Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Foto: Marcos Mancinni e Pri Oliveira
2015 foi um ano de consolidação para o Motorocker. Após mais de 20 anos de batalha, nos últimos meses a banda teve duas conquistas relevantes que mudaram o olhar do Brasil a respeito do grupo. A primeira foi abrir o show do Kiss na Pedreira Paulo Leminski, em abril. Ali, Marcelus dos Santos (vocal), Luciano Pico e Thomas Jefferson (guitarras), Silvio Krüger (baixo) e Juan Neto (bateria) já percebiam que algo importante estava por vir.
Em setembro veio o fato que se tornaria um divisor de águas na carreira da banda. A apresentação no Palco Street do Rock In Rio, talvez o maior festival do mundo, reuniu milhares de fãs que vieram de todo o Brasil para assisti-los e colocou o quinteto na mídia dos quatro cantos do país. “Nossos fã-clubes foram para lá e levaram várias bandeiras. Tinha gente da Bahia, do Rio Grande do Sul e também o pessoal de Manaus, que eu não via há muito tempo”, conta Marcelus.
A empolgação do vocalista se justifica. Afinal, a programação daquele dia reuniu nomes consagrados no Heavy Metal mundial, como o Metallica, Dee Snider e Ministry. E no meio de toda essa turma estavam os malárias curitibanos.
Apesar da experiência de já ter feito aberturas para shows de bandas grandes como o Iron Maiden, o Kiss e o Nazareth, o grupo se surpreendeu quando descobriu que seria headliner no Palco Street. “Nós não sabíamos disso. Chegamos lá de chinelo de dedo, bem Motorocker, bem ‘paranazão’. Só lá nós descobrimos que poderíamos usar a luz do palco e tudo mais”, conta.
Mas a maior marca que o Rock In Rio deixou na banda foi o respeito que a produção do festival dispensou aos músicos. “O tratamento que eles tiveram com a gente, eu imagino que tenha sido o mesmo que deram para o Metallica e para as outras bandas. Foi a primeira vez que eu me senti um artista de verdade”, diz Marcelus.
Aliado a isso, outro fato marcante foi a presença maciça dos fãs que transformaram a Cidade do Rock no Rio de Janeiro em um pedaço de Curitiba. “Antes do nosso show a Escola de Samba do Salgueiro fez uma apresentação e, durante o batuque, o público começou a gritar ‘olê, olê, olê, olê, Motorocker!’. Foi de arrepiar!”, complementa.
O momento mais mágico daquela noite de 19 de setembro aconteceu antes da banda entrar no palco. Ali, o quinteto sentiu que toda a trajetória que construiu até hoje não foi em vão. “Foi uma choradeira, parecia um velório (risos). O nosso empresário nos abraçou e aí começou a passar um filme na minha cabeça. Eu fiquei me segurando para não chorar, naquela coisa de ‘sou macho!’, mas quando estávamos descendo as escadas eu não aguentei e entrei no palco chorando. Burro! Deveria ter chorado antes! (risos), relembra Marcelus.
Duas décadas de estrada
Aos olhos de quem não conhece a história da banda, o sucesso do Motorocker pode parecer repentino. Mas a realidade é que o grupo busca esse reconhecimento há mais de 20 anos. Dentro do traiçoeiro cenário musical de Curitiba, os frutos que eles vêm colhendo não nasceram em função da sorte e sim de muito trabalho. “Nós fazemos isso desde o final dos anos 1980 e sem ficar falando ‘ninguém ouve a minha música’ ou ‘a mídia não abre espaço’. Demorou muito tempo pra que isso acontecesse. Eu não teria fôlego para começar isso novamente porque realmente cansa”, desabafa.
Entretanto, para seguir alimentando o sonho de ser uma banda conhecida no Brasil foi preciso muita perseverança. Na vida do Motorocker, como em toda trajetória humana, vitórias e derrotas se intercalaram e ajudaram a forjar a história do grupo. “É como um relacionamento onde você tem um ‘arranca-rabo’ aqui ou ali, mas vai mantendo. Quando você já construiu uma história é mais fácil de superar. Uma banda é assim, também”, compara.
O novo clipe e o relançamento do álbum “Igreja Universal do Reino do Rock”
Mas se as conquistas foram grandes neste ano, não existe tempo para ficar ostentando essas vitórias. Consciente disso, duas novidades marcam o final de 2015 para o Motorocker. A banda acaba de lançar o clipe da música “Pegada Seca”.
