
O grupo está completando 44 anos de vida e vai se apresentar pela primeira no maior evento de Psychobilly da América Latina
A banda paulista Inocentes, que está completando 44 anos de Punk Rock, se apresenta nesta sexta-feira (28), na noite de abertura da 24ª edição do festival Psycho Carnival.
Essa é a primeira vez que Clemente Nascimento (guitarra e vocal), Ronaldo Passos (guitarra), Anselmo Monstro (baixo) e Nonô (bateria) fazem parte do line-up do evento e isso é um motivo de orgulho para o grupo. “O Psycho Carnival é um dos festivais mais importantes do mundo! Não é à toa que está comemorando 24 anos de existência, levando não só bandas de todo o Brasil, mas também da América Latina e Europa!”, elogia Clemente.
Apesar de ser um festival essencialmente de Psychobilly, o Psycho Carnival vem abrindo as portas para outros estilos, entre eles o Punk e a Surf Music, e isso faz com que públicos de cenas bem diferentes acompanhem anualmente o evento. “O fato de abrir para outros estilos só aumentou a relevância do festival para a cena alternativa, e claro, é maravilhoso que ele aconteceça durante o Carnaval. O Vlad é um guerreiro por segurar essa onda toda. A única coisa que faltava era levar os Inocentes, agora não falta mais (risos)”, complementa.
Curitiba, aliás, é um dos grandes berços do Punk Rock brasileiro e, ainda hoje, a capital paranaense continua sendo uma das cidades do país onde o movimento segue forte e conquistando corações e mentes. “A cena punk vem se fortalecendo nos últimos anos, principalmente em São Paulo, e creio que em Curitiba também. Desde que a gente foi para a Warner, em 1986, a banda extrapolou a cena punk”, diz.
Essa mudança de ares na década de 1980 fez com que os Inocentes alcançassem um público ainda maior e que não estava necessariamente ligado ao Punk Rock. “Sempre ocupamos um lugar de relevância em rádios Rock pelo Brasil e, em Curitiba, não foi diferente. Tocamos até na inauguração da Pedreira, em um evento da rádio Estação Primeira que ainda teve Plebe Rude, Blitz, Gueto e Nenhum de Nós. Ou seja, somos uma banda punk que chega a outros públicos de Rock”, analisa.
Uma das canções que certamente farão parte do setlist do show em Curitiba é “Pátria Amada”, um dos hinos do Punk Rock brasileiro e que retrata de maneira crua e direta a realidade de um dos países socialmente mais desiguais do mundo. “Ela continua atual, para o bem e para o mal, e isso mostra que o Brasil não mudou nada. Ela está sempre presente nos shows, pois é uma música da qual gostamos muito e o público também”, revela.
Outra canção que poderá fazer parte do setlist é a enigmática “A Face de Deus”, canção do terceiro álbum de estúdio do grupo, autointitulado, lançado em 1989, e que a banda não costuma tocar regularmente.
Na letra, Clemente faz um contraponto genial entre a religião e a vivência das ruas, que é muito mais cruel para quem é obrigado a conviver com ela do que qualquer texto. “Ela faz cada vez mais sentido, ainda mais com essas novas religiões que estão mais interessadas em grana do que em ser um caminho espiritual de verdade. A hipocrisia de gente mais interessada em ascender socialmente do que espiritualmente. Nem sei se eles ainda leem a bíblia. É uma gente sem amor no coração, pois tratam as outras religiões com preconceito, principalmente as de matriz africana. Definitivamente, se existe Céu, essas pessoas não vão para lá”, critica.
No ano passado, os Inocentes lançaram o álbum “Antes do Fim”, que traz 12 canções marcantes na trajetória da banda tocadas de maneira acústica, entre elas “Expresso Oriente” e “Não Acordem A Cidade”.
O projeto do disco nasceu durante a pandemia, quando Clemente fez muitas lives acústicas, isolado em casa, como uma maneira de manter a sanidade durante aquele período que foi pesadíssimo para todos.
Nessas ocasiões, o baixista Anselmo “Monstro” sempre elogiava os arranjos que Clemente construiu para essa música e daí surgiu a ideia de trabalhar esse material fonograficamente. “O resultado ficou bom, então resolvemos tocar essas versões juntos. Adoramos o resultado e resolvemos registrar esse momento como um presente para os fãs. É um disco que não tem nada a ver com o projeto da MTV, é tudo alternativo e feito com a produção da Red Star. Muitos punks velhos estão fazendo isso. Em março, por exemplo, nós vamos abrir o show acústico do TV Smith, vocalista do The Adverts, banda punk pioneira de 1977”, diz.
A relação de Clemente com a capital paranaense é muito antiga, pois começou em 1983 com um show dos Neuróticos, banda criada por ele no começo da década de 1980, na antiga (e inexplicavelmente demolida) Sociedade Operário, que ficava localizada no Largo da Ordem.
Nesse evento, que também contou com a participação do grupo curitibano Ídolos de Matinée, aconteceu a estreia do Beijo A Força, que se tornaria um dos nomes mais importantes da história da música paranaense. “A primeira vez que toquei em Curitiba foi com os Neuróticos que, na verdade, já era aquela formação clássica dos Inocentes que gravou o disco ‘Pânico em SP’ (1986). Quem levou a gente foi o Ferreira, guitarrista e vocalista do Beijo AA Força, que nós conhecemos em São Paulo, no Napalm. Esse show foi antológico! Foi quando a Contrabanda mudou de nome para Beijo AA Força e nós consolidamos essa amizade que já dura mais de 40 anos”, elogia.
Depois disso, com a criação dos Inocentes, Clemente passou a se apresentar quase que anualmente em Curitiba, cidade na qual o grupo tem uma legião de fãs. “Os shows sempre tiveram a presença da cena alternativa, mas não especificamente só de punks. No ano passado, nós tocamos com o No Milk Today (no Armazém Garageme foi muito legal, com casa cheia e um showzaço das duas bandas”, elogia.
Entretanto, mesmo completando mais de quatro décadas de vida e valorizando os louros do passado, os Inocentes estão usando essa passagem do tempo como combustível para seguir produzindo material novo e manter a relevância da banda. “Participaremos de dois festivais importantes neste ano, o Psycho Carnival e o The Town, onde vamos tocar com o Supla no palco do Iggy Pop, no mesmo dia do Green Day e do Sex Pistols! 2025 promete! Esperamos todo mundo na sexta no Jokers!”, finaliza Clemente Nascimento.
Os ingressos para os shows de hoje, na noite de abertura da 24ª edição do Psycho Carnival, custam R$ 140,00 e podem ser adquiridos no próprio Jokers.
A classificação etária é de 18 anos. Menores só entram se estiverem acompanhados dos pais ou responsáveis.
O Jokers Pub fica na Rua São Francisco, 164, no Centro.
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