Texto e foto: Marcos Anubis

Mais de 15 mil pessoas acompanharam a banda de Papa Emeritus no BioParque



Nessa terça-feira (24), Curitiba recebeu três das mais importantes bandas do Heavy Metal mundial na atualidade. Ghost, Slayer e Iron Maiden fizeram as mais de 15 mil pessoas que lotaram o BioParque saírem de alma lavada. O Cwb Live optou por falar sobre cada show separadamente, para poder abordar de forma mais intensa cada apresentação.

Os suecos do Ghost abriram a noite com uma performance marcante. A banda entrou no palco ao som de “Masked ball”, composição da artista inglesa Jocelyn Pook. O ar sinistro dos vocais da canção já preparava o show que viria a seguir.

A faixa que dá nome ao recém-lançado segundo álbum do grupo, “Infestissumam”, veio em seguida. Cantada em latim, ela cria todo o clima que, se bem entendido pelo público, transforma o show do Ghost em uma experiência única. “Il Padre, Il Filio Et Lo Spiritus Malum. Omnis Caelestis Delenda Est. Anti Cristus. Il Filio De Sathanas. Infestissumam”, diz a letra.

Após a introdução, o vocalista Papa Emeritus II entrou no palco, com passos cadenciados e ar introspectivo, saudando a plateia e cantando “Per aspera ad inferi”.

“Boa-noite Curitiba!”, disse Emeritus em bom português, ao final da música. Na sequência, nas primeiras notas do riff de baixo que inicia “Con clavi con Dio”, o público que começavam a lotar o BioParque já davam sinais de que a recepção que daria ao grupo seria muito diferente da recebida pelos suecos no Rock in Rio.

“Ritual”, do primeiro trabalho da banda, “Opus Eponymous” (2010), foi um dos destaques do setlist. A canção,  que mistura peso e melodia, caberia perfeitamente na programação das rádios brasileiras, se elas estivessem preocupadas com a qualidade dos artistas e não só com a parte comercial do que levam ao ar. “O nosso anjo caído controverso foi banido do céu. Recite agora, a partir do texto. Ore para todos morrerem”, diz a letra.

A bióloga Elisa Villasanti (27), que foi ao show especialmente para assistir a apresentação do Ghost, acredita que os suecos confirmaram a expectativa dos fãs. “Achei o show incrível, com uma atmosfera completamente surreal, de muito bom gosto”, afirmou.

O som dos suecos tem características diferentes que chamaram a atenção de Elisa. “Me lembra os filmes de terror antigos nos quais a música entra na sua mente. É uma sinfonia mortal”, analisa.

Pedindo a participação do público, a banda encerrou o show com “Monstrance clock”. Após agradecer com um “muito obrigado, gente”, Papa Emeritus II e o grupo se retiraram lentamente do palco, enquanto uma gravação com o refrão da música soava nos auto-falantes. “Come together, together as a one. Come together for Lucifer’s son”…

Teatralidade e religião

Com um som baseado no Heavy Metal, o Ghost mistura vários elementos musicais em seu caldeirão sonoro, como Doom Metal, Metal Melódico e, sim, até Pop. A teatralidade da apresentação chama muito a atenção, não só pelo fato de os músicos não mostrarem os rostos, mastambém pela postura de palco.

Isso não é novidade no mundo do Rock. Na década de 1970, o performático vocalista Alice Cooper já  acrescentava elementos cênicos em seus shows. Segundo os integrantes do Ghost, a ideia central da banda é concentrar toda a atenção do público na música e não nas imagens dos músicos. Por causa disso, os instrumentistas tocam com hábitos de monge e com os rostos escondidos por máscaras.

Logicamente, o fato de o vocalista Papa Emeritus II se apresentar vestido como pontífice gera muita polêmica. Por causa de dogmas e preconceitos, a banda foi alvo de muitas críticas infundadas na sua passagem pelo Brasil.

Como a música, hoje, está estagnada, qualquer atitude que fuja do comum gera estranhamento. “Aqui no Brasil o pessoal ainda respeita demais a religião, é assim mesmo! O importante é que muitas pessoas vão se identificar e a qualidade do som é impecável”, diz Elisa.

A questão religiosa, mesmo no século 21, ainda é levada em consideração por algumas pessoas na hora de falar do grupo. As críticas à Igreja, seja no visual do vocalista Papa Emeritus ou nas letras das canções, são posições que qualquer cidadão pode ter, independentemente de gostar de Rock, Funk, Pagode ou Música Clássica. Na grande maioria das matérias da mídia brasileira, durante a passagem do Ghost pelo Brasil, essa foi a questão mais abordada. Lembrando que vivemos em um estado laico…

Respeito

A recepção que o Ghost teve em Curitiba é digna de registro. Se na apresentação da banda no Rock in Rio, na última quinta-feira (19), o público foi frio e desrespeitoso, na capital paranaense isso não aconteceu. Desde o começo do show os fãs receberam muito bem os suecos, aplaudindo, cantando e gritando o nome do grupo.

Em um mundo no qual, cada vez mais, as pessoas se forçam a viver sob a égide falsa do “politicamente correto”, é mais do que positivo surgirem bandas como o Ghost, que usam a música para expor suas críticas ao status quo vigente.

O Rock sempre se dispôs a ser uma voz divergente dentro da sociedade. A lista de músicos que, pelo menos em algum momento de suas trajetórias, tiveram posições firmes e opiniões diversas do maioria das pessoas, vai de Bob Dylan a Simple Minds. Assim, é muito bom ver que ainda existem artistas que empunham essas bandeiras.

Assista ao vídeo de “Masked ball”,  “Infestissumam” e “Per aspera ad inferi”, gravado ao vivo no show do Ghost no BioParque.

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