A noite, que ainda teve a banda paulista Ego Kill Talent, ficará marcada como um dos maiores shows que Curitiba já presenciou

Dave Growl é um cara bem-humorado, que leva a carreira de músico com leveza, procurando se divertir. Nessa sexta-feira (2), os 22 mil fãs curitibanos que praticamente lotaram a Pedreira Paulo Leminski puderam ver de perto a simplicidade do líder do Foo Fighters, um dos motivos que fazem com que o grupo se mantenha no topo há mais de 20 anos.

A noite ainda contou com o Queens of the Stone Age, de Josh Homme, uma das figuras mais polêmicas do cenário musical atualmente. A abertura coube ao grupo paulista Ego Kill Talent, do ex-baterista do Sepultura, Jean Donabella, que surpreendeu com um grande show.



Foo Fighters

Dave Grohl (vocal e guitarra), Pat Smear e Chris Shiflett (guitarras), Nate Mendel (baixo), Rami Jaffee (teclado) e Taylor Hawkins (bateria) tocaram durante inacreditáveis duas horas e meia! A atitude resume perfeitamente o nível de envolvimento que o Foo Fighters tem com seus fãs. A disposição de brindar o público com boa parte dos clássicos da banda é uma prova do respeito que o grupo tem por seu público.

O Foo Fighters abriu o show com a nova “Run”, do recém-lançado “Concrete and Gold”, “All My Life” e “Learn to Fly”. No repertório, não faltaram clássicos que marcaram os 24 anos de história da banda, como “Monkey wrench”, “My hero”, “Learn to fly” e “These days”.

Em “Breakout”, Dave pediu para que as luzes fossem apagadas e o público usasse os seus celulares para iluminar a noite. O que se viu foi um belíssimo espetáculo, com toda a Pedreira iluminada.

Durante o show, quando os integrantes foram apresentados, cada um deles teve um “momento solo”. Taylor, por exemplo, saiu da bateria e assumiu os vocais para cantar o clássico “Under pressure”, do Queen, e Pat Smear puxou “Blitzkrieg Bop”, dos Ramones.

Descontraído, vendo que a Pedreira estava abarrotada de gente, Dave chegou a brincar com o público. “Uau, nós temos pessoas até nas montanhas!”, disse ao ver os fãs que também lotavam os camaratores posicionados do lado esquerdo do palco.

“Foo Fighters” (1995), o álbum de estreia da banda, pode ser considerado o disco mais underground do grupo. Misturando a melancolia pelo momento de perda de seu companheiro de banda à fúria que Growl sempre carregou dentro de si, o CD fez com que Dave e Smear tivessem a certeza de que haveria vida sem Kurt Cobain. O álbum seguinte, “The Colour and the Shape” (1997), já trazia elementos Rock/Pop que definiriam o som da banda e a tornariam um estrondoso sucesso comercial em todo o mundo.

Growl conseguiu colocar o Foo Fighters em um limiar em que poucos sabem se equilibrar: manter a pegada Rock’n’roll e chegar muito perto do Pop sem perder a qualidade e a criatividade das músicas. Nessa linha tênue, o grupo é capaz de criar clássicos com refrões que ficam na cabeça mesmo de quem não acompanha a banda, como “My hero” e “Everlong”.

Além disso, Dave é um frontman fantástico. Seu domínio de palco e sua ascensão sobre o público impressionam. Não deixa de gerar certa surpresa ao lembrar do cara “tímido” que se escondia atrás da bateria do Nirvana.

Após “Times like these”, cantada por todo o público, a banda se retirou do palco. Nos bastidores, uma câmera mostrava no telão as brincadeiras de Dave e Taylor instigando o público a chamar a banda novamente. Na volta para o bis, o grupo tocou a nova “Dirty water”, que fará parte do próximo álbum, “Big me”, e encerrou com “Everlong”. Quando formaram a banda logo o fim do Nirvana, Dave Growl e Pat Smear certamente não tinham ideia da longevidade que o Foo Fighters teria e do sucesso que alcançariam.

Na saída da Pedreira, a sensação do público era de que a banda fez valer cada centavo do preço do ingresso. Em um mundo em que o business é cada vez mais a prioridade, esse “amadorismo”, esse prazer de tocar para os seus fãs é algo cada vez mais raro. Uma atitude dessas, vinda de uma banda que lota estádios em todo o mundo, deve ser valorizada e aplaudida.

Confira o vídeo da música “Breakout”, gravada ao vivo no show do Foo Fighters na Pedreira.

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Queens of the Stone Age

O Queens of the Stone Age não é uma banda simples de alguém gostar. Por isso, a quantidade de fãs que o grupo tem no Brasil não deixa de ser surpreendente. O som do QOTSA é baseado no passado Stoner de Joshua Homme (vocal e guitarra), mas não se prende somente a isso. O grupo usa muita criatividade para construir suas canções, principalmente nos ritmos quebrados de guitarra e bateria que, em várias ocasiões, parecem seguir em sentidos totalmente opostos.

