Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Foto: Divulgação

Os dois ícones do Heavy Metal mundial se apresentam nesta quinta-feira (13) na ReConcert, em Curitiba




O legado de Max e Iggor Cavalera na música brasileira vai muito além do Heavy Metal. Afinal, por meio da música, os dois fizeram milhões de pessoas em todo o mundo voltarem os olhos para o Brasil em uma época na qual os estrangeiros só viam futebol e Carnaval por aqui. Assim, os dois fundadores do Sepultura possuem uma parcela de contribuição enorme para a divulgação da cultura brasileira fora do país.

Nesta quinta-feira (13), Max e Iggor se apresentam na ReConcert, em Curitiba. O show faz parte da turnê “Max & Iggor Cavalera’s Return to Beneath Arise” e terá a abertura das bandas curitibanas Macumbazilla e Krucipha.

O setlist dessa tour dos irmãos Cavalera apresenta um repertório baseado nos álbuns “Beneath the Remains (1989)” e “Arise” (1991)”, dois clássicos do Heavy Metal mundial que consolidaram definitivamente o Sepultura no cenário internacional. “Esses dois discos representam a nossa ascensão e mudança de rumo, a nossa maturidade enquanto banda. Foi um momento mágico da nossa vida e do pessoal que se tornou fã da gente nessa época. Nesse período, nós descobrimos o mundo, viajamos, fizemos nossas primeiras turnês e participamos de nossos primeiros festivais. Foi uma época de muito crescimento em nossas vidas e por isso tudo nós celebramos esses dois álbuns nessa turnê. Eu não sei se eles se completam, mas eles mostram exatamente a nossa evolução em vários sentidos. São o alicerce da nossa carreira internacional. Temos muito orgulho de todos os nossos álbuns desde o ‘Bestial Devastation’, mas esses representam um momento especial”, explica Max Cavalera.

Realmente, entre 1989 e 1991 , o Sepultura viveu um período mágico que gerou esses dois álbuns e ainda rendeu várias histórias marcantes que vão de noitadas junkies ao apelido “carinhoso” dado a um personagem importante dessa fase. “O Scott Burns (produtor) ganhou o apelido de Tião no Rio de Janeiro, quando ele veio para gravar o ‘Beneath The Remains’ no estúdio Nas Nuvens. A gente só gravava de madrugada porque era mais barato e sempre amanhecíamos meio chapados, mesmo assim o disco ficou do caralho. Outra coisa que eu não esqueço é que a capa do ‘Beneath The Remains não era a que acabou ficando. Era outra arte que depois foi usada pelo Obituary. Não lembro bem porque não usamos aquela arte, mas tivemos que ficar com a segunda opção que acabou sendo do caralho também”, conta.

O Sepultura é uma parte essencial na vida de Max e Iggor, mas também foi o motivo de uma separação dolorosa para os dois. Afinal, os irmãos Cavalera passaram dez anos afastados um do outro justamente por causa das feridas que ficaram expostas quando Max saiu do Sepultura.

Por causa disso, essa volta aos palcos para tocar músicas que ajudaram a construir a trajetória de cada um deles acabou se tornando ainda mais especial. “Essa volta com o meu irmão me traz para as raízes, para aquilo que a gente começou a fazer, aquilo que a gente sabe de melhor. Eu me sinto muito bem! A nossa irmandade está no auge hoje em dia e eu acho isso do caralho! Eu também adoro tocar com o meu filho Zyon no Soulfly, toquei com um monte de gente ao longo desses anos, tenho o projeto Killer be Killed com o pessoal do Mastodon e do The Dellinger Escape Plan, mas tocar com o Iggor é muito visceral e emocional pra mim”, afirma.

A turnê “Max & Iggor Cavalera’s Return to Beneath Arise” já passou pelo México, Colômbia, Argentina, Chile e agora tem quatro datas no Brasil, começando nesta quinta-feira (13) e terminando em São Paulo no domingo (16).




