Texto: Marcos Anubis
Fotos: Archityrants (Pri Oliveira), Disharmonic Fields, Aquilla e Dragonheart (Clóvis Roman)

Archityrants no JB 64

A 3ª edição do festival Metal Warriors aconteceu nesse sábado (8) no John Bull. O evento reuniu quatro bandas tradicionais do Heavy Metal curitibano: Disharmonic Fields, Archityrants, Aquilla e Dragonheart, além do Evolution (Tributo a Ronnie James Dio).

disharmonic

Disharmonic Fields

O primeiro a pisar no palco do John Bull foi o Disharmonic Fields com seu tradicionalíssimo Heavy Metal baseado no Hard e no Thrash. O grupo, que está prestes a completar 20 anos de estrada, lançou, no ano passado, seu segundo álbum, “Devil’s Weapon Shot”.

Nelson Küster (vocal e guitarra), Sandro D. Beast (guitarra), Eloy Bilek (baixo) e André Kisser (bateria) iniciaram a apresentação com “Blinded”, faixa de seu primeiro trabalho, “Killing Hopes” (2005). “Montamos um setlist curto, pois tivemos uma banda a mais nesta edição do Metal Warriors, com a ilustre presença do Archityrants. E tenho que dizer que gostamos muito!  Foi um set rápido e certeiro mostrando, basicamente, do que se trata o Disharmonic Fields”, diz Nelson.

O setlist foi composto por oito músicas, entre elas, “Nonsense of life”, ‘Don’t believe a word of fate” e “Roots of evil”. Principalmente nas canções do novo álbum, ficou nítida a evolução das composições da banda nesse intervalo de 12 anos entre seus dois trabalhos lançados.

“Devil’s Weapon Shot” é a personificação desse crescimento. “São dez faixas que retratam um amadurecimento do nosso som. O que fizemos nele e no álbum anterior mostra, definitivamente, o que é o Disharmonic Fields. Fizemos as gravações da bateria no estúdio Clínica Pro Music e o restante em home studio. Em vários shows, nós tocamos uma cover de ‘Cruzader’, do Saxon, então, decidimos colocá-la neste álbum. É um bônus que você encontra apenas no CD físico. Vale a pena conferir, é Metal do começo ao fim!”, explica Nelson.

“Disharmonic Fields” encerrou a apresentação. Confira o vídeo da música “Dimension of pain”, executada pelo Disharmonic Fields no Metal Warriors III.

Archityrants no JB 37

Arquityrants

Em seguida veio o Archityrants, uma das bandas Heavy/Doom Metal mais antigas de Curitiba. O grupo tem seis anos de história com esse nome, mas sua trajetória começou em 2007, quando ainda se chamava A Tribute to the Plague. Por sua vez, a Tribute foi formada em 1998.

Luxyahak (vocais), Tersis Zonato (guitarra solo), Daniel Franco (baixo), Anubis (guitarra base e orquestrações) e Danda Brito (bateria) abriram o show com duas músicas de seu primeiro álbum “Blackwater Revelation” (2011): a faixa-título e “Gruesome Symphony”.

O show no John Bull marcou o lançamento oficial do segundo álbum do quinteto, “The Code of the Illumination Theory”. Nesse CD, além do peso e da cadência que caracterizam o som da banda, as novas canções também mostram algumas passagens orquestradas. “Estávamos muito ansiosos para executar as músicas do novo álbum ao vivo, mas tudo correu bem. Ficar muito tempo sem tocar gera certa tensão, porém, ela é controlável quando os membros da equipe confiam uns nos outros”, diz Luxyahak.

Das sete músicas que fizeram parte do setlist, cinco são do novo trabalho do Archityrants, entre elas, “Ballad of the great oppressor” e “Super tyrants”.

A ansiedade era justificada porque, afinal, a banda não se apresentava ao vivo desde 2013. “Além da vontade absurda de destruirmos tudo ao vivo, o prazer foi muito maior por estarmos executando músicas inéditas. Foi do caralho, pois o Metal vibra em nossas células e expressamos isso em nossa música pesada. Esperamos ter deixado a nossa marca em cada um que estava lá e foi atingido por nosso Metal!”, complementa o vocalista.

“Self imposed minority” encerrou a apresentação. “Foi o melhor show da história do Archityrants! Todos estavam muito à vontade no palco. Isso foi reflexo de muito ensaio e dedicação no último semestre. Com certeza, essa é a nossa melhor formação. Além de ter sido aniversário do nosso batera, o Danda Brito, foi a tão esperada oportunidade para lançarmos o nosso segundo álbum e voltarmos aos palcos depois de quatro anos. O público compareceu, interagiu e fez o evento ser incrível. As pessoas ficaram até o derradeiro acorde da última banda”, elogia Luxyahak.

