O grupo paulista, que está completando 57 anos de estrada, se apresenta neste sábado (10), no Cwb Hall

A palavra “resistência” cai como uma luva na trajetória da banda paulista Made In Brazil. Afinal, o grupo está completando 57 anos de vida e é reconhecido por todas as gerações posteriores de artistas nacionais como um dos pilares do Rock brasileiro.

Neste sábado (10), o Made se apresenta no Cwb Hall, em Curitiba, para celebrar esse legado gigantesco. A abertura será dos grupos curitibanos Bartenders, que está completando 33 anos, e Rock Hits (tributo ao Rock nacional e internacional).

O show faz parte da turnê “Tocando Rock & Resistindo”, que marca os 57 anos de atividade ininterrupta do Made, e é uma grande celebração do legado do guitarrista e integrante fundador do grupo, Celso “Kim” Vecchione, que faleceu no fim do ano passado.

A apresentação em Curitiba também será um tributo a quatro grandes nomes da música brasileira: o ex-vocalista do Made, Percy Weiss, que gravou o álbum “Jack, O Estripador” (1976), ao jornalista e produtor Ezequiel Neves (que trabalhou com o grupo paulista durante muitos anos), ao vocalista do Blindagem e da banda A Chave, Ivo Rodrigues, e ao poeta Paulo Leminski (que completaria 80 anos, em 2024).

No show na capital paranaense, a formação do Made terá Oswaldo “Rock” Vecchione (vocal, gaita e percussão), Guilherme “Ziggy” Mendonça (guitarra e violão), Marcelo “Rock’n’roll” Chaves (guitarra, violão e baixo), Solange “Sol” Blessa (backing vocals e percussão), Ivani “Janes” Venâncio (backing vocals), Marcelo Frisoni (baixo e violão), Octavio “Bangla” Lopes (sax), Bruno Peticov (teclados) e Marcelo “Beba” (bateria).




A minha vida é o Rock’n’roll

Oswaldo Vecchione é um idealista, no sentido mais puro da palavra, e essa qualidade é perfeitamente perceptível em cada entrevista, em cada citação do nome Made In Brazil, quando é possível perceber a paixão com que ele ainda fala sobre a banda.

Nessas situações, não são raros os momentos nos quais esse legítimo cidadão da Pompeia (bairro tradicionalíssimo da cidade de São Paulo) derrama lágrimas ao lembrar do enorme legado que o grupo construiu desde os primeiros passos, em 1967.

Durante essas quase seis décadas, Oswaldo precisou superar inúmeras mudanças na formação do grupo.

Aliás, o Made detém o recorde mundial, oficializado pelo Guinness Book, de banda de Rock com mais formações oficiais (203) e que contou com a maior participação de músicos e cantores (121). Hoje, esse número é ainda maior.

Em 2020, Oswaldo sofreu um AVC e ficou com o lado direito do corpo paralisado. Entretanto, em mais uma prova da força de vontade que move esse guerreiro da música brasileira, apenas dois meses depois, ele já estava parcialmente recuperado e fazendo uma live ao lado da banda.

Durante a fase mais pesada da pandemia, aliás, o Made foi uma das poucas bandas brasileiras que não pararam completamente.

Nesse período, o grupo fez seis lives e três shows. “Tem tudo a ver com a nossa dedicação, profissionalismo e a nossa maneira de ver a música e de levar isso para os fãs”, explica Oswaldo Vecchione.




Brothers in arms

Entre todos os obstáculos que Oswaldo precisou enfrentar nos quase 60 anos de vida do Made, o maior deles se apresentou no final do ano passado com a morte do irmão, Celso “Kim” Vecchione, que esteve ao lado dele em todos os momentos da banda. “Ele foi o meu grande parceiro e professor. Nós descobrimos o Rock juntos em uma tarde de 1956 quando estávamos escutando rádio e ouvimos o Little Richard cantar”, conta.

Naquela mesma semana, os irmãos Vecchione compraram dois discos de 78 rotações que traziam músicas de sucesso na época: “Jailhouse Rock” (Elvis Presley), para Oswaldo, e “Diana” (Paul Anka), para Celso.

