Texto: Marcos Anubis
Fotos: Divulgação

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Os anos 1980 foram repletos de bandas com características próprias e bem diversas em todo o Brasil. Do som “a la The Smiths” da Legião Urbana, passando pelo punk do Inocentes e da Plebe Rude e pelo reggae do Paralamas do Sucesso, todos eram estilos bem distintos. Um dos grupos com mais personalidade dessa época foi o Sexo Explícito. O Cwb Live apresenta uma entrevista exclusiva com dois ex-membros da banda: John Ulhoa, atual guitarrista do Pato Fu, e o vocalista Rubinho Troll. Os dois relembram a efervescência dos anos 80 e falam sobre os seus novos trabalhos.

O início com o Sexo Explícito

Formado em 1982 na cidade de Belo Horizonte por Rubinho Troll no vocal, Roberto Nosso e João Daniel nas guitarras, Marcelo Dolabela no violão, Marompas no baixo e Rogério na bateria, a banda lançou apenas dois álbuns: “Combustível para o fogo” de 1989 e “O disco dos mistérios ou 3 diabos e ½ ou Sexplícito visita o Sítio do Pica-Pau Amarelo ou tributo a H. Romeu Pinto” de 1991.

João Daniel, atualmente sob o “codinome” John Ulhoa, é guitarrista do Pato Fu. Segundo ele, o Sexo Explícito procurava ter uma identidade própria e influencia o seu som até hoje. “Era uma banda muito criativa, fugíamos dos clichês a todo custo. Acho que eu trouxe dessa época o gosto pela experimentação e o desapego às fórmulas prontas de cada gênero. E sou muito influenciado até hoje pelas composições do Rubinho Troll tanto que, de tempos em tempos, gravamos alguma música dele”, conta.

Uma das grandes músicas da banda é “Speak ou morra”. A letra fala da necessidade de se falar a língua inglesa, já nos anos 1980. Rubinho relembra uma situação onde a falta do idioma o impediu de expressar a sua admiração por um grande músico. Em uma ocasião, durante o período em que o grupo morou em São Paulo, eles foram convidados para assistir a apresentação do virtuoso tecladista Chick Corea. Após o show foi oferecido um jantar para convidados, em homenagem ao músico. “Fomos convidados por um amigo americano que estava hospedado na nossa casa e era amigo dele. Eu, tentando ser amigável mas sem falar inglês, disse a ele: ‘Chick, you’re an animal!’, pelo fato de que ele tocava ‘muito’. Acho que ele não entendeu o que eu estava tentando dizer. O fim do jantar transcorreu em um silêncio sepulcral”, relembra.

Os anos 1980 foram pródigos em boas bandas no Brasil, mas extremamente difíceis em termos de divulgação, compra de equipamento e outros quesitos que envolvem o staff de um grupo. “Era ‘complicado’. Não tinha instrumento legal, os fanzines eram todos mimeografados, a produção dos shows era amadora, não tinha empresário, gravar disco era para poucos, gravadora não tinha grana pra mandar masterizar os discos etc. Com a internet, pelo menos, dá para se olhar pornografia no intervalo dos ensaios”, brinca Rubinho.

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“Fedendo como um brasileiro”

Após o fim do Sexo Explícito, Rubinho Troll se mudou para Londres, onde mora até hoje. Segundo ele, a intenção não era fazer música. “Só sobreviver. Como se diz aqui manter a cabeça fora da água”, explica.

A parceria entre os dois amigos continua rendendo frutos. O guitarrista produziu o mais recente CD de Rubinho, “Stinkin like a brazilian” ou, em bom português, “Fedendo como um brasileiro”. Com o inconfundível sotaque mineiro, o vocalista conta como é essa relação de amizade que dura mais de 30 anos. “John is my main man. Eu gravei meus trem aqui em casa, fui na casa dele, ele mixou, tocou uns troços em umas músicas, mudou uns outros troços em outras eu gravei mais uns trecos. Chamamos a Gabi Groo pra cantar uns lances e o Lulu Camargo do Pato Fu arranjou e tocou em uma. A gente masterizou lá no Carlinhos, fiquei hospedado na casa do John e e da Fernanda enquanto finalizava esse barato e pronto. Fizemos o disco”, explica Rubinho. Simples assim.