Confira o vídeo da música “Ballad of the great oppressor”, executada pelo Archityrants no Metal Warriors III.

Aquilla (1120)

Aquilla

O Aquilla pisou no palco do John Bull respirando novos ares. Afinal, com a saída do guitarrista Renato Sandrini, que se desligou da banda recentemente, o grupo teve que rearranjar as suas músicas para serem executadas ao vivo.

Levando em conta o que foi apresentado no show, o quarteto formado por Marllon Gaio (vocal), Pablo Parra (guitarra), André “The Ghost” Chinasso (baixo) e Edson O’Connor (bateria) absorveu rapidamente esse contratempo.

A banda abriu a apresentação com “Constantinopla”. O setlist foi composto por dez músicas, entre elas, “Alcoholic memories”, “Headhunter” e “Fired”.

Marllon é um frontman a altura do peso do som do Aquilla. Com uma cozinha poderosa e criativa, fica a cargo do vocalista manter o público conectado com as canções e ele não decepciona.

“I want out”, cover do Helloween, encerrou a apresentação. “Foi insano! A receptividade e a interação do público foram fantásticas! Apenas energia pura e boa! São momentos como este que nos fazem lembrar o porquê de estarmos nessa caminhada!”, finaliza Marllon.

Confira o vídeo da música “Headhunter”, executada pelo Aquilla no Metal Warriors III.

dragonheart

Dragonheart

O Dragonheart encerrou a 3ª edição do Metal Warriors. O grupo, que executa um competentíssimo Power Metal, iniciou a apresentação com “Far from heaven… Close to hell”.

Marco Caporasso e André Mendes (vocais e guitarras), Mauricio Taborda (baixo e vocal) e Thiago Mussi (bateria) montaram um setlist composto por dez músicas, entre elas “Queop’s escape” e “Cruzaders march”.

Além da qualidade dos instrumentistas, as melodias vocais criadas pelo grupo impressionam porque são executadas de forma praticamente igual às gravações de estúdio.

Em 2017, a banda está completando 20 anos de estrada, o que tornou o show ainda mais especial. Afinal, só esse fato, no difícil cenário musical curitibano, já é uma enorme vitória. A maioria das músicas apresentadas tiveram uma participação entusiasmada do público, que sabia praticamente todas as letras.

“Gods of ice”, título do primeiro EP da banda, lançado em 1998, encerrou a apresentação. “O show foi muito bom e, mais uma vez, com boa presença de público! A cada edição, nós estamos percebendo melhoras da organização, tanto por parte das bandas quanto do John Bull. Para o Dragonheart, foi melhor ainda, pois aproveitamos para comemorar os 20 anos da banda ao lado de amigos no público e também no palco”, finaliza Taborda.

Confira o vídeo da música “Kill the leader”, executada pelo Dragonheart no Metal Warriors III.

A história do festival

O Metal Warriors nasceu em 2015 e surgiu da tradicional dificuldade que as bandas curitibanas de Heavy Metal autoral enfrentam para mostrarem o seu trabalho em Curitiba. “Tivemos essa iniciativa devido à carência de espaço para a cena metálica, tanto de lugares para tocar quanto na mídia. O Metal Warriors tem crescido mais a cada edição e estamos conseguindo não somente atingir, mas também superar a maioria dos objetivos traçados. Então, pelo retorno que estamos recebendo, acredito que esta iniciativa seja de suma importância para a cena. Acho que estamos no caminho certo”, avalia Marllon Gaio.

Como todos os integrantes das bandas já se conheciam e partilhavam dos mesmos ideais, ficou fácil colocar o projeto em andamento. “Somos amigos há muito tempo. Fizemos vários shows anteriormente e costumamos ensaiar nos mesmos estúdios. Devido à falta de espaço para tocar, acabamos fechando a ideia do festival. Para sempre ter uma novidade, a cada edição, uma nova banda é convidada por indicação de amigos e com consenso de todos”, explica Mauricio Taborda.

