Texto: Marcos Anubis
Revisão e fotos: Pri Oliveira
O baixista e guitarrista Hernan Oliveira e o baterista Johnny R. R., dois dos músicos mais representativos do cenário Heavy Metal curitibano, estão com um novo projeto. Batizado de Giant Gutter From Outer Space, a dupla tem como ideia central a criação de um som pesado, cru, experimental e, na medida do possível, livre. O fato é que a formação nada usual, que usa somente baixo e bateria, reflete todas essas características pensadas por eles.
A folha de serviços prestados à música curitibana de Hernan e Johnny é extensa. O baixista ainda mantém o Anmod (ao lado do próprio Johnny) e já tocou no Imperious Malevolence, Infernal e Ethel Hunter. Johnny já fez parte do Flesh Grinder, Fornication (com Hernan) e Hecatomb, entre outros grupos.
O novo projeto
O som do Giant lembra algumas bandas importantes da década de 1990, como o Helmet e o Primus, além do Philm, projeto atual do ex-baterista do Slayer, Dave Lombardo. O trabalho difere bastante do tipo de trabalho que Hernan e Johnny fizeram até hoje em suas carreiras, mas a intenção era justamente a de se “aventurar” e não impor barreiras à música. “Foi um processo difícil que passou por várias fases. Refizemos e rearranjamos essas músicas várias e várias vezes e muitas ideias foram abandonadas”, explica Hernan.
O resultado dessa liberdade criativa é evidente. Recebendo outras influências e não se prendendo a um formato definitivo, as canções da banda procuram, justamente, navegar em outros mares. “De modo geral, este material é o resultado espontâneo e natural de nosso envolvimento com outros estilos. O Johnny tem dedicado boa parte do seu tempo pesquisando música vanguardista e experimental, e toda essa influência tem impactado na nossa música”, diz o baixista. “Eu tenho me envolvido bastante com música progressiva, com atenção total às décadas de 1960 e 1970. Tais influências podem ser percebidas, direta ou indiretamente, no nosso som”, complementa.
O debut
A banda acaba de lançar seu primeiro EP. “Set Adrift” traz cinco faixas instrumentais gravadas no estúdio Avant Garde, do produtor e músico Maiko Thomé. O cuidado com o álbum foi tanto que só foram prensadas 300 cópias, numeradas à mão. “Esta ideia veio à tona um pouco antes do fim do processo de composição. Pensamos em uma prensagem menor, limitada em 300 cópias e numerada à mão por acreditarmos que desse modo atribuiríamos maior valor artístico ao material lançado”, afirma.
Outro aspecto que chama a atenção é que as cinco músicas de “Set Adrift” não são “sobras” dos outros trabalhos da dupla. Elas foram compostas após a definição do novo projeto. “Não tínhamos ideia de como soaria o Giant Gutter, nem mesmo atribuímos limites às possibilidades de criação. Conforme fomos experimentando (e este conceito tem sido fundamental neste projeto), nossas habilidades foram sendo postas à prova e nossas percepções e concepções foram amadurecendo”, diz.
Com uma linha musical bem delineada, mas ainda aberta a novas influências, Johnny e Hernan continuam absorvendo elementos e pensando em como incorporá-los à música do Giant. A regra principal é ser criativo. “Atualmente, criamos um corpo e atribuímos uma identidade (mutante) à nossa sonoridade. Deste modo, continuamos experimentando na disposição de fugir de rótulos que acabam por engessar nossa produção criativa”, conta.
Baixo e bateria como “voz” das músicas
A opção por fazer um trabalho instrumental, de certa forma fez com que as músicas da banda se tornassem ainda mais pesadas. Isso porque todas as nuances das composições são expressadas por meio do baixo e bateria, o que exige uma sinergia entre os músicos e um preenchimento maior das linhas melódicas das composições. “A ausência de vocal não foi planejada. O fato de não termos feito uso de voz, ou de outros instrumentos, neste primeiro lançamento, não significa que não o faremos no futuro. O único aspecto irrevogável deste projeto é sua estrutura de baixo e bateria”, explica. Uma constatação é nítida: o som do Giant só é possível em função do entrosamento entre Hernan e Johnny, companheiros em empreitadas musicais desde 2003.
Outro fator acabou se tornando importante na construção do som do duo: originalmente Hernan é baixista, mas no ano passado resolveu encarar o desafio de tocar guitarra na banda de Death/Grind/Crust High School Massacre. Como bônus, a nova experiência acabou trazendo ideias para o seu trabalho com o Giant. “O meu empenho em aprender a tocar guitarra mudou totalmente a minha concepção do que poderia ser feito com o contrabaixo. Me envolvi com modulações, distorções e vários efeitos de qualidade que eram disponíveis apenas para guitarra. Então resolvi aplicar essas ideias no baixo e o resultado me agradou muito. Isso foi determinante para a minha compreensão do que era possível ser feito”, explica.
O conceito
A fotografia do álbum foi feita por Johnny e a parte gráfica criada pelo fotógrafo e designer gráfico Cesinha Marin. Essas também são questões que fazem parte do contexto que o grupo procura apresentar em sua obra. Além disso, “Set Adrift” carrega ideias visuais, textuais e estéticas criadas pelo Giant. “O fato de não termos incluído nas músicas voz, ou outros instrumentos, não nos impediu de conceituarmos o lançamento por meio de sua própria sonoridade (que acreditamos dizer muito por si mesma), dos aforismos (escritos pelo Johnny), de algumas citações de autores que apreciamos (no caso, Samuel Beckett e Max Ernst) e do trabalho gráfico”, explica.
O nome Giant Gutter From Outer Space também é outra sacada do duo. Ele significa “Grande Sarjeta do Espaço Sideral” e surgiu a partir de uma pesquisa realizada por Johnny. “Ele trouxe várias opções, mas gostamos do Giant Gutter porque expressa um pouco da realidade que queremos passar em nossas músicas. A ideia é uma grande sarjeta ou miséria, que é a nossa realidade e da grande maioria. A pronúncia também nos agradou bastante”, explica.
Hernan e Johnny pretendem lançar seu primeiro full length no primeiro semestre de 2016. Para isso, o duo já está compondo novas músicas e preparando novidades. “Já estamos compondo as novas músicas e estamos bastante satisfeitos com os resultados até então alcançados. Continuaremos experimentando e, nesse sentido, pretendemos fazer uso de outros instrumentos, de outras sonoridades e de outras parcerias”, finaliza.
Respeitar as suas influências mais fortes e ter a coragem de incorporar outros estilos é uma atitude que falta a muitas bandas, atualmente. Em função disso, já é grande a expectativa em torno do próximo trabalho do Giant Gutter From Outer Space. “Sabemos que trabalharemos da forma mais livre possível. Ou seja, experimentaremos ainda mais e estamos curiosos com o resultado desta abordagem”, finaliza Hernan. Ouça na íntegra o álbum “Set Adrift”, primeiro lançamento do Giant.
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