Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Fotos: Divulgação/Insane Devotion

insane

“Eu acredito que seja bem direto, sem significados elaborados. Simplesmente infiel, opositor e descrente”. Essa é a ideia central do novo trabalho da banda curitibana Insane Devotion, na visão do músico Fernando Nahtaivel.

“Infidel” traz Mauricio Laube (guitarra, baixo, vocal e programação de bateria), Moloch (vocais) e Fernando Nahtaivel (sintetizadores, vocais e programação de bateria) no auge de sua inspiração, tanto na composição das canções quanto na execução dos instrumentos e vozes.

O conceito que norteia o CD é uma tomada de posição por parte de seus integrantes em relação ao fanatismo religioso que vem, a cada dia, se enraizando na sociedade e na política brasileira. “Ultimamente estamos percebendo no mundo uma regressão na forma em como a sociedade encara o papel da religião. Estamos indo ao encontro de patamares medievais, com as religiões organizadas se infiltrando nas decisões políticas e gerando transtornos em toda a sociedade, principalmente para aqueles que não tem a mesma crença”, explica Nahtaivel. “Isso está acontecendo de forma muito forte no Brasil, também. Diante disso, nos declaramos infiéis. Somos absolutamente antirreligiosos e queríamos gravar isso na frente de nosso mais novo trabalho”, complementa.

infidelO nascimento do novo álbum

“Infidel” foi gravado inteiramente nos home studios de Fernando e mauricio. Dessa forma, o CD foi sendo pensado e construído de acordo com o que seus integrantes imaginavam, sem a pressão de ter que se preocupar com horários preestabelecidos. “Tivemos a liberdade de trabalhar de acordo com nosso ritmo e exigência. Dificilmente teríamos isso se estivéssemos utilizando um estúdio pago. A composição das baterias foi compartilhada entre eu e o Fernando; as guitarras, baixos e meus vocais eu gravei em casa. Os teclados, efeitos e vocais do Fernando foram gravados no estúdio dele e os vocais do Moloch foram gravados nos dois. A mixagem e a masterização nós fizemos sempre em conjunto”, conta Mauricio.

O CD soa como o registro mais inspirado do Insane Devotion. Canções como “Son of hate” e “Obscure blackened night (scenes from Begotten)” se mostram pesadas, incisivas e agressivas. Elas unem perfeitamente o clima criado pelos sintetizadores ao peso dos riffs e bases das guitarras. Sobre o instrumental, se destaca a voz forte e bem colocada de Moloch, que também é vocalista da lendária banda curitibana Doomsday Ceremony.

Foram vários os caminhos que levaram até a concepção do CD e todos acabaram influenciando de alguma forma o resultado final. “Acho que nós conseguimos equilibrar melhor os elementos que fazem parte de nossa música, mais do que nos trabalhos anteriores. O Black e o Death Metal, as guitarras e teclados, um toque de música industrial e o uso de diversos tipos de vocais extremos”, diz Nahtaivel. “Nesse álbum isso está melhor equilibrado porque as músicas foram escritas em conjunto. No passado, um ou outro membro trazia a música praticamente completa e a banda trabalhava no arranjo, mas em ‘Infidel’ nós trabalhamos juntos já nas primeiras fases da composição das canções”, complementa.

Liberdade para criar

O Insane Devotion surgiu em 1996. A ideia era inicial era fazer um “Black Metal rápido, brutal e sinfônico”. Os integrantes da banda, porém, sempre participaram de outros projetos do cenário Heavy Metal da capital paranaense. Fernando Nahtaivel, por exemplo, já gravou com o Archityrants e a A Tribute to the Plague, entre outros grupos.

Segundo ele, essas duas maneiras de trabalho, ora contribuindo para o CD de alguma banda e ora gravando com seus próprios projetos, se complementam. “As duas formas me atraem. Gosto de trabalhar sozinho em meu estúdio para meu projeto industrial, o Nahtaivel, e também tenho a sorte de ser convidado a participar de trabalhos de diversas bandas de amigos. Mas também gosto de trabalhar em conjunto em uma banda, como fazemos no Insane Devotion, e que agora também faço com o Eternal Sorrow e o Great Vast Forest, duas bandas onde eu também toco”, explica.

Maurício também tem uma metodologia semelhante. Entre 1993 e 2002 ele foi membro do Scorner, mas essa liberdade de trabalho também parece ser a sua motivação para trabalhar de forma “solitária”, sem uma banda fixa. “O Scorner sofreu do mesmo mal que grande parte das bandas sofre: mudanças de formação constante e falta de apoio. Dessa forma, quando tive a oportunidade de trabalhar apenas compondo e gravando, entendi que este era meu lugar”, conta.

Fazia dez anos que a banda não lançava um novo trabalho. O último havia sido “Slaves Will Serve” (2005). Os motivos que levaram a esse hiato não diferem das dificuldades enfrentadas pela maioria dos grupos independentes. “Após a finalização do ‘Slaves Will Serve’, nós tivemos dificuldades em lançar o trabalho por meio de alguma gravadora. Isso nos levou a lançar diretamente em formato digital e nos frustrou bastante a ponto de fazer com que cada um se voltasse para seus projetos paralelos”, explica Mauricio.

Essa desilusão com o mercado fonográfico, aliada aos projetos paralelos de seus integrantes, fez com que a banda passasse uma década esperando o momento certo para o seu retorno. “O Fernando foi trabalhar com seu projeto EBM/Industrial, o Moloch é vocalista do Doomsday Ceremony e trabalha ativamente. Eu fui trabalhar em material inédito para o Scorner, que acabou culminando com o lançamento de 2011. Durante esse período, além desses projetos, muitos fatos pessoais ocorreram e nos mantiveram com esta longa inatividade. Em 2011, assim que o material com o Scorner foi lançado, eu procurei o Fernando e falei que era hora de trazermos o Insane Devotion de volta à ativa”, conta Mauricio.

Infelizmente, é pouco provável que “Infidel” venha a ser executado ao vivo, em função do modo de trabalhar do Insane Devotion. “Toda vez que finalizamos um trabalho inédito, essa questão vem à tona e é sempre motivo de muita conversa. No final das contas, a dificuldade de encontrar outros caras que tenham o comprometimento com o nosso som e compartilhem de nossas ideias deixa a possibilidade de uma formação completa para shows ao vivo mais e mais distante”, finaliza Mauricio.