O grupo, que está em turnê de lançamento do álbum “Unbroken” (2024), se apresenta nesta sexta-feira (7), no Jokers Pub, em Curitiba

“Se alguém tenta nos colocar em uma caixa, nosso instinto é saltar para fora”. A frase do vocalista e guitarrista da banda inglesa New Model Army, Justin Sullivan, resume muito bem o que o grupo representou no mundo da música nos últimos 44 anos.

Essa característica pouco comum faz com que o NMA seja uma banda única. Afinal, quantos grupos você conhece que seriam capazes de tocar no Wacken Open Air, o grande festival de Heavy Metal do planeta, e no Glastonbury, um dos maiores eventos de música independente do mundo? “Acabamos em um lugar estranho onde, em todos os verões, nós tocamos em festivais de Punk, Metal, Folk, góticos, ou hippies, basicamente, com as mesmas músicas. Pertencemos a todos os lugares e a lugar nenhum. Para nós, tudo bem porque temos total liberdade para fazer o que quisermos sem a preocupação de agradar ao público de um gênero específico”, complementa.

Nesta sexta-feira (7), os fãs curitibanos terão a oportunidade de presenciar ao vivo toda essa liberdade musical no show que o New Model Army fará no Jokers Pub.

A apresentação faz parte da turnê de lançamento do álbum “Unbroken” (2024) e tem realização da Liberation Tour Booking. A pista será comandada pelo DJ Mauricião.

Essa será a 6ª passagem do NMA pelo Brasil e, desde o início da década de 90, quando eles vieram pela primeira vez, a recepção dos fãs sempre costuma ser um choque para a banda. “Quando chegamos, em 1991, ficamos surpresos ao ver que as pessoas em São Paulo nos conheciam. A atmosfera nos shows era fantástica, cheia de espírito. É difícil para mim falar muito sobre o Brasil porque sou um estrangeiro ignorante (risos). Só que me apaixonei por esse país! Tenho histórias e lembranças de Curitiba daquela época, mas são muito longas para contar aqui”, diz.




O novo álbum

Justin Sullivan (vocais e guitarra), Marshall Gill (guitarra), Dean White (teclados e guitarra), Ceri Monger (baixo) e Michael Dean (bateria), acabam de lançar o álbum “Unbroken” (2024).

Esse é o 16º trabalho de estúdio da banda e, de certa maneira, reconecta o grupo ao processo “tradicional” de produção e ao velho formato vocal/guitarra/baixo/bateria. “Tudo o que fazemos é uma espécie de reação ao que fizemos antes. O álbum ‘From Here’ (2019) foi um passo deliberado para fora do mundo (nós gravamos em uma bela e desolada ilha norueguesa). É muito ‘outro mundo’. Esse disco e o projeto ‘Sinfonia’ (2023), no qual trabalhamos com uma orquestra de 40 instrumentos, na Alemanha, fizeram com que nós desejássemos algo que fosse o oposto, ‘deste mundo’, muito simples e direto”, explica.

As canções de “Unbroken” foram construídas minuciosamente durante vários meses no próprio estúdio da banda e, posteriormente, gravadas e produzidas por Tchad Blake (que já trabalhou com as cantoras Suzanne Vega e Sheryl Crow, entre outros artistas). “Queríamos que o Tchad mixasse e ele disse que gostava de nossas demos brutas porque tinham energia, excitação e imperfeição. Foi isso que ele mixou (lindamente). De certa maneira, é um álbum de volta às raízes, com ênfase total na bateria e no baixo. Ao mesmo tempo, estranhamente, ele soa muito moderno”, diz.

Uma das melhores faixas de “Unbroken” é “Language”, na qual Sullivan canta uma frase que aborda um dos dilemas do século XXI: “a linguagem do amor nos trará amor, a linguagem da guerra nos trará a guerra”.

Afinal, o que vemos diariamente é o mundo repetindo os mesmos erros e insistindo em criar conflitos para que os “senhores da guerra” adquiram mais poder e influência em suas respectivas regiões.

Apesar da frase certeira, o vocalista não tem esperança de que a humanidade caminhe rapidamente em direção a uma evolução duradoura, especialmente, das mentes dos poucos governantes que realmente ditam as regras e dirigem o destino do planeta. “Somos prisioneiros de uma pirâmide muito exploradora que é sistêmica e não humana. Mesmo as pessoas que estão no topo, individualmente, não têm tanto poder quanto imaginamos”, opina.