O vídeo, produzido pelo baterista do Motorocker, Juan Neto, e editado pelo guitarrista do Doomsday Ceremony, Ciriato, mostra um pouco da energia que o quinteto transmite ao vivo. “O Ciritiato, o Moloch e todo o pessoal da banda são pessoas que eu sempre admirei porque eles acreditam no seu som. Eu acho que não poderia existir um profissional melhor aqui em Curitiba para fazer esse trabalho pra gente”, afirma Marcelus. Outro fator que pesou nessa escolha foi a decisão de valorizar o que é feito em Curitiba. “Nós sempre fazemos questão de gravar aqui e trabalhar com o material humano da nossa cidade”, explica.
A segunda novidade é o relançamento do álbum “Igreja Universal do Reino do Rock”. Originalmente gravado em 2006, o CD foi remasterizado pelo produtor Daniel Pessanha, do Estúdio AudioDigital, e ganhou uma nova roupagem. “Esse disco vendeu mais de 10 mil cópias em um prazo muito curto. Mesmo que a gravação tenha ficado muito boa, nós resolvemos remasterizar e lançá-lo em digipack, com a logo na capa em relevo. Ele ficou uma porrada, muito forte”, diz.
Os novos projetos
O novo ano deve trazer mais trabalho e novos projetos para o Motorocker. O primeiro deles é o clipe da música “Motorocker”, que deve ser lançado até o mês de abril. A banda também pretende lançar, já no primeiro semestre de 2016, um DVD reunindo todos os clipes gravados até hoje pelo grupo.
A ideia é antiga, pois em 2015 o quinteto já estava trabalhando em um projeto semelhante. Na época, a intenção era gravar um DVD ao vivo. Mas por causa do alto custo e também do envolvimento da banda na abertura do show do Kiss na Pedreira e no Rock In Rio, esse desejo foi adiado temporariamente.
A banda também já está trabalhando na pré-produção do sucessor do CD “Rock Brasil” (2014). O álbum deve ser lançado em outubro de 2016, mas os fãs devem ter uma “amostra” ainda no primeiro semestre. “Eu acredito que nós vamos lançar um promo para não deixar a galera esperando tanto”, conta. Duas músicas já têm nome: “Piloto Automático” e “Ouija”.
Nem tudo são flores…
Como o maior expoente da cena local nesses últimos anos, o Motorocker tem experimentado outros ares e sentido na pele a diferença de respeito que existe fora da sua cidade. Provavelmente, hoje ele é o grupo curitibano que mais vende produtos. E isso não se limita apenas aos CDs. Procurando se adequar às exigências do mercado, a banda tem oferecido aos seus fãs um material diversificado e de qualidade que inclui vários itens como camisetas, moletons e chaveiros.
A busca por mais profissionalismo também tem se estendido a outras áreas. O site da banda, por exemplo, foi reformulado e até o famoso “Cara Preta”, o ônibus do Motorocker, recebeu melhorias extremamente necessárias. “Nós reformamos o nosso ônibus. Ele agora tem banheiro! Antes a gente tinha que mijar naquelas vasilhas de amaciante, agora podemos fazer isso em paz! (risos)”, brinca.
Essa confiança no que estão fazendo se torna até um ato de coragem diante do conhecido autofagismo curitibano. É notório esse “vício” do público local, que prefere pagar para ver artistas de qualquer lugar do mundo, ou até bandas cover, em detrimento aos “santos de casa” que resistem em levantar a bandeira da música autoral. “É mais fácil nós sermos chamados para tocar no próximo Rock In Rio do que em uma Virada Cultural daqui. Curitiba é massa, né? São mais exigentes do que no Rock In Rio”, critica.
Esse “complexo de vira-lata” assumido pelo público da capital paranaense não é nenhuma novidade. Ele vem há décadas minando e impedindo que os artistas locais consigam alçar voos maiores. “Nós estamos tocando em festivais grandes por aí, mas e as bandas que estão vindo agora? O cara desanima no primeiro ano. Tem que fazer por muito amor à camisa e sem esperar nada”, critica.
Consciente das dificuldades, mas sem ceder a nenhuma delas, o Motorocker vem subindo degrau por degrau para conquistar o seu espaço dentro da música brasileira. E talvez o grande segredo desse sucesso, além da qualidade das suas músicas e de muito trabalho, possa ser explicado pelo respeito que a banda demonstra ter pelo seu público. “Nós podemos não ser a melhor banda de Curitiba, do Brasil ou do mundo, mas nós temos os melhores fãs do universo”, finaliza Marcelus.
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