Texto: Marcos Anubis
Revisão e fotos: Pri Oliveira/Cwb Live

Nesse fim de semana, a banda curitibana voltou aos palcos e já prepara o lançamento de um novo trabalho



Ivan Santos é uma daquelas figuras essenciais para qualquer cena musical, pois une um gênio contestador, inteligente e com atitude para fazer as coisas acontecerem. Atualmente Ivan é vocalista, violonista e principal compositor do IMOF.

Além de suas incursões pelo mundo artístico, Ivan mantém há mais de uma década com sua esposa, a jornalista e produtora cultural Adriane Perin, a De Inverno. A empreitada nasceu em 2001 como um selo independente. Nesse formato ela lançou álbuns de várias bandas curitibanas, como o Cores D’ Flores. O casal também organizava o festival Rock De Inverno, que reunia atrações autorais da capital paranaense e era um importante catalisador da cultura da cidade, tão pouco valorizada. Atualmente a De Inverno Comunicação faz produção cultural e assessoria de imprensa.

O IMOF surgiu em 2012, após o fim da banda Hotel Avenida. A formação inicial tinha Ivan Santos (voz/violão), Martinuci (guitarra, piano), Osmário Júnior (bateria) e Fernando Lobo (baixo). O primeiro EP, “Um Silêncio Novo Na Casa”, saiu no mesmo ano. Ele foi gravado e mixado por Luigi Castel e produzido pelos próprios integrantes.

Em 2013 veio o segundo EP. “Chuva” foi lançado no Teatro Paiol em um show que teve a participação do vocalista e guitarrista da Relespública, Fábio Elias, e do saxofonista Igor Ribeiro. A gravação foi realizada no estúdio Montana pelo baixista Fernando Lobo e a produção novamente foi feita pela própria banda.

No início de 2014 Fernando foi morar em São Paulo, sendo substituído por Rodrigo AB, ex-Equipe Espacial. A maré de mudanças também trouxe o guitarrista Lucas Paixão, completando a formação atual do IMOF.

O Retorno aos palcos

No último dia 25 a banda voltou a se apresentar ao vivo. O show aconteceu no mítico 92 Graus, como parte do esforço para tentar manter vivo o mais tradicional espaço da música autoral curitibana.

A “parada” aconteceu por conta de uma reforma na casa de Ivan, quartel general do IMOF, o que fez com que a banda ficasse praticamente um ano em stand by. “Aproveitamos esse período para trabalhar músicas novas e arranjos no estúdio do Rodrigo AB”, conta Ivan.

Quando surgiu o convite para o show, o grupo havia começado a gravar suas novas canções. Em função disso o quarteto fez apenas dois ensaios para a apresentação. “Mesmo assim foi muito legal pelo fato de ser um show especial para campanha Salve o 92º. Eu particularmente me sinto em casa no 92. Fico muito à vontade pela amizade de mais de 20 anos que temos com o J.R Ferreira e toda a ‘família’ da casa. Para mim é sempre uma satisfação tocar lá”, diz Ivan.



A força das palavras

Duas músicas no show chamaram muito a atenção pela dramaticidade e emoção que carregam: “Chuva” e “Um Silêncio Novo Na Casa”. Ambas sangram letras que trazem palavras carregadas de sentimento. “A canção ‘Chuva’ surgiu a partir de uma melodia que eu fiz, e para a qual eu juntei um trecho de um texto de um antigo parceiro, o Rubens K, que tocou baixo no Jully et Joe, Íris e Terminal Guadalupe, entre outras bandas. Ele volta e meia me manda textos. Eu achei esse em um e-mail de 2008 (risos)”, conta Ivan. “A primeira parte da letra é tirada desse texto, com algumas mudanças e adaptações. Na segunda parte eu juntei um texto meu sobre sentimento de culpa. O refrão eu fiz na hora e aí veio a temática do clima, que tem a ver também com Curitiba e com reflexões sobre amadurecimento e vida adulta”, complementa.