Nessa análise profunda dissecada em “Language”, Sullivan acaba chegando ao que realmente deveria ter mais valor no dia a dia de qualquer um de nós: as relações pessoais. “Essa música é sobre as pequenas escolhas que fazemos todos os dias uns com os outros. Se nos vemos como inimigos em potencial, não confiáveis, ​​ou apenas como seres humanos tentando fazer o nosso melhor em tempos difíceis”, analisa.

Levando em conta esse ponto de vista e essa maneira de encarar a sociedade, o vocalista acredita que uma relação mais humana entre as pessoas pode fazer toda a diferença na hora de construir um mundo um pouco mais justo. “O medo e a divisão são as armas da opressão. Solidariedade, bondade, tolerância e humor são a nossa melhor esperança e a nossa escolha”, complementa.

Nessa sonoridade abrangente que o New Model Army apresenta desde 1980, quando a banda foi formada na cidade de Bradford, na Inglaterra, existem muitas influências e isso faz com que o grupo pertença a uma categoria simplesmente indefinível.

Afinal, não é possível simplesmente enquadrar o NMA no movimento Punk ou Pós-punk, por exemplo. Entretanto, apesar de fazerem questão de não pertencer a um estilo específico, a influência dos integrantes do NMA no mundo da música acabou indo além da cena independente.

Várias bandas de outros estilos, inclusive, já gravaram versões para músicas do grupo, entre elas, o Sepultura, que fez um cover pesadíssimo de “The hunt” no álbum “Chaos A.D.” (1993). “Nós acabamos nos conhecendo em 1991, quando viemos ao Brasil, e nos tornamos amigos. Quando soubemos que eles haviam feito uma versão de ‘The hunt’, ficamos muito entusiasmados para ouvir. É claro que, embora os vocais e guitarras fossem ‘metalizados’, nós ficamos surpresos com o fato de eles terem feito poucas mudanças no arranjo e na estrutura. Nós amamos isso!”, elogia.

É preciso ressaltar que, nos anos 1990, não era comum ver uma banda de Heavy Metal fazendo versões para músicas de artistas de outros estilos e isso só reafirma o impacto que o NMA teve em diversas cenas. “Somos inspirados e influenciados por muitas músicas maravilhosas de todos os gêneros (nós temos gostos bem diferentes). Então, consequentemente, inspiramos outras pessoas. Somos apenas mais um elo na longa e bela cadeia de inspiração e ideias musicais”, diz.




“Banda política”?

Liricamente, na percepção de boa parte dos fãs, as letras do NMA sempre tiveram uma grande carga de conteúdo político.

Porém, essa realidade surpreende o grupo porque, apesar de fazer parte da mentalidade do New Model Army, esse nunca foi o objetivo central. “É estranho como as pessoas nos identificam como uma banda política. Na verdade, não somos. Lançamos tantas músicas sobre relacionamentos, questões familiares e assuntos pessoais. Não temos nenhum manifesto ou agenda política”, explica.

Assim, mesmo que boa parte dos fãs tenha essa percepção de que o NMA é uma “banda política”, o grupo procura não carregar nenhuma bandeira nesse sentido. “Só me interessa escrever sobre essas coisas às vezes, incluindo músicas cantadas do ponto de vista de pessoas com as quais nem concordamos (como a ‘My people’ e a ‘One of the chosen’, entre outras)”, complementa.

Apesar de não colocar a política como um tema único no trabalho do NMA, o vocalista claramente acompanha e se interessa pelos caminhos tortuosos que o assunto vem tomando nos últimos anos. “Para mim, o mundo moderno é assustador. Permitimos que as nossas democracias se transformassem em oligarquias e a próxima etapa parece ser a ditadura. Estamos em uma tempestade perfeita que nós mesmos criamos. Cantamos sobre isso há anos e, agora, está aqui”, analisa.

No contexto caseiro, o vocalista também tem uma boa visão das experiências que a Inglaterra tem vivenciado e da relação direta das atitudes tomadas pelos países mais influentes com o contexto geral vivido em todo o planeta. “A nossa história abrange o desenvolvimento da filosofia neoliberal, começando com Thatcher e Reagan nos anos 1980 e a ideia da economia trickle-down”, explica.

