Texto: Marcos Anubis
Foto: Lex Kozlik
Na terceira parte da entrevista, Helinho Pimentel fala sobre a reabertura da Pedreira Paulo Leminski e conta a história da criação desse que é o maior espaço para shows em Curitiba.
O seu mais novo projeto é o desafio de fazer com que a Pedreira Paulo Leminski se torne novamente um local de grandes shows internacionais e nacionais. Mas a sua ligação com ela vem desde os anos 1980, pois você é um dos “pais” da Pedreira. Como foi a criação da Pedreira Paulo Leminski?
Em um determinado dia de 1989, na Estação Primeira, eu recebi um telefonema do gabinete do Jaime Lerner, que na época era prefeito, me pedindo para ir à Prefeitura. Chegando lá, o Jaime me levou até o alto de um dos paredões de pedra da Pedreira Paulo Leminski e me disse: “Eu estou de licença, vou viajar para receber uma homenagem na ONU e voltarei daqui a dois meses. Você aceita o desafio de transformar este local em um espaço de shows?”. Eu respondi que, sem dúvida nenhuma, aceitava.
Então ele disse: “Vamos para a Prefeitura que eu vou reunir os secretários ligados a essa questão e vou te nomear como o prefeito da Pedreira”. Aí o Jaime viajou e eu peguei aquela incumbência. A partir daí nós nos envolvemos no processo de criação, ao lado da equipe dele, e começamos a obra. Um dos primeiros passos foi trazer um técnico inglês, o Andy Miles, para definir onde seria o melhor local para instalar o palco.
Como aconteceu a inauguração da Pedreira Paulo Leminski?
Antes da inauguração da Pedreira já com uma estrutura para receber grandes shows, aconteceu um evento comemorativo ao aniversário do Paulo Leminski, no dia 24 de agosto de 1989. Ele foi organizado em parceria com a Fundação Cultural e a Estação Primeira. Nós montamos um palco pequeno que hoje não comportaria nem uma apresentação de rua. Usamos equipamentos da Party Box 2, que era a única empresa de som que existia em Curitiba.
Choveu muito, mas nós conseguimos que a Lucinha Turnbull, Paulinho Boca de Cantor, Blindagem, Moraes Moreira e A Cor do Som se apresentassem, e o evento aconteceu. Alguns meses depois, no dia 30 de setembro de 1990, a Pedreira teve a sua inauguração oficial. Essa é a história real da Pedreira. Esse show teve um super palco e um elevador colocado lá para as pessoas descerem.
A apresentação contou com o Gilberto Gil, Paralamas do Sucesso e o The Wailers, ainda com a sua formação original. Foi um megashow. Nós trouxemos vice-presidentes e diretores de mídia e de marketing das principais agências do Brasil, da Folha de São Paulo e da Veja. Ali nasceu a Pedreira Paulo Leminski para o Brasil e para o mundo.
Como foi a retomada da Pedreira Paulo Leminski e da Ópera de Arame? Quais foram as ações necessárias para recuperar esses locais tão importantes para a cultura curitibana?
Está sendo um grande desafio recuperar o Parque das Pedreiras, que envolve a Pedreira Paulo Leminski e a Ópera de Arame. São dois espaços físicos que estavam completamente abandonados, fechados. No caso da Pedreira era por uma questão judicial, já a Ópera estava sem nenhuma condição, com a estrutura física completamente perdida.
A DC Set ganhou essa licitação e hoje nós já recuperamos toda a Pedreira. Ali nós construímos o maior palco ao ar livre da América Latina. Também recuperamos toda a Ópera, pois só sobrou a estrutura de ferro dela, todo o resto foi perdido. Nós fizemos toda a cobertura em policarbonato, colocamos um piso novo no palco e instalamos ar-condicionado.
A Ópera vai ser tornar o mais lindo lugar para shows em todo o Brasil, assim como a Pedreira já é. Nos anos 1980 e no início da década de 1990, nós conseguimos trazer eventos para a Pedreira, em um esforço brutal da Estação Primeira. Na época, com aquela ação da rádio em parceria com grandes agentes mundiais, nós conseguimos incluir Curitiba no roteiro de grandes apresentações e a transformamos na segunda cidade do Brasil a ter mais shows internacionais. Isso se perdeu.