Já “Um Silêncio Novo Na Casa” é uma daquelas músicas que te tocarão imediatamente. Ela nasceu em um momento difícil que envolve a morte de um companheiro que passou mais de uma década ao lado de Ivan e sua esposa. “Ela surgiu a partir de um texto que a Adriane escreveu para o blog De Inverno quando o Dogui, nosso cachorro pastor alemão, morreu depois de 12 anos com a gente. Na hora eu vi que o texto poderia dar uma letra de música, com algumas mudanças e edições. Minha intenção não era, na verdade, escrever uma música sobre bichos de estimação, mas sobre perda e superação. Depois que eu editei o texto, a melodia veio quase que automaticamente, de uma vez”, explica Ivan.

Após o show no 92, o IMOF retomou a gravação de duas novas músicas: “Um Começo Outra Vez”, que deve ser a faixa título desse novo EP, e “Eu Vou Dizer”. O lançamento deve ocorrer ainda neste ano. “Estamos gravando no estúdio do Rodrigo, nosso baixista, e a produção é da própria banda, com arranjos do Martinuci. Temos mais uma meia dúzia de músicas que pretendemos gravar e lançar aos poucos”, diz Ivan.

Influências e referências

O IMOF parece incorporar elementos de bandas que fazem de suas letras uma parte importante em seus trabalhos, como o Lloyd Cole & The Commotions e o Nick Cave and The Bad Seeds. Ivan e seus asseclas não gostam de rotular o som do grupo, mas essa preocupação com o texto é perceptível. “Sinceramente não conheço o trabalho do Lloyd Cole, mas Nick Cave é sem dúvida uma das minhas referências. Principalmente a fase dos discos ‘The Boatman’s Call’ e ‘No More Shall We Part’ com o Bad Seeds, que para mim são ‘discos de cabeceira’. Inclusive tem uma música minha chamada ‘Dizem’, lançada pelo OAEOZ no disco ‘Às Vezes Céu’ (2005), que foi diretamente influenciada pela audição do ‘The Boatman’s Call’ do Nick Cave”, explica.

Uma parte desse olhar especial para o texto vem do fato de que Ivan Santos é jornalista, o que lhe confere automaticamente um cuidado com o que escreve. Some-se a isso as influências musicais, nacionais e internacionais, e está pintado um quadro que realmente dirá algo ao expectador que se atrever a olhá-lo. “Sempre gostei de música com letras densas, existencialistas, confessionais, de bandas como Legião Urbana e Joy Division, que são outras referências básicas para a minha formação musical. E também de outras mais contemporâneas como Tindersticks, Spiritualized, Gutter Twins e The Sand Band. A IMOF faz, a meu ver, ou pelo menos tenta fazer um ‘Rock adulto’. Até porque não somos mais adolescentes (risos)”, explica.

Outro elemento que ajuda a formatar o estilo musical do IMOF é a participação de seus integrantes em outras bandas importantes na história da cena musical curitibana. “Nosso baterista, por exemplo, tocou em bandas mais pesadas como o C.M.U. Down, U.V. Ray e o Dive. O Martinuci é um cara que tem uma formação erudita. Ele, inclusive, tem um trabalho próprio paralelo chamado Stilnovisti e está gravando um disco novo. Mas ele também gosta de Rock ‘N’ Roll, de Stones a Led Zeppelin passando por Beatles e coisas mais recentes, ou nem tanto (risos), como o Primal Scream. A meu ver isso dá uma amplitude interessante para o trabalho da banda”, analisa Ivan.

Para mergulhar no som do IMOF é preciso que o ouvinte preste atenção nas letras das canções. Nada mais revigorante em um mundo musical brasileiro dominado pelos “pérolas” como “Lepo, Lepo” e adjacências. Esse ato de transgressão, a preocupação com o texto, por si só já faz da obra de Ivan Santos e do IMOF uma parada obrigatória para os ouvintes dos “bons sons”, como diria o Reverendo Fabio Massari.

Confira três momentos do show do IMOF no 92 Graus: “Chuva”, “Um Silêncio Novo Na Casa” e “Eu Vou Dizer”.

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