Texto: Marcos Anubis
Fotos e revisão: Pri Oliveira

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Manter viva a obra de grandes artistas brasileiros é cada vez mais necessário. Afinal, no cenário que se apresenta no país há algum tempo, a história parece valer cada vez menos. Dessa forma, artistas como Belchior, falecido em 2017, passam quase despercebidos, quando deveriam estar na linha de frente em qualquer situação que envolvesse a música brasileira.

Procurando manter esse legado, o cantor, compositor e ator cearense Gero Camilo fez, nessa quarta-feira (24), a primeira de uma série de quatro apresentações na Caixa Cultural Curitiba.

Gero abriu o show com três das canções mais emblemáticas da carreira de Belchior: “Rapaz latino-americano”, “Velha roupa colorida” e “Como nossos pais”. O setlist do show “Gero Camilo Canta Belchior” é baseado no álbum “Alucinação” (1976), que foi apresentado na íntegra, mas também tem espaço para outras homenagens.

No show, Gero é acompanhado pela banda Caroço de Aurora, composta por Rovilson Pascoal (guitarras), André Bedurê (baixo), Simone Julian (sax e flautas), Hugo Carranca (bateria) e Ricardo Prado (teclados).

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Ousadia e sensibilidade

O grande perigo de apresentar tantas versões para a obra de um grande artista é a comparação com as músicas originais. Provavelmente conscientes disso, Gero e a banda Caroço de Aurora conseguiram transformar a obra de Belchior, dando novos arranjos e até andamentos às canções.

Outra grande característica do espetáculo é a maneira emocionante e envolvente com que Gero interpreta as letras das músicas. No palco, o público percebe claramente que a imersão na obra de Belchior é completa, e a maior prova disso foi a reação dos curitibanos. Durante todo o show, Gero foi aplaudido efusivamente. Além disso, as quatro noites da miniturnê em Curitiba estão com os ingressos esgotados antecipadamente.

Belchior, que completaria 72 anos de idade nesta sexta-feira (26), era de certa forma um cronista que usava a poesia urbana de forma lúdica e essencialmente humana. Assim, ele conseguiu criar canções que já passaram dos 40 anos, mas que poderiam ter sido compostas hoje.

Uma delas é “Como o Diabo gosta” (um dos pontos altos do show), cuja letra aborda a necessidade de não se submeter a nenhum controle, seja ele qual for. “O que transforma o velho no novo, bendito fruto do povo será. E a única forma que pode ser norma é nenhuma regra ter. É nunca fazer nada que o mestre mandar. Sempre desobedecer, nunca reverenciar”, cantava Belchior.

Depois de “Palmas”, versão para a canção original do cantor, músico e compositor cearense Ednardo, Gero “pediu licença” para tocar “Vai desabar”, a única composição própria presente no repertório. A canção faz parte do álbum “Canções de Invento” (2008) que, ao lado do CD “Megatamainho” (2014), compõe a discografia autoral de Gero Camilo.

Na sequência, após uma breve saída do palco, Gero e os músicos voltaram para encerrar o show com “Coração selvagem” e uma versão para “Congênito”, de Luiz Melodia.

O espetáculo “Gero Camilo Canta Belchior” é uma grande homenagem a um dos maiores nomes da MPB. Contestador, Belchior usava as letras das canções para abordar questões filosóficas, existencialistas, mas usando uma linguagem muito próxima de qualquer um de nós.

Hoje, o tributo prestado por Gero Camilo mostra que artistas desse porte são ainda mais essenciais para fazer com que qualquer cidadão consiga entender um pouco da realidade social brasileira vivida nas últimas décadas.

Confira a música “Velha roupa colorida”, gravada ao vivo no show de Gero Camilo na Caixa Cultural Curitiba e veja também o álbum de fotos da apresentação.

Gero Camilo canta Belchior - Caixa Cultural - 24/10/2018