O dilúvio na Pedreira

O show do Sepultura que mais marcou os fãs curitibanos aconteceu em 1994 na Pedreira Paulo Leminski lotada. Naquele dia, o Viper e o Raimundos se apresentaram debaixo de um calor infernal. Porém, quando o Sepultura pisou no palco, uma tempestade impressionante desabou em Curitiba.

Mesmo assustados com os raios que caíam dentro da Pedreira e com o palco alagado, o Sepultura tentou tocar, mas o show acabou sendo interrompido logo no começo. “Cara, foi uma pena o que aconteceu naquele dia porque nunca mais vamos ser capazes de reproduzir esse lineup porque agora não tem mais Ramones, né? Mas eu já peguei outras situações de tempestade, chuva forte e blackout. Eu já passei por tudo que você possa imaginar nesses 30 anos de palco ao redor do mundo. Nesse dia em Curitiba a gente ainda achava que era só remarcar, achávamos que ainda tinha jeito. Claro que ficamos muito frustrados porque aquele lugar era gigante, o show estava muito legal e de repente teve de ser interrompido para que a gente não morresse eletrocutado”, relembra.

Criatividade acima de tudo

A maior característica dos trabalhos que Iggor e Max fazem juntos é a criatividade. Tanto nos tempos do Sepultura quanto nos projetos que eles criaram, o Nailbomb e o Cavalera Conspiracy, é impressionante a quantidade de ideias que os dois conseguem reunir nas músicas que compõem.

Dentro dessa equação, ter a possibilidade de compor voz, guitarra e bateria, que são mais de 50% de uma música, explica um pouco a criatividade dos irmãos Cavalera. “Sem dúvida, mas é mais do que isso. É a ligação de uma vida, a infância, o que vivemos e a nossa impressão de mundo que nos faz idealizar essas músicas. Pensamos em muita coisa para compor, em temas, em riffs, em arranjos doidos, em coisas que a gente tem de referência, mas sem dúvida o fato de eu cantar e tocar guitarra e o Iggor tocar bateria ajudou muito nessa característica que a nossa música tem”, analisa.



De Belo Horizonte para o mundo

Sem nenhuma dúvida, o Sepultura tornou a realidade do “terceiro mundo” conhecida em todo o planeta. Afinal, depois da ascensão do grupo mineiro, o mundo do Heavy Metal passou a olhar para o Brasil e descobrir inúmeras bandas brasileiras.

Hoje, mesmo que não integrem mais o Sepultura, os dois continuam levando esse legado mundo afora. “Acho que, assim como no futebol, a nossa música carrega a garra de quem precisa vencer. Pelo menos carregava. Na época em que começamos, a nossa vida era a música, respirávamos música o dia todo, e eu ainda sou assim. Só fiquei mais velho, mas ainda me atualizo sempre que posso com meus filhos, sempre estou tentando buscar um algo a mais. O lance da brasilidade também ajudou bastante a nos dar uma identidade para o mundo, mas essa coisa do terceiro mundo com certeza vai além das dificuldades que passamos. Fica meio que entranhada na gente e, ao mesmo tempo que nos limita, nos dá força. Eu acho que é isso que vem dentro da nossa música que nunca ninguém sabe explicar o que é. Isso acontece com o brasileiro de uma forma geral, não só com o Heavy Metal daqui”, diz.

A ousadia e a valorização da cultura brasileira

O último álbum que o Sepultura gravou com a formação clássica foi “Roots” (1996), quando a banda chocou o mundo ao incorporar elementos culturais brasileiros em meio às bases de Heavy Metal pesadíssimas. Porém, como tudo que é novo, essa ousadia se transformou em uma tendência que foi e continua sendo seguida por bandas no mundo todo.

Hoje, 23 anos depois, o cenário do Metal no Brasil vem se tornando mais fechado e resistente a inovações. Porém, mesmo que o mundo da música tenha mudado radicalmente, Max acredita que aquele tipo de atitude que o Sepultura teve a coragem de tomar ainda seria possível. “Atitudes como a que tivemos seriam possíveis, mas é verdade que hoje é muito mais difícil pensar em algo tão inusitado quanto foi esse lance do ‘Roots’. Hoje tudo é normal, previsível, e a qualidade sonora das bandas novas é muito alta. Acho que a música tem que ser feita com o coração. Se for assim, seja ela mais tradicional ou mais ousada, vai rolar legal, porque a mensagem verdadeira e honesta supera qualquer tempo ou preconceito”, opina.