Joshua Homme (vocal e guitarra), Troy Van Leeuwen e Dean Fertita (guitarras), Michael Shuman (baixo) e Jon Theodore (bateria) abriram o show com “My God is the sun, “Burn the witch” e “In my head”.

O setlist passeou pelos 23 anos de estrada da banda e teve vários bons momentos. Entre eles, “The evil has landed”, do recém-lançado “Villains” (2017), o 7º álbum de estúdio do grupo, e “No one knows”, do 3º CD dos norte-americanos, “Songs for the Deaf” (2002).

O palco foi montado com várias hastes repletas de leds coloridos, o que dava um efeito visual muito interessante. De vez em quando, os integrantes da banda “interagiam” com as hastes, chutando para que elas balançassem.

A figura central do QOTSA, sem dúvidas, é Joshua Homme. Ele surgiu para o mundo da música no final dos anos 1980 com o Kyuss, banda californiana de Stoner. Na época, Josh ficou marcado por usar amplificadores de baixo em sua guitarra, o que transformava o som, deixando-o mais grave e encorpado. O grupo acabou em 1995, após o lançamento do álbum “And the Circus Leaves Town”. No ano seguinte, Josh montou o QOTSA.

O Queens of the Stone Age começou a ficar mais conhecido no Brasil após a apresentação no 2º Rock in Rio, em 2001. Na ocasião, o então baixista da banda, Nick Oliveri, gerou muita polêmica ao tocar pelado no palco da Cidade do Rock. Na época, ele alegou que viu muitos vídeos do Carnaval brasileiro e achou que a atitude era normal e não provocaria problemas. Na saída do palco, Nick foi preso.

Porém, as polêmicas não abandonaram Josh e sua banda. No final do ano passado, por exemplo, em um show no KROQ Almost Acoustic Christmas, na Califórnia, o vocalista foi acusado de dar um chute no rosto da fotógrafa Chelsea Lauren. A agressão foi, inclusive, filmada. Na mesma apresentação, o músico ainda provocou os fãs do Muse, a atração principal da da noite, dizendo que “não dava a mínima” para a banda e ainda cortou a própria testa com um objeto que foi jogado no palco. Na Pedreira, Josh estava mais “simpático”.

Em vários momentos do show, o líder do QOTSA se dirigiu ao público perguntando se todos estavam se divertindo. Em uma delas, Josh citou a fala mais famosa do filme “Warriors” (1979), que saiu no Brasil como “Os Selvagens da Noite”. No filme, em uma reunião com todas as gangues de Nova York, o personagem Cyrus, interpretado pelo ator Roger Hill, pergunta para os milhares de “soldados” do underground nova iorquino: “Can you dig it? (vocês sacaram?)”. A intenção de Cyrus é unir todas as gangues contra a polícia e dominar a cidade. O vocalista também quase chegou a parar uma música quando percebeu um início de confusão em frente ao palco. “Nós viemos de longe, de um lugar com caras maus, então, é lindo estar aqui tocando para um público desse”, disse visivelmente emocionado.

“A Song for the dead” encerrou a apresentação, com a banda saindo rapidamente do palco. Somente Josh permaneceu e agradeceu o público durante alguns minutos.

Confira o vídeo da música “The evil has landed”, gravada ao vivo no show do Queens of The Stone Age na Pedreira.

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Ego Kill Talent

A banda paulista Ego Kill Talent abriu a noite com um show extremamente profissional. Capitaneados pelo excelente ex-baterista do Sepultura, Jean Donabella, a banda usa tendências do Heavy Metal “moderno” para criar um som potente e que agrada em cheio as novas gerações.

A receita inclui uma afinação mais baixa, que acrescenta muito mais peso aos acordes, e refrões ao estilo Linkin Park e outros grupos do NU Metal. Não existe nada muito “novo” no som do grupo, mas eles executam muito bem o que se propõem a fazer.

Jonathan Correa (vocal), Niper Boaventura (guitarra e baixo), Theo van der Loo (guitarra e baixo), Raphael Miranda (bateria e baixo) e Jean Dolabella (bateria e guitarra) abriram o show com “Just to call you mine”.

O grupo foi formado em 2013 e, nos últimos anos, vem conseguindo destaque no cenário nacional. Além disso, a banda também deu os seus primeiros passos fora do país. No ano passado, por exemplo, o Ego Kill Talent chegou a fazer shows na França, na cidade de Nimes, e no Download Festival, na Inglaterra, reconhecido como um dos mais importantes eventos musicais do mundo.

O público na Pedreira recebeu muito bem a banda, o que fez com que Jonathan agradecesse em várias ocasiões. “Obrigado por essa energia, é muito bom estar aqui. Vocês são foda”, disse. “Last ride”, música que a banda está trabalhando atualmente, encerrou a apresentação.

Confira a música “Last ride” gravada ao vivo no show do Ego KIll Talent na Pedreira.

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