Dois anos depois, em 1958, o astro estadunidense Bill Haley veio fazer alguns shows no Brasil e um deles foi transmitido pela Rede Record.

Obviamente, os irmãos Vecchione ficaram vidrados na televisão, prestando atenção em cada detalhe da apresentação. “A gente decidiu, naquela noite, que nós queríamos fazer aquilo, que precisávamos aprender a tocar e a cantar! Isso mudou a nossa vida!”, conta.

Nessa fase da adolescência, os dois garotos treinavam hóquei do Palmeiras e Celso acabou quebrando a perna em um jogo.

Para animar um pouco o aspirante a esportista, a mãe dos Vecchione comprou um violão e deu de presente para Celso.

Na sequência, ele começou a aprender a tocar e, algum tempo depois, quando já dominava um pouco o instrumento, passou a ensinar a Oswaldo as artimanhas do violão.

Alguns anos depois, no início da história do Made, Celso também foi o responsável por uma mudança fundamental na banda.

Ela aconteceu em 1973, quando o grupo decidiu começar a compor material próprio e o baixista Albert Seid não recebeu a notícia com muito entusiasmo. “Ele não acreditava que a gente pudesse compor músicas em alto nível, como as coisas que a gente escutava. Então, ele acabou saindo”, diz.

Nessa época, Oswaldo fazia a guitarra base das canções, mas com a saída repentina de Alberto, Celso acabou sugerindo que Oswaldo assumisse o baixo até que eles encontrassem uma pessoa para o posto e essa mudança acabou sendo definitiva. “Eu nunca mais voltei para a guitarra”, diz.

Outra mudança importantíssima aconteceu em 1979, logo após a gravação do álbum “Paulicéia Desvairada”, quando o vocalista Caio Flávio deixou a banda no meio da turnê de divulgação do disco. “Eu acabei assumindo os vocais e já gravei o ‘Minha Vida É Rock’n’roll’ (1981)”, conta.




A relação com o público curitibano e os históricos shows no Círculo Militar

Nesse mais de meio século de shows por todo Brasil, é claro que a cidade de Curitiba tem um lugar especial nas memórias de Oswaldo.

A capital paranaense, aliás, é uma das capitais nas quais o Made In Brazil mais tem fãs. Inclusive, as duas apresentações que o grupo fez em 1976, no Ginásio do Círculo Militar, com abertura da banda paranaense A Chave, ostentaram o recorde de público do local durante muitos anos.

Afinal, aproximadamente cinco mil fãs lotaram o Palácio de Cristal (como também é chamado o ginásio) em cada noite para assistir aos shows de lançamento do álbum “Jack, O Estripador”.




Clássicos que não envelhecem

O Made tem dezenas de músicas que fazem parte de qualquer lista de clássicos do Rock brasileiro. Entre elas “Anjo da guarda”, “Gasolina” e “Minha vida é Rock’n’roll”.

Porém, algumas canções menos conhecidas da banda também possuem um lugar especial no coração dos fãs. Uma dessas pérolas mais “lado B” é “Uma longa caminhada”, do álbum de estreia do grupo, autointitulado, lançado em 1974.

A letra dessa canção, na qual o lendário Cornelius “Lucifer” canta versos sobre a morte, foi inspirada no livro “A Divina Comédia”, do escritor e poeta italiano Dante Alighieri, que Oswaldo estava começando a ler naquela época. “O meu irmão já estava pensando em uma sequência melódica e me deu um estalo de falar sobre algumas coisas que eu li no livro, entre elas a morte e o ato de caminhar sob o Inferno”, explica.

Infelizmente, “Uma longa caminhada” não faz parte do repertório do grupo desde o início dos anos 1980, pois ela foi escrita especialmente para o timbre e alcance vocal de Cornelius.

Entretanto, os curitibanos terão a chance de ouvir em primeira mão, quatro músicas inéditas que farão parte do álbum “Resistência”, o novo trabalho do Made, que será lançado ainda em 2024: “Minha banda de Rock”, “Acendo a vela”, “Muita luz, irmão” e “Gata ingrata”.




Uma história única no Rock mundial

A trajetória do Made In Brazil começou em 1967, no bairro paulistano da Pompeia, quando os irmãos Oswaldo e Celso “Kim” Vecchione montaram a banda.

