Texto: Marcos Anubis
Tradução e revisão: Pri Oliveira
Foto: Reprodução Facebook Duran Duran

O baixista falou com exclusividade ao Cwb Live sobre drogas, superação e a trajetória com o grupo inglês



A vida de um astro do rock envolve sucesso, desavenças, altos e baixos, drogas e álcool, não necessariamente nessa ordem. Se você faz parte de um grupo que ajudou a definir um estilo dentro do rock and roll, essas situações se potencializam. O baixista do Duran Duran, John Taylor, resolveu expor essa realidade.

Recém-lançada no Brasil, sua biografia aborda sem meias palavras os mais de 30 anos de história do grupo. “No Ritmo do Prazer: Amor, Morte e Duran Duran” tem 432 páginas e foi escrita em parceria com o jornalista britânico Tom Sykes.

A leitura do livro é “fácil”, agradável, e mantém o leitor envolvido pelo texto. Escrever sua autobiografia teria sido uma forma de John exorcizar seus demônios? “Eu queria que fosse assim tão fácil! Tom e eu encontramos um ‘ritmo’ de escrita. Nós nos divertimos trabalhando juntos e essa sensação de leitura ‘fácil’ transparece no livro”, conta John Taylor.

O Duran Duran foi formado em 1978 na cidade de Birmingham, na Inglaterra e se tornou um dos pilares fundamentais na construção da chamada New Romantic, uma variação da New Wave. Além de John, a formação atual do grupo tem Nick Rhodes nos sintetizadores e teclados, Simon Le Bon no vocal e Roger Taylor na bateria. O guitarrista Dom Brown completa a formação que se apresenta ao vivo.

No livro, John fala com muito carinho sobre o Roxy Music, grupo de Brian Eno, Phil Manzanera e Bryan Ferry, citando-os como uma das principais inspirações para sua vida como músico e para a história do próprio Duran Duran. “Muito, não só por sua música como também por sua imagem. Eu acho que eles foram o grande grupo dos anos setenta para os jovens britânicos ligeiramente ‘fora do centro’. A próxima grande banda foi o Sex Pistols. O Roxy também cresceu de uma maneira interessante. Eles desenvolveram consideravelmente seu som. A técnica de compor e cantar do Bryan amadureceu diante dos nossos olhos”, afirma.

John também conta que assistiu muitos shows durante a ascensão do punk e da new wave, e que essa cena inglesa do final da década de 1970, início dos anos 1980, foi refletida no seu trabalho com a banda. “Havia muita idiossincrasia. Todo mundo queria ser diferente. Você tinha que encontrar um determinado som e estilo e torná-los seus. E foi divertido ver artistas crescerem tão rapidamente”, relembra.

John Taylor acompanhou a ascensão de vários grupos de sua geração. Ver de perto a história de um dos momentos mais criativos do rock inglês ajudou a sedimentar a proposta musical que o baixista iria apresentar nos anos seguintes ao lado do Duran Duran. “Eu assisti artistas como The Clash e The Police desde quando se apresentavam em locais pequenos até tocarem para centenas de pessoas nos grandes locais e tendo discos de sucesso. Eu poderia dizer que foi um trabalho difícil, mas pelo menos era possível”, diz.



A relação com os fãs

O fanatismo dos fãs sempre fez parte da história do rock. Taylor e sua banda também viveram um longo período de “Duranmania”. Na biografia, John conta que, na metade dos anos 1980, quando o grupo estourou no mundo todo, muitas fãs acampavam durante 24 horas por dia em frente a sua casa em Londres.

Essa histeria, no Brasil, também é muito presente. Em 1988, por exemplo, o Duran Duran tocou no festival Hollywood Rock, que aconteceu no estádio Morumbi em São Paulo e na Praça da Apoteose no Rio de Janeiro. Na ocasião, a banda pôde comprovar o fanatismo do público e a realidade social brasileira. “Nós estávamos na turnê do álbum ‘Notorious’. O Rio de Janeiro não era tão seguro como é agora. Nós fomos bastante cercados em nosso hotel. O show no Rio foi bom, mas em São Paulo foi extraordinário. Talvez tenha sido o maior local que nós já lotamos”, relembra.

