Texto: Marcos Anubis
Revisão e fotos: Pri Oliveira

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O Barão Vermelho talvez tenha sido a banda mais Rock’n’roll do país. Seguramente é uma delas, ao lado do Made in Brazil e de outros grupos que fizeram da crueza do Rock a sua maior arma. Durante mais de 30 anos, o Barão investiu em um som forte e marcante, no qual as guitarras sempre estiveram na linha de frente.

Em 2013, após a turnê “+1 Dose”, que comemorava suas três décadas de vida, a banda resolveu entrar em recesso por tempo indeterminado. A partir daí, o vocalista, guitarrista e membro-fundador do Barão, Frejat, partiu definitivamente para um trabalho solo que já vinha se desenhando nos últimos anos da banda.

Nesse sábado (24), Frejat se apresentou no Teatro Positivo, em Curitiba, e surpreendeu o público por causa da versatilidade do repertório apresentado.

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Skayfa

A abertura foi da banda curitibana Skayfa. Cristiano Vaz (bateria), Daniel Ribeiro (voz e violão), Tarso Mastella  (baixo) e Eduardo Baú (baixo) baseiam o seu som em um ambiente mais acústico, algo entre Nick Cave e Coldplay. No show, o quarteto ainda teve a participação especial do guitarrista Henrique.

Privilegiando as letras, as levadas de violão e os teclados, o grupo agradou ao público que aguardava o show do ex-Barão Vermelho Frejat. “Acho que essas referências que você citou são ótimas. Realmente nos preocupamos muito com as melodias e letras.  Nosso som é bem simples. Para nós, a mensagem vem em primeiro lugar. Menos barulho e mais amor”, explica Cristiano.

No setlist do show, a banda apresentou oito músicas, entre elas “Sobre mim”, “Girassol” e “Clara”. Essas canções devem fazer parte de seu primeiro CD, que será lançado em breve. O álbum de estreia ainda não foi “batizado”, mas isso deve acontecer durante a gravação. “Ainda não pensamos no nome. Achamos melhor deixar surgir durante as gravações, pois vai soar mais verdadeiro”, conta.

O produtor, porém, já está definido: será o ex-guitarrista do Barão Vermelho, Fernando Magalhães. “Eu conheço o Fernando há uns dez anos. Ele já produziu dois discos de outras bandas que eu tive. Nos ensaios, eu sugeri o nome dele e todos toparam”, diz.

O passo seguinte foi enviar uma demo da música “Alquimia” para que Fernando tivesse uma noção do caminho trilhado pelo grupo. “Ele topou na hora fazer o disco. Então, regravamos as bases dessa música no estúdio Áudio Coruja aqui em Curitiba e mandamos para o Rio de Janeiro. Lá, o Fernando entrou no Estúdio Dubrou, que é do Frejat, e gravou as guitarras na canção com extremo bom gosto. Bom, é o Fernando Magalhaes, né? Para nós, ele é um dos melhores guitarristas do Brasil”, complementa.

A produção do álbum também terá a participação do engenheiro de som Rodrigo Lopes. “Ele é  um dos melhores engenheiros de áudio do Brasil e está assinando a produção junto com o Fernando. O Rodrigo também é o responsável por boa parte da sonoridade da banda, além de gravar e mixar o nosso material. Rodrigo Lopes é o quinto elemento da banda”, diz.

Serão 11 faixas, entre elas “Chance” e “O que pode curar”, além da já citada “Alquimia”. As gravações devem ser realizadas em Curitiba, no estúdio Gramofone. “Acabamos de filmar o nosso primeiro clipe lá e curtimos muito o ambiente e a estrutura. Achamos que será uma boa escolha”, afirma.

Como quase toda banda, a Skayfa começou tocando covers. A partir do momento em que resolveu fazer música autoral, o grupo também passará a enfrentar o difícil cenário curitibano. “Apesar de morarmos aqui, somos de quatro estados diferentes: Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Conhecemos pouco o mercado autoral de Curitiba. Talvez isso nos ajude a não ter nenhum receio de meter a cara”, opina.