Nesse período, o grupo tocava apenas covers de grandes nomes do Rock que eram as grandes influências da dupla, entre eles os Stones e Chuck Berry.

Posteriormente, Oswaldo descobriu o Blues de Muddy Waters e de outros ícones do estilo e isso foi decisivo para moldar o som autoral do Made In Brazil. “Todo mundo tocava o mesmo repertório e tinha o mesmo visual. A gente quis fugir disso”, diz.

Em 1967, o Made participou de diversas edições do programa do apresentador Julio Rosemberg, que levava o nome dele e ia ao ar na TV Tupi.

Percebendo a qualidade musical do Made, o comunicador, que também era produtor de shows, começou a convidar o grupo para participar de eventos que ele organizava no interior e no litoral de São Paulo.

A partir de 1973, a banda deixou os covers de lado e começou a trabalhar em composições próprias que fariam parte do álbum de estreia, “Made In Brazil” (1974).

Já nessa fase, além da parte musical, o Made também chamava a atenção por se apresentar usando roupas bem diferentes do que os outros artistas da época costumavam utilizar. “Nós sempre tivemos uma preocupação estética, com a nossa imagem, e levamos isso para cima do palco e para a nossa vida pessoal”, explica.

Outra grande inovação que o Made instituiu no Rock brasileiro da época, já na segunda formação da banda, em 1975, foi a decisão de tocar ao vivo usando dois bateristas (Celso “Cebolinha” e Celso “Pavão”).

Essas atitudes pioneiras se refletiam até na primeira guitarra usada por Oswaldo, fabricada por ele mesmo.

O instrumento, que tinha o formato de flecha, era uma cópia do que era usado por uma banda formada por músicos ingleses, mas radicada na Itália, chamada The Rokes.

Além da presença constante dos irmãos Vecchione, o Made In Brazil contou com alguns dos mais representativos nomes da história do Rock brasileiro, entre eles o baterista Rolando Castello Jr.

A lista é gigantesca, mas no posto de vocalista, o grupo teve três grandes vozes que são reverenciadas até hoje. “Nós demos muita sorte! O Caio Flávio era o mais técnico de todos, um cara bonito, cabeludo e que encantava as meninas. O Percy Weiss também era um cara bonito que cantava muito. Ele não tinha a mesma técnica do Caio, mas era mais feroz, tinha uma garra, uma coisa que ele levava para o palco”, analisa.

Entretanto, o maior de todos foi Cornelius “Lucifer”, que muitos fãs e críticos musicais consideram como o melhor cantor de Rock que o Brasil já teve. “O Cornelius encantava todo mundo com aquele vozeirão e aquela performance louca. No Brasil, ele estava muito à frente. Eu vi muitos vocalistas na época e nenhum se comparava a ele”, elogia.

Porém, apesar do talento indiscutível, o relacionamento de Cornelius com a banda não era nada tranquilo e isso gerava muitas brigas.

Uma “trégua” nesse embate quase diário aconteceu em 1976, quando a gravadora do Led Zeppelin, a Swan Song, e a Revista Pop, convidaram os integrantes do Made In Brazil para a pré-estreia brasileira do filme “The Songs Remains The Same”, do grupo inglês.

Naquela noite, assistindo ao show/filme, Oswaldo teve quase uma “revelação” sobre quem era o vocalista do Made. “Podem me achar louco, mas eu não sou! Eu percebi que o Cornelius, ao vivo, era muito melhor do que o Robert Plant, que era um cantor sensacional no estúdio! Eu tinha alguns problemas pessoais com o Cornelius, mas saí do cinema pensando que, em vez de contar até dez, eu precisava contar até 100 para que a gente convivesse melhor porque ele era muito bom, um fora de série!”, complementa.

Apesar da quase unanimidade em relação a Cornelius, Oswaldo faz questão de ressaltar a contribuição essencial de cada um dos vocalistas que passaram pelo Made. “Nós tivemos a felicidade de contar com o talento e a garra dessas três feras. Eles eram maravilhosos!”, diz.




Imparáveis

Em 2024, o Made In Brazil está repleto de novidades que vão fazer a alegria dos fãs e algumas já serão apresentadas no show em Curitiba.