Nessa época, os grandes artistas internacionais praticamente só tocavam nas duas maiores cidades brasileiras. Atualmente essa realidade é diferente. Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e outras capitais já fazem parte do circuito de shows que passam pelo país. John comenta que tem vontade de estender uma futura tour para fora do eixo Rio-São Paulo. “Agora nós conhecemos um pouco mais sobre essas duas cidades onde sempre tivemos bons momentos, mas eu gostaria de viajar para outras partes do Brasil um dia, tanto para fazer shows como para conhecer”, diz.

Essa ligação do Duran Duran com o Brasil vem desde o seu segundo álbum, “Rio”, lançado em 1982.  A música que dá nome ao disco, como o próprio nome sugere, foi inspirada no que a banda vê como a “maneira de ser” do brasileiro. Nas várias vezes em que o grupo se apresentou no país, John afirma ter confirmado suas impressões. “Sim, aquele espírito fantástico que é encarnado no Carnaval. A música, o sexo e a beleza física deslumbrante!”, elogia.

duran duran entrevista john taylor 2014

A luta contra o vício

Um dos temas mais abordados no livro é a dependência química de John. Seu envolvimento principalmente com a cocaína é tratado de forma explícita e corajosa. Mesmo com seu esforço, o baixista deixa transparecer que não pode se descuidar em sua luta contra o vício. “É um processo no qual escrever o livro fazia parte. Todo dia eu lido com o problema, que exige atenção para não sucumbir a ele”, diz.

A Era dos vídeos

Durante a década de 1980, a produção de um bom vídeo era essencial para o sucesso das bandas da época, e o Duran Duran foi importantíssimo nesse processo de massificação dos clipes. “Eu não penso sobre vídeos tanto assim. No início dos anos oitenta nós tivemos sorte de nos conectarmos com uma mídia de crescimento rápido, e nos encaixamos perfeitamente. A MTV chegou e ‘bang!’, lá estávamos nós”, conta.

O fato é que vídeos como “The Wild Boys”, “Save A Prayer” e “A View To A Kill” se mantém como referências de qualidade, até hoje. Na biografia, John chega a dizer que o Duran Duran era chamado de “banda de vídeos”. Isso o incomodava porque o baixista não conseguia saber como estava a qualidade das músicas do grupo, ao vivo.

Hoje essa realidade é diferente. “Por um lado nós nos rendemos ao vídeo como uma necessidade, e ele se tornou menos significativo. Agora nós gastamos muito mais tempo com as nossas composições e apresentações ao vivo do que fazendo vídeos. É um meio onde reina a novidade”, analisa.

Outra característica da banda é a preocupação visual do grupo, que sempre foi muito forte. A forma de se apresentar e de se vestir sempre estiveram entre as principais marcas do Duran Duran. “Nick se preocupa muito com a apresentação visual do Duran Duran e nós somos muito conscientes de que a nossa apresentação sempre precisa ser forte”, afirma.

John trata de sua família em várias passagens durante o livro. Como filho único, o baixista sempre recebeu a atenção e a cobrança de seus pais. Coincidentemente, o músico respondeu as perguntas para essa entrevista, justamente no dia em que os europeus comemoravam o Dia das Mães, 30 de março. “Hey, hoje é Dia das Mães. Sinto falta da minha mãe e do meu pai todos os dias. Eu tive a sorte de ter dois indivíduos tão amáveis e trabalhadores como pais. Eles programaram minha ética de trabalho, minhas paixões”, afirma.

Fazer parte de uma grande banda rende muitas alegrias, mas o sucesso também cobra o seu preço. Após 13 álbuns de estúdio lançados em mais de três décadas de estrada, John Taylor acredita que todas as alegrias e tristezas pelas quais passou ao lado do Duran Duran valeram a pena. “Tenho muito orgulho de ser parte do que se tornou uma marca mundial, que tem músicas que realmente fazem diferença na vida de algumas pessoas. É uma bênção e um privilégio”, finaliza.

Confira três grandes vídeos do Duran Duran:  “Save A Prayer”, “Rio”  e  “The Wild Boys”.

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