Hoje, o nosso desafio é reincluir Curitiba nesse roteiro, utilizando o palco maravilhoso da Pedreira Paulo Leminski. Entre os objetivos que a DC Set tem no Parque das Pedreiras, um deles é a recuperação do corpo físico dos dois espaços, que estavam na UTI e hoje foram recuperados. A segunda missão é resgatar a alma desse local na sua mais ampla vibração, transformando aqueles dois espaços em um centro de referência mundial no que diz respeito ao desenvolvimento da arte e discussões de sustentabilidade.
Esse é o grande desafio da Pedreira, fazer com que ela seja um lugar onde não só aconteçam grandes concertos, mas que também sejam realizados seminários e workshops dentro desse complexo. Ali será discutida a Curitiba do futuro, ali ela vai acontecer e pulsar, com reflexos em todos os outros espaços culturais da cidade. Nós vamos fazer com que a Pedreira seja merecedora do que ela tem como o seu maior compromisso, fazer com que Curitiba vibre e tenha uma intensidade cultural muito forte.
A Pedreira teve shows de artistas emblemáticos como David Bowie, Iron Maiden, AC/DC, Ramones e Pixies. Vocês já estão trabalhando para trazer bandas desse porte, novamente?
É importante dizer que a Pedreira foi liberada em janeiro de 2014, quando a questão judicial foi resolvida. Nós esperávamos que isso acontecesse no começo de 2013, mas a partir do momento em que houve a liberação nós iniciamos os contatos com produtores locais, nacionais e internacionais para montar uma programação.
Tudo o que nós conseguimos fazer nesse ano foi com muito esforço. Com menos de oito meses não se consegue uma programação de um grande show nacional e para contratar atrações para um festival é necessária uma antecedência de um ou dois anos. Nossos esforços vão trazer resultados em 2015 e de forma mais forte em 2016. Aí nós teremos projetos nacionais, alguns que serão âncora do Parque das Pedreiras, festivais com parceiros locais e também os shows internacionais.
Tudo isso passa por uma articulação. A DC Set não quer ser concorrente das produtoras curitibanas, que desenvolvem um trabalho muito bom. Nós queremos que elas utilizem o espaço magnífico da Pedreira e tenham condições de realizar eventos. Nosso compromisso é oferecer o mais completo e qualificado complexo para realização de pequenos, médios e grandes eventos da América Latina. É o que a DC Set vai entregar para a cidade de Curitiba.
Cabe aos produtores locais, aos veículos de comunicação e ao público curitibano entender que a valorização e a ida a esses concertos fará com que Curitiba realmente volte a receber grandes shows. Nós não tínhamos espaço, agora teremos, mas não adianta só o trabalho do produtor. Os veículos de comunicação não podem pensar na Pedreira ou na cultura como pensam na venda de um automóvel ou de um sabonete. Não é assim, é diferente! O mínimo que esses veículos precisam ter, porque são concessões públicas, é uma relação diferenciada com a cultura.
E isso eu falo há muito tempo, dentro dos veículos pelos quais eu passei e com parceiros de outras emissoras. Fomentar a cultura é o mínimo que um veículo de comunicação deve fazer. Então eu cobro e, às vezes, percebo que não existe essa percepção e esse entendimento. Nós dependemos desses espaços, mas também dos produtores. Eles são kamikazes, porque é muito difícil realizar shows em Curitiba.
Às vezes as pessoas veem aquele mar de gente em um evento e acham que o cara ganhou muita grana. Ganhou nada! Está devendo até a alma, porque as contas não fecham! Essa é a realidade. Hoje eu negocio datas com esses produtores e vejo o que é esse universo que para mim não é novo, mas que atualmente é ainda mais evidente. Por isso nós estamos batalhando por uma diminuição do ISS para eventos culturais na cidade, para que os fornecedores de serviços tenham valores menores, porque aí eles terão mais trabalho.
Amanhã você acompanha a última parte da entrevista com Helinho Pimentel falando sobre a cena cultural curitibana. Essa matéria foi escrita originalmente pelo jornalista Marcos Anubis para a Revista One.
Assista a alguns momentos importantes da história da Pedreira Paulo Leminski. A música “The Clairvoyant”, gravada em 2008 na Pedreira e que foi incluída no DVD “Somewhere Back In Time” do Iron Maiden, a banda curitibana Motorocker tocando “Salve A Malária” e o Raimundos com “Puteiro Em João Pessoa”, ambos na reabertura do local, em abril de 2014.
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