Estava lançada a semente que, até agora, já rendeu três edições do evento e tem passado, gradativamente, a ser uma referência em festivais de Heavy Metal em Curitiba. “Somos amigos e admiradores do trabalho de cada um. Aquilla, Dragonheart e Disharmonic Fields, com o Heavy Metal como elo de ligação, se reuniram e definiram que precisavam de um evento, uma reunião, nem que fosse anual, para colocar aquilo que amamos no palco da cidade. Acho que estamos conseguindo manter a força do metal curitibano com o Metal Warriors”, explica Nelson.

Nas três edições realizadas até hoje, o festival era formado pelas três bandas fixas (Aquilla, Dragonheart e Disharmonic Fileds) e uma convidada. O próximo Metal Warriors já deve ter algumas mudanças. “Nós traremos novidades tanto no formato quanto nos valores de entrada, que serão diferenciados de acordo com as faixas etárias. Em breve, nos reuniremos para definir isso. Aproveitando agradeço em meu nome e em nome de todos do Metal Warriors o apoio e o retorno maravilhoso que o público metalhead está nos proporcionando. Tem sido excepcional e a tendência é que seja cada vez melhor! Muito obrigado, mesmo!”, diz Marllon.

Público

Uma particularidade que chamou a atenção no show de sábado é que o público que estava presente no John Bull, realmente, demonstrava conhecer o trabalho de todas as bandas.

Em uma cidade que pouco valoriza seus artistas (em qualquer área) essa é uma situação que deve ser comemorada. Para a construção de uma cena forte, esse fato é de suma importância. “Vários amigos e conhecedores das bandas vêm e prestigiam o evento. Esse público que nos acompanha é o motivo óbvio de nos apresentarmos ao vivo. Queremos que eles tragam seus amigos e apresentem essas bandas para eles, aumentando o alcance do nosso trabalho”, diz Nelson. “Por serem grupos com bastante tempo de estrada, acaba sendo natural que o público conheça bem cada um deles. Mas também notamos que sempre o pessoal acaba levando algum amigo para conhecer um som novo e assim o público vai aumentando”, diz Taborda.

O tempo de estrada que cada uma dos grupos possui, obviamente, faz com que o trabalho de cada um deles tenha um alcance maior. “São bandas que já têm uma longa história na cena nacional. O Dragonheart dispensa comentários, pois é um patrimônio do Metal nacional e todo mundo conhece o trabalho deles na ponta da língua. O Disharmonic Fields já possui dois álbuns excelentes e tem um público fiel e interativo. Já o Aquilla, apesar de não ter lançado álbuns ainda, tem muita experiência em função da sua trajetória, além de um carisma que levanta o público. Tivemos a oportunidade de mostrar o nosso trabalho para as pessoas que foram lá não só atrás dessas brilhantes bandas, mas antes de tudo atrás de música autoral. E essa é, sem dúvida, a grande importância desse tipo de público”, analisa Luxyahak.

Com o apoio dos fãs, manter essas bandas em evidência, aliás, é uma dos principais objetivos do Metal Warriors. “O cast, invariavelmente, é formado por bandas veteranas, com grande tempo de estrada e bom público. Um dos pilares é, e sempre será, a ideia de resgatar esses grupos tradicionais que possuem qualidade excepcional e ótimo público, porém encontram-se no ostracismo devido a falta de espaço para mostrar seu poder de fogo”, finaliza Marllon.

A importância para a cena metal

Em Curitiba, o festival Psycho Carnival, que em 2017 chegou a sua 18ª edição, se tornou conhecido no mundo todo. Organizado pela cena psychobilly curitibana, o evento recebe pessoas e artistas de todo o mundo e consegue, dessa forma, ser uma vitrine espetacular para as bandas da capital paranaense.

O Metal Warriors, nitidamente, apesar de ainda estar se consolidando, é uma grande oportunidade para a cena heavy metal da cidade também começar a trilhar um caminho parecido. “É de extrema importância que eventos como o Metal Warriors se firmem e consigam crescer. Infelizmente, o público está desacostumado a procurar eventos autorais, mas fica clara a satisfação quando percebem a qualidade que esses eventos estão tendo. Sábado foi mais uma prova disso, com vários estilos representados e muita qualidade no palco”, diz Taborda.

Na visão dos organizadores, ainda há muito que fazer, mas as três edições realizadas até agora mostraram que o evento é viável. “Posso dizer que quem comparece ao Metal Warriors acaba presenciando uma reunião de ótimos representantes do Heavy Metal curitibano. Se alguém te perguntar se temos na cidade uma cultura metálica, espero que esta pessoa vá aos nossos Rock Pubs e presencie o Metal Warriors, que já tem uma parcela de importância na cultura local”, finaliza Nelson.