dos riffs e bases na concepção do som do grupo de forma criativa e inovadora. “Nós fazemos isso desde 2002, a banda original (até 2005, o grupo se chamou Zacenpre). O Mundo Livre S/A até queria lançar a gente, na época, mas acabou não rolando porque eu era molecão, a galera não levava a sério, enfim… Eu juntei a banda novamente em 2013 e voltei a trabalhar nisso, então, muitas músicas são antigas. O Fred 04 (vocalista do Mundo Livre S/A) usa poucos efeitos. Eu realmente fui lá e enfiei um monte de tralha. Na época, o Fred e o Bactéria piraram, mas aí aconteceu o que sempre acontece: a galera não era profissional e deu zica”, conta Madu.

O público participou do show de forma intensa, cantando as músicas e dançando ao som do grupo. O setlist ainda teve “Carnaval no Largo” e “Babilônia suja”, entre outras músicas. “O show foi legal pra caramba! A gente já tem um público aqui, mas além das pessoas que foram prestigiar, eu também fiquei surpreso porque muita gente que já tinha ouvido falar do Machete ficou pra ver a banda, mesmo com os shows de outros grupos que estavam acontecendo no mesmo horário. Curitiba é sempre uma cidade estranha pra gente tocar, mesmo que a gente seja daqui. Nós fizemos um show em Belém, por exemplo, e lá tinha mais gente cantando nossas músicas do que aqui. Mas isso é uma coisa de Curitiba. Aqui, as pessoas tem essa característica de não ir atrás de coisas novas enquanto São Paulo e Rio não derem um aval, tipo ‘escutem isso aqui que é foda’, daí Curitiba vai parar pra escutar”, analisa Madu.

Em relação ao tema autoral x cover, Madu tem uma visão bem particular. “Nós estávamos conversando com o pessoal do Scalene no camarim, e eles estavam meio espantados por ver que as bandas estavam anunciadas como ‘autorais’ e ‘cover’. Eles não entenderam. Os festivais ‘lá fora’ (de Curitiba) são sempre autorais, mas acredito que o Alessandro do Crossroads construiu um caminho bem interessante! O Crossroads é uma casa importantíssima que tem anos de história. Eles têm um público que vai ao bar para ver os grupo cover e, por meio do festival, procuraram mostrar para essas pessoas que o Rock (autoral) ainda existe. Isso é do caralho! E tudo isso com a credibilidade que ele tem e que colocou a favor das bandas. De repente, se o público não daria valor para alguma banda autoral, ele colocou todo mundo em palcos com uma puta estrutura, chamou bandas autorais de peso e também de fora do estado, enfim, eu acho que o Ale teve uma sacada muito boa! Foi um caminho que o Ale escolheu e foi muito bem traçado, com muita coragem”, finaliza Madu.

O Machete Bomb se mostra pronto e no mesmo nível de qualquer banda brasileira do estilo. Com uma formação coesa que, ao vivo, consegue reproduzir com fidelidade a sonoridade do estúdio, o grupo tem tudo para continuar conquistando seu espaço no Brasil.

Assista ao vídeo da música “O giroflex refletiu e vai rodar geral”, gravado pelo Cwb Live ao vivo no show na Usina 5. Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).

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