Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Foto: Iaskara Florenzano

Ex-guitarrista do Sonic Youth se apresentou no Espaço Fantástico das Artes em sua segunda vinda a Curitiba



Ironicamente, é normal que as pessoas não tenham a real noção da importância de um momento quando estão diante de um “gênio”. Lógico que esse adjetivo pode significar inúmeras coisas. No caso de um instrumentista, ela pode se referir à técnica, ao virtuosismo, à inventividade ou a vários outros fatores que tornam esse artista uma referência em seu estilo.

No mundo da música, dentro dessa linha de raciocínio, alguns instrumentistas estão à frente do seu tempo. É o caso do músico, cantor e compositor norte-americano Lee Ranaldo. Nesse domingo (13) no Espaço Fantástico das Artes, em Curitiba, ele mostrou um pouco dessa metáfora.

Ao entrar no local, a sensação era a de estar nos anos 1960, na Factory de Andy Warhol. O local respira arte e a presença de Lee potencializou essa sensação.

Com a casa lotada (todos os ingressos foram vendidos) Lee subiu no palco como uma pessoa comum. Passou em frente ao público sem alarde e só quando plugou o seu violão é que a plateia percebeu a sua presença e começou a aplaudir.

Ele abriu a apresentação com “Moroccan Mountains” , de seu novo álbum, “Eletric Trim”, que será lançado no dia 15 de setembro. O CD é composto por nove faixas e teve a participação de vários músicos. Entre eles, estão o ex-Sonic Youth Steve Shelley (bateria), Alan Licht e Nels Cline (guitarras), Steve Raül Refree (guitarras, violões, teclados, programações eletrônicas, baixo, bateria e backing vocais) e Sharon Van Etten (vocal).

O palco foi montado de forma minimalista. Destaque para o miniamplificador usado por Lee, que devia ter apenas uns 30w. A cada uma ou, no máximo, duas músicas, o músico trocava de violão. Cada um deles estava com uma afinação diferente e, consequentemente, exigia uma forma diferente de tocar e construir as notas.

Do lado direito estavam posicionados um arco de violino, uma taça de vinho e quatro sinos usados em cerimônias budistas, amarrados por um cordão, que eram agitados por Lee em algumas músicas.



Criatividade acima de tudo

O setlist do show inclui várias canções de seu novo CD, que será distribuído pela Mute Records, entre elas, “Let’s start again”, “Circular (Right as rain)” e “Uncle skeleton”. Em todas as músicas, Lee reservava um momento para a improvisação, quando criava, mesmo no violão, o wall of sound que tanto caracteriza o seu trabalho com o Sonic Youth. Usando o arco de violino ou a velocidade da palhetada de sua mão direita, ele procurava usar toda a acústica do palco.

Durante o show, Lee chegou até a colocar o amplificador no chão. Anteriormente, ele estava posicionado em cima de uma cadeira. A intenção era fazer com que o microfone, que estava em frente ao alto-falante, captasse as marcações de tempo que ele fazia com os pés no piso do palco. São pequenas coisas como essas que mostram, de forma prática, a visão musical de um artista que não se contenta apenas com o óbvio. Ele procura explorar todas as possibilidades possíveis no espaço onde está se apresentando.

Antes de “Thrown Over the Wall”, Lee estabeleceu um paralelo entre a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e a “ascensão” de Michel Temer ao posto de presidente do Brasil. Em sua apresentação no Teatro Paiol, no ano passado,ele também fez o mesmo comentário. Dessa vez, porém, alguns motivos tornavam essa comparação ainda mais real, entre eles, as manifestações racistas que aconteceram em Charlottesville, nos Estados Unidos, na semana passada.

Apesar da expectativa do público, assim como no ano passado, Lee não tocou nenhuma música do Sonic Youth. A atitude claramente mostra a intenção de focar as atenções em seu trabalho solo que, aliás, tem muito a ver com o som de sua ex-banda. Em “Lecce, leaving”, enquanto tocava, Lee pegou seu celular e soltou uma gravação no microfone.

Ovacionado, ele se retirou rapidamente do palco e voltou para encerrar o show com “Home Chds”. Novamente muito aplaudido, Lee Ranaldo foi embora da mesma forma discreta com que chegou. O público curitibano, por sua vez, foi brindado com uma apresentação de um artista que faz da criatividade e da ausência de barreiras as suas grandes armas.

Assista ao vídeo da música “Thrown Over the Wall”, gravada ao vivo no show de Lee Ranaldo no Espaço Fantástico das Artes.

Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).

Assim, você ajuda o site a se manter na ativa, fazendo um jornalismo independente e com conteúdos exclusivos (entrevistas em texto e vídeo, coberturas de shows, fotos, vídeos e matérias). Se inscreva no nosso canal no YouTube para assistir vídeos de shows e entrevistas exclusivas e siga as nossas redes sociais no TwitterInstagram e Facebook.