O seu som, definido pelo próprio Rub’s como “Rock and roll/Dance music/doideira”, não traz nenhum influência da sua ex-banda. “A época é outra, as circunstâncias são outras”, afirma.

Segundo o vocalista, o interesse dos europeus pela música brasileira existe, mas é segmentado. “Claro, mas no gênero World Music, Bossa Nova ou algo curioso e exótico tipo o funk carioca. Quanto ao pop e rock pode esquecer”, explica.

Os “novos tempos” de John com o Pato Fu

O Pato Fu surgiu em 1992, em Belo Horizonte. A formação original tinha John Ulhoa nas guitarras, programações e vocais, Fernanda Takai nos vocais e violão e Ricardo Koctus no baixo e vocais.

Seu primeiro álbum, “Rotomusic de Liquidificapum”, foi lançado no ano seguinte pela Cogumelo Records, selo que revelou o Sepultura para o mundo. O disco trazia duas parcerias entre John e Rubinho: “G.R.E.S” e “O mundo ainda não está pronto”. “Gol de quem?”, lançado em 1995, colocou o Pato Fu, definitivamente, no cenário musical brasileiro.

A admiração do guitarrista pela cidade de Curitiba fica evidente quando ele relembra alguns shows da banda na capital paranaense. “Gostaríamos de tocar mais em Curitiba, os shows aí são sempre bons. Me lembro de alguns clássicos como no Aeroanta e na Pedreira. Uma vez ficamos hospedados durante muitos dias aí e foi bom porque pudemos conhecer melhor a cidade. Recentemente estive aí produzindo o Lemoskine. Eu moraria em Curitiba, parece Belo Horizonte, em alguns aspectos”, afirma.

A vida fora da grande mídia

Em 20 anos de estrada, o Pato Fu construiu uma carreira consistente dentro da música nacional. “Acho que ‘o plano deu certo’. Desde o começo queríamos ter uma carreira longa e decente. Não tenho dúvida de que conseguimos”, analisa John.

O Pato Fu não é uma banda “adotada” pela grande mídia, o que traz vantagens e problemas. “Bom, desde os três últimos discos que somos independentes então é tudo na nossa conta mesmo, repertório, datas e orçamento. É bom pela liberdade em se fazer o que se quiser e ruim porque não tem quem te financie ideias mirabolantes de videoclipes, por exemplo”, explica John.

A banda já passou por gravadoras como a BMG e hoje trilha o seu próprio caminho independente. O conhecimento desses dois mercados completamente diferentes auxilia na tomada de decisões, atualmente. “Acho que transitamos bem nesses dois mundos porque nunca deixamos de fazer as coisas com as próprias mãos. Sempre tomamos muito as rédeas de nosso negócio, ao mesmo tempo em que sempre colocamos a música em primeiro lugar em nossas escolhas”, afirma John.

Musicalmente, e em termos de estrutura, o Brasil atual difere muito dos anos 1980. “Acho que nos 80 havia um alvo que era conseguir um contrato com uma gravadora pra tentar sair do amadorismo porque a estrutura era bem amadora, fora do mainstream”, relembra John.

Atualmente, mesmo com a internet, esse trabalho não se tornou mais fácil. “Hoje em dia essa faceta do amadorismo é diferente. Grupos independentes lutam pra fugir dele se organizando, montam festivais, buscam leis de incentivo e usam a internet pra cativar fãs. Isso faz com que as bandas cresçam, mas, às vezes, sem sair do lugar. O difícil é fazer essa ponte, fazer com que a música pague as suas contas”, explica John.

A banda planeja lançar um novo trabalho no começo de 2013. Por hora, a intenção é fazer shows em cidades de todo o país. Curitiba , segundo John, está entre elas. “Não tenho datas, mas queremos muito ir aí com o ‘Musica de brinquedo’ novamente e, talvez, com o show do álbum ‘Gol de quem?’ que fizemos em São Paulo. Foi muito legal, estamos tentando levá-lo a outras cidades”.

Confira as músicas “No thanks” do Sexo Explícito, “Alma turbinada” de Rubinho Troll e “Gol de quem?” do Pato Fu .