Trinta anos de estrada são uma eternidade no mundo do Rock. E, à medida que o tempo passa, é mais do que normal as bandas irem perdendo a criatividade e o entusiasmo para fazer álbuns e tocar ao vivo. Dave Mustaine sempre se esforçou heroicamente para que o Megadeth não seguisse por esse caminho.

Para isso, durante três décadas, ele soube recrutar instrumentistas talentosíssimos. A lista inclui o guitarrista Marty Friedman e o falecido baterista Nick Menza. A mais nova “pérola” na coleção de Mustaine é o guitarrista brasileiro Kiko Loureiro. Sua entrada, nitidamente, deu um novo ânimo para David Mustaine e seu eterno comparsa, David Ellefson.

Levando tudo isso em consideração, nessa quinta-feira (18), o Megadeth mostrou ao vivo no Spazio Van, em Curitiba, que ainda tem muita lenha para queimar.

Republica

A abertura foi da banda paulista Republica. Mostrando um Heavy Metal que muitas vezes incorpora vários elementos do Stoner, o grupo fez um bom show. A banda já tem 25 anos de estrada e três álbuns lançados.

Destaque para a potência vocal de Leo Belling, que interpreta as canções do grupo com uma voz cheia de drive, mas ao mesmo tempo, melódica.

Leo Belling (vocais), Luiz Fernando Vieira e Jorge Marinhas (guitarras), Marco Vieira (baixo) e Mike Maeda (bateria) estão trabalhando na gravação de um novo álbum que sucederá “Point Of No Return” (2013).

Ele deve ser lançado ainda em 2016 e está sendo produzido por Matt Wallace, que já trabalhou com o Faith No More, 3 Doors Down e Maroon 5. A banda encerrou sua apresentação com “El Diablo”.

A sinfonia da destruição

Ao iniciar uma nova turnê, todo grupo gosta de valorizar seu mais recente trabalho. Em janeiro deste ano, o Megadeth lançou o seu 15º álbum. “Dystopia” marca a estreia de Kiko Loureiro em estúdio com sua nova banda.

Na contramão dessa “máxima”, o Megadeth abriu a apresentação com um de seus maiores clássicos: “Hangar 18”, segunda faixa do perfeito “Rust in Peace” (1990), álbum que colocou o grupo no panteão dos grandes nomes do Thrash Metal. Na sequência, “The threat is real” e “Tornado of souls”.

Como esse início já indicava, o setlist do show não seria composto radicalmente pelo  novo álbum. Das 19 músicas tocadas na apresentação, seis faziam parte do recém-lançado “Dystopia”. Apesar da boa recepção que as novas músicas receberam, foram os grandes clássicos, como “Sweating bullets” e “In my darkest hour”, que fizeram a alegria dos fãs.

Dave Mustaine (guitarra e vocal), Kiko Loureiro (guitarra), David Ellefson (baixo) e Dirk Verbeuren (bateria) mostraram, desde o começo, uma coesão impressionante para uma banda que tem dois integrantes novos.

“Vocês conhecem essa canção?”, perguntou Mustaine aos primeiros acordes de “A tout le monde”. A resposta foi um coro gigantesco para o refrão enigmático da canção: “A todo o mundo. A todos os meus amigos. Eu os amo. Eu devo partir. Essas são as últimas palavras que direi e elas me libertarão”, diz a letra.

Kiko Loureiro, um show à parte

Dave Mustaine é o grande mentor do Megadeth, não há dúvidas disso. Mas, especialmente nessa tour pelo Brasil, todos os olhos estavam voltados para o guitarrista Kiko Loureiro. Ele foi confirmado oficialmente como guitarrista do Megadeth em abril do ano passado. O brasileiro chegou para substituir Chris Broderick, que saiu da banda em 2014 por “diferenças artísticas e musicais”.

Na época, na nota oficial em que apresentava o novo integrante aos fãs, Dave Mustaine falou: “Eu descobri como ele é um guitarrista virtuoso e estou profundamente animado por sua profundidade e seu talento. Poucos pupilos do Megadeth tiveram a habilidade e o sentimento de Kiko. Como Frank Sinatra disse: O melhor está por vir!”, escreveu.

No show em Curitiba, Kiko dividiu os holofotes com Mustaine de forma brilhante. Isso ficou mais latente para os fãs que prestaram atenção em algumas atitudes tomadas por Dave no decorrer da apresentação.

Considerado, não por acaso, como um músico difícil de lidar, Mustaine mostrou humildade e respeito em relação à Kiko. Em vários momentos do show ele recuava para perto dos amplificadores, deixando todo o protagonismo dos solos para o brasileiro.

Demonstrando uma personalidade e uma desenvoltura impressionantes para quem está apenas há um ano na banda, Kiko não deixou nenhuma dúvida do acerto de sua efetivação.

Na parte final, “Symphony of destruction” e “Peace sells… But who’s buying” (com a entrada no palco do mascote da banda, Vic Rattlehead), prepararam o grand finale. O encerramento não poderia ser outro.

Após voltar ao palco com sua icônica Dean Flying V pintada com a capa do álbum “Rust in Peace”, aos primeiros acordes de “Holy wars… The punishment due”, o Spazio Van veio abaixo. No fim da música, com o telão exibindo a palavra “obrigado” em vários idiomas, a banda agradeceu ao público e se retirou.

Dave Mustaine é um sobrevivente. Resistiu à mágoa e à decepção de ser expulso do Metallica, montou uma banda que se tornou um dos ícones de seu estilo e venceu os problemas nas articulações das mãos que quase encerraram a sua carreira.

Agora, soube injetar um novo ânimo em sua banda para que ela siga em frente. Talvez, como escreveu em seu texto para apresentar Kiko Loureiro, o melhor ainda esteja por vir.

Assista aos vídeos de“Holy wars… The punishment due”, “A tout le monde” e “Dystopia”, gravado no show do Megadeth no Spazio Van.

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