Ter um nome do porte de Fernando Magalhães trabalhando com a banda certamente abrirá portas para a Skayfa.

Seres de luz

A Skayfa, além de se preocupar com a música e as letras de suas canções,  também procura passar a sua mensagem de outras formas. O nome da banda, por exemplo, carrega um significado especial para seus integrantes. “Skayfa resgata o significado de 15 seres que serão enviados a 15 planetas para salvá-los por meio do amor. Nesse fio condutor, vem a banda com nossas canções. Não com o intuito de salvar o planeta, seria muita prepotência. O Skayfa só quer compartilhar lindas canções com as pessoas”, explica.

O pontapé inicial foi dado de uma forma extremamente especial – privilégio que poucas bandas em início de carreira conseguem ter. Cabe ao Skayfa, daqui para frente, construir o seu caminho. “Estrear em um palco como o do Teatro Positivo e abrindo o show do Frejat foi intenso e maravilhoso. Ficamos muito felizes com a reação da plateia. Por se tratar de uma banda desconhecida, foi uma surpresa. Vamos em frente!”, finaliza Cristiano.

Assista ao clipe da música “Alquimia”, lançado pelo Skayfa na semana passada.

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Frejat

O show começou com “Divino maravilhoso”, seguida do clássico “Maior abandonado”. Uma parcela significativa do repertório de seu novo show, batizado de “Frejat ao vivo”, foi composto por covers. De Tim Maia a Rita Lee, Frejat passeou por artistas que, de alguma forma, influenciaram a sua carreira.

No geral, o público, que dançou e cantou durante toda a apresentação, parece ter gostado do formato do show. Alguns fãs que acompanham a carreira de Frejat mais de perto, porém, vibravam bem  mais quando o músico apresentava a sua obra autoral.

No set acústico da noite, Frejat empunhou seu violão para cantar alguns dos grandes sucessos de sua carreira solo, entre eles “Amor pra recomeçar” e “Segredos”.

No entanto, era quando a guitarra de Frejat soava mais alto, como nos riffs e solos raivosos de “Exagerado” e “Por que a gente é assim”,  que a alma de sua música ficava mais clara. Nesses momentos, os fãs automaticamente reagiam com mais entusiasmo.

Um show especial

Frejat dedicou o show ao percussionista Peninha, que faleceu na última segunda- feira (19). Peninha passou a fazer parte oficialmente ao Barão logo após o disco “Declare Guerra” (1986), mas foi no álbum “Carnaval” (1990) que sua influência pode ser notada de forma mais nítida.

O disco absorvia a percussão em meio ao Rock cru e direto que sempre foi a característica do grupo. Se hoje isso é comum, naquela época era um ato de coragem. Um grande exemplo dessa fusão é a música “Pense e dance”, na qual logo na introdução, os timbales tocados por Peninha davam toda a atmosfera para a música.

“Pro dia nascer feliz” encerrou a apresentação. Ao cantar essa música no primeiro Rock in Rio, em 1985, Cazuza levou às lágrimas as quase 200 mil pessoas que estavam na Cidade do Rock no Rio de Janeiro. Isso aconteceu porque o simbolismo da letra dessa canção, naquele momento, era gigantesco.

No mesmo dia, Tancredo Neves tinha sido eleito presidente do Brasil, ainda que indiretamente. Pairava sobre o público uma aura de esperança em um futuro melhor para o país. Esperança essa que seria destruída com a morte de Tancredo e com os governos que viriam nos anos seguintes. De qualquer forma, a partir dali, “Pro dia nascer feliz” ficou marcada como um dos maiores clássicos da carreira do Barão.

Infelizmente, a história de um dos maiores grupos do rock nacional, ao que parece, ficará somente na lembrança dos fãs. Nos últimos anos, Frejat escolheu outro caminho para a sua carreira. E essa nova estrada, ao que tudo indica, será trilhada longe da sombra do Barão Vermelho.

Confira três músicas do show: “Maior abandonado”, “Segredos” e “Pro dia nascer feliz”.