Texto: Marcos Anubis
Revisão e fotos: Pri Oliveira

Grave Digger, sempre um grande show para os curitibanos

21:30, sexta-feira (8). A melodia fúnebre da instrumental “Return Of The Reaper” ecoa na penumbra do Music Hall lotado. Apenas algumas luzes vermelhas fazem a moldura para os Marshalls no palco. Entre as sombras, surge uma figura soturna. A Morte está entre nós. Ela caminha a passos lentos, cadenciados e repentinamente para, exibindo sua face para o público.

Não, ninguém ali havia passado desta para melhor. Era apenas a banda alemã Grave Digger se apresentando pela quinta vez em sua história na capital paranaense.
Grave Digger - Music Hall - 8/5/2015

O show

Após a abertura apoteótica, “Hell Funeral”, do recém-lançado “Return Of The Reaper” (2014), deu início ao show. Na sequência, sem muita conversa, “The Round Table (Forever)” e “Witch Hunter”. Em suas apresentações, a banda faz questão de deixar bem claro desde o começo que ali, músicos e público estão no mesmo patamar.

Durante as quase duas horas de Metal, o vocalista Chris Boltendahl cumprimentou seguidamente os fãs que estavam mais perto do palco, conversou e fez piadas, estabelecendo assim uma relação quase de amizade entre as duas partes.

Além desse respeito ao seu público, o Digger tem uma qualidade musical acima da média. Chris Boltendahl (vocal), Axel Ritt (guitarra), Jens Becker (baixo), Hans Peter Katzenburg (teclado) e Stefan Arnold (bateria) possuem uma química invejável. Está tudo ali: peso, melodia e técnica.

Axel Ritt é um guitarrista fantástico. Ele consegue unir riffs e bases pesadíssimas, solos criativos e melódicos e dedilhados soturnos. O som do Digger pede uma guitarra que se destaque e Ritt faz essa função de forma estupenda. Katzenburg, por outro lado, é um show à parte. O “homem sem rosto” não só encarna a Morte, exibindo um apelo visual muito interessante para a parte cênica do espetáculo, mas também cria em seu teclado todos os climas sinistros das canções.

Na sequência da apresentação, Chris comandou o coro do público na introdução de “Ballad Of A Hangman”. Em alguns shows o grupo costuma encenar um enforcamento, usando uma corda que é içada por Katzenburg no centro do palco.

Em 2011, no antigo Moinho Eventos, isso aconteceu. Nesta sexta, o tecladista estava mais benevolente. “O mestre da morte, nas profundezas de suas mentes. Roubando suas vidas e os deixando cegos. Não há piedade, sem desculpa para todos os seus pecados. Você morrerá de agonia, o mal no interior”, diz a letra da música.

Hans Peter Katzenburg,

Curitiba, a segunda casa do Digger

Durante a apresentação, Chris fez menção ao show de 2011 dizendo que a banda tinha boas lembranças de Curitiba. E o motivo ficou evidente: os fãs curitibanos acolhem o grupo alemão de uma forma extremamente calorosa. Poucos artistas se apresentam na fria capital das araucárias e são tão bem recebidos quanto o Digger.

Voltemos ao show. “The Last Supper” sempre é uma das músicas mais esperadas pelos fãs, pois é um primor tanto harmônica quanto poeticamente. A letra sabe abordar a história bíblica da Última Ceia de uma forma inteligente e tocante. “Acredite, meus dias estão contados. Eu sinto a respiração maligna. O traidor senta bem ao meu lado. Os olhos dele estão cheios de medo e orgulho”, canta Chris.

No setlist, o quinteto visitou todas as fases de seus 35 anos de estrada. Dos riffs sujos de “Lionheart”, “Knights Of The Cross” e “Hammer Of The Scots” até as novas “Tattooed Rider”, “Season Of The Witch” e “War God”.

A realidade é que a temática da cultura escocesa, adotada pela banda desde “Tunes Of War” (1996), casa muito bem com a agressividade do Heavy Metal. Algumas músicas, inclusive, soam como hinos devido à grandiosidade e ao clima épico de suas melodias e letras. É o caso de “Rebellion (The Clans Are Marching)” que evoca as lutas seculares da Escócia. “Os clãs estão marchando contra a lei. O tocador de gaita de foles toca as melodias de guerra. Morte ou glória eu encontrarei. Rebelião em minha mente”, canta Chris.

Após a música, o grupo se retirou rapidamente do palco sob os gritos incessantes da plateia, que aliás homenageava o Digger ao final de cada música com o brasileiríssimo “olê, olê, olê, olê, Digger, Digger”. Atendendo seu público, o grupo retornou com “Highland Farewell” e “Morgane Le Fay”, seguidas de um solo de teclado feito por Katzenburg.

“Heavy Metal Breakdown” encerrou mais uma passagem do Grave Digger por Curitiba. Certamente os simpáticos alemães vão levar mais boas lembranças da fria capital dos paranaenses. Se existe um lugar no mundo, fora de sua terra natal, onde o Digger pode se sentir em casa, esse lugar se chama Curitiba.

Confira três vídeos do show: “Return Of The Reaper + Hell Funeral”, “Ballad Of A Hangman” e “The Last Supper”.