Historicamente, o Heavy Metal sempre foi um canal de contestação social e política. Afinal, como todo gênero extremo, o Metal não se encaixa no conformismo de nenhuma sociedade, afinal, ele nasceu justamente da negação de tudo isso.

Hoje, mesmo que a indústria fonográfica venha adotando um viés mais de entretenimento para as bandas que são levadas até o público, ainda existem os artistas que contestam esse status quo. “Eu acho que esse lance da contestação nunca vai sair da alma do Heavy Metal, mas os tempos são outros, as reivindicações são outras, o mundo é outro. Tudo mudou, então fica parecendo que não se contesta mais como antes, mas é porque os problemas de hoje são diferentes dos de ontem. Pelo menos é o que eu vejo. De novo eu digo, contestando ou não, se for legítimo e feito de coração, tem grandes chances de ficar legal”, diz.

O último álbum gravado por Max e Iggor foi “Pandemonium” (2014), do Cavalera Conspiracy. Atualmente, os dois já estão pensando em compor e gravar um novo trabalho com músicas inéditas. Só falta arrumar tempo em meio a tantos projetos dos quais os dois fazem parte. “A nossa agenda é um pouco complicada para encaixar tudo certo. Assim que casar as agendas, nós faremos um disco novo. Já temos algumas ideias e tudo mais, falta mesmo é tempo”, revela.

Com toda a história que Max e Iggor carregam, o show desta quinta-feira é uma oportunidade única para ouvir músicas que fizeram parte da construção do Heavy Metal brasileiro perante o mundo.

Curitiba, aliás, sempre foi uma cidade que teve muitos fãs do Sepultura, e a influência da banda mineira é sentida inclusive no som de vários grupos curitibanos, como o Krucipha e o Redtie. Para Max e Iggor, a capital paranaense também desperta algumas lembranças de shows inesquecíveis. “Esse da chuva na Pedreira foi foda porque teve de parar e ficou cravado na memória por causa disso. Tinha tudo para ser um show inesquecível porque a energia era do caralho e a galera estava empolgada, mas acabou ficando marcado pela chuva! Mas todas as vezes que tocamos em Curitiba foi muito legal porque a cidade, o público e os shows são sempre legais”, finaliza Max Cavalera.

Serviço

Os ingressos para o show desta quinta-feira (13) na ReConcert, que fica dentro do complexo da Usina 5, estão no 2º lote e custam R$ 240 (inteira) e R$ 120 (meia-entrada). Os bilhetes podem ser adquiridos no site Eventim. O leitor do Cwb Live também paga meia-entrada, basta usar o código “cwblive” na compra pelo site.

No stand de merchandising oficial do grupo, dentro do Usina 5, os fãs também terão a oportunidade de comprar um passe para participar de um Meet & Greet com a banda após o show. Max e Iggor vão autografar CDs, cassetes e vinis, além de tirar fotos. Os autógrafos serão apenas para os álbuns “Beneath the Remains” e “Arise” e será permitido apenas um autógrafo e uma fotografia por pessoa. O valor é de R$ 200.

A meia-entrada é válida para estudantes, pessoas acima de 60 anos, professores, doadores de sangue e portadores de necessidades especiais (PNE). Clientes do bar Crossroads e das lojas Dr. Rock e Let’s Rock também pagam meia-entrada. É obrigatória a apresentação do documento previsto em lei que comprove a condição do beneficiário, na compra do ingresso e na entrada do teatro.

A classificação etária é de 18 anos. Menores a partir de 16 anos entram acompanhados dos pais ou responsáveis. A casa abre às 19h e os shows começam às 22h. O ReConcert fica na Rua Constantino Bordignon, 191, no Prado Velho.

 Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).

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