É o caso do documentário “Uma Banda Made In Brazil” (2024), produzido pelo diretor paranaense Egler Cordeiro, que conta a história das cinco primeiras décadas de vida da banda.

Durante quase oito anos, Egler viajou com o Made por vários estados do país, registrando shows e imagens de bastidores, além de gravar entrevistas com os integrantes e com nomes fundamentais na trajetória do grupo, entre eles o vocalista Percy Weiss.

Frejat, Pepeu Gomes, Dinho Ouro Preto e outras personalidades do Rock brasileiro também deram depoimentos para o filme. “Foi uma experiência de vida porque o Made transcende as questões musicais e cênicas, nas quais eles marcaram época. O que mais me impressionou foi o foco dos irmãos Vecchione! Eles partiram de uma ideia, um sonho de garoto, e transformaram isso em um estilo de vida!”, diz Egler.

Outras novidades que estarão disponíveis no show em Curitiba são o CD duplo e o DVD triplo “Rock Festa” (2017) e o vinil do álbum “Jack, O Estripador Ao Vivo” (2018).

Para encerrar a lista de lançamentos no Cwb Hall, o público ainda terá a oportunidade de experimentar a cerveja “Resistência”, uma English IPA produzida pelo cervejeiro Gustavo Salles em parceria com a Cervejaria Lobos, localizada em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.

O nome é uma referência à nova turnê e, por consequência, à longevidade e postura que o grupo mantém há mais de meio século. “Essa cerveja é uma homenagem a essa tour, na qual eles estão demonstrando que ainda têm muita resistência, poder e força para seguir adiante”, explica Salles.

Nos últimos anos, Gustavo lançou mais três cervejas do Made: “Paulicéia Desvairada”, “Jack, O Estripador” e “Massacre”, que são nomes de algumas das músicas mais representativas da história do grupo.

Até o final do ano, o Made também lançará o álbum “Resistência”, o 25º da discografia do grupo. O CD terá 16 faixas (10 ou 12 no vinil) e deve ser gravado em setembro.

“Resistência” vai se juntar aos 24 álbuns que fazem parte da discografia da banda. Entre os mais marcantes estão “Jack, O Estripador” (1976), “Paulicéia Desvairada” (1978) e “Massacre” (1977), censurado pelo regime militar brasileiro da época e que só foi lançado oficialmente em 2005.

Outra novidade é o relançamento do debut do Made, autointitulado, lançado em 1974, que ficou conhecido como o “disco da banana”, em função da capa que trazia uma foto da fruta.

Ele será disponibilizado em vinil colorido 180g e também, pela primeira vez, em CD. Ambos trarão fotos inéditas que foram garimpadas nos arquivos pessoais de Oswaldo. “Eu e a minha mulher localizamos uns 50 slides de uma sessão que nós fizemos para esse disco e que não foram usadas”, conta.

Outro trabalho que será relançado em vinil 180g colorido (apenas 300 cópias numeradas) e em CD é o álbum “Rock de Verdade” (2008).

Em 2024, se existe Rock no Brasil, se os jornalistas têm o prazer de cobrir shows e entrevistar artistas e bandas, se os fãs têm a oportunidade de assistir a inúmeros shows nacionais e internacionais em todos os cantos do país, os irmãos Vecchione ae todos os cantores e músicos que passaram pelo Made In Brazil são responsáveis diretos por isso.

Por isso, o público curitibano tem quase a obrigação de lotar o Cwb Hall e reverenciar a turma de Oswaldo Vecchione com todo carinho e respeito que eles merecem.

Os ingressos estão no 3º lote e podem ser adquiridos na plataforma Bilheto, com valores a partir de R$ 35,00 + taxa administrativa (meia-entrada dupla “compre uma e ganhe outra”). No dia da apresentação, se ainda restarem bilhetes, os valores serão diferentes.

A casa abre às 19h e a ordem dos shows é a seguinte: Rock Hits (20h), Made In Brazil (22h) e Bartenders (0h).

A classificação etária é de 18 anos. Menores só entram se estiverem acompanhados dos pais ou responsáveis.

O Cwb Hall fica na Av. Mal. Floriano Peixoto, 4.142, no Hauer.

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