Esse tipo de pensamento econômico defende que o Estado diminua os impostos para os cidadãos e empresas mais ricas, alegando que isso estimula o crescimento do país.

Na prática, a realidade acaba se tornando bem diferente para a esmagadora parcela das pessoas que não estão inseridas neste grupo privilegiado. “Na década de 1990, já era claro que esse sistema financeiro mundial não beneficiava ninguém, exceto os mega-ricos. No entanto, 40 anos depois (e mesmo após a crise bancária de 2008), ainda estamos permitindo esse sistema. É louco porque, na verdade, é a ‘economia do gotejamento’. Citando a música ‘Reload’, do ‘Unbroken’, que é sobre isso: ‘é só a dívida que escorre’. O mundo está terrivelmente polarizado”, complementa.

Um bom exemplo dessa ligação que os fãs fazem entre o NMA e a política é o grande sucesso do grupo no Brasil, a canção “51st state”, do álbum “The Ghost of Cain” (1986).

Na época, ela fazia parte da programação diária de várias rádios Rock brasileiras, entre elas, a Estação Primeira, de Curitiba.

Poucos fãs sabem que essa música foi adaptada de uma composição de uma banda criada por um amigo de Sullivan (o músico e poeta Ashly Cartwringht) chamada The Shakes. “Ela foi escrita por volta de 1981 ou 1982 e nós gravamos em 1986 (muito depois do grupo dele se separar). O contexto foi o acirramento da Guerra Fria e da influência estadunidense no Reino Unido, mas entendemos como e porque ela se tornou um hino em muitos países, especialmente no Canadá e na América Latina”, conta.

Hoje em dia, na indústria musical que domina o mundo, a política ou qualquer outro assunto mais relevante não parecem ter tanta importância para as bandas e artistas.

Basicamente, tudo é deixado de lado em troca de uma produção direcionada, que possa alcançar os ouvidos dos potenciais fãs e, consequentemente, gerar o maior lucro possível para as gravadoras.

Mais uma vez, assim como fazem na questão musical, os integrantes do New Model Army tomam uma direção diferente, pois as letras sempre foram parte importante do trabalho do grupo. “Não acho que as músicas mudem exatamente a mente das pessoas, mas elas podem dar força para que elas saibam que não estão sozinhas. Realmente, eu não penso em ‘mensagens’, apenas conto histórias”, explica.

Porém, nem só de música e política vivem os integrantes do New Model Army. Existe espaço para prazeres mais “mundanos”, digamos assim, pois eles também são apaixonados por futebol.

Essa conexão vai aumentar ainda mais a partir do dia 14 de junho, quando começa a ser disputada a Eurocopa, na Alemanha (a Inglaterra está no grupo C, ao lado de Dinamarca, Sérvia e Eslovênia).

Após perder para a Itália, nos pênaltis, a final da mais recente edição (disputada em casa, no estádio Wembley, em Londres), os torcedores/músicos do NMA parecem não acreditar muito que o English Team, finalmente, consiga levantar o caneco europeu pela primeira vez na história. “Somos todos fãs de futebol, mas não somos especialmente nacionalistas. A Inglaterra pode vencer, mas todos os outros também podem. Uma das razões de ser o melhor jogo do mundo é porque os melhores e mais fortes nem sempre vencem esse tipo de competição. No passado, pequenos países que não são potências mundiais do futebol, como a Grécia e a Dinamarca, venceram. ‘Nada pode acontecer’ (risos). Estou ansioso por isso!”, finaliza Justin Sullivan.

Os ingressos antecipados para o show em Curitiba custam R$ 200,00 + taxa administrativa (meia-entrada ou ingresso solidário com a doação de 1kg de alimento não perecível) e podem ser adquiridos na plataforma Clube do Ingresso. Na hora do show, o valor será de R$ 250,00 (pista) e R$ 300,00 (camarote).

Os bilhetes também podem ser comprados sem taxa na loja Let’s Rock, que fica na Praça Tiradentes, Galeria Pinheiro Lima, nº 106, lojas 03 e 04, no Centro (de segunda a sexta, das 9h às 19h, e aos sábados, das 9h às 15h). O fone do estabelecimento é o (41) 3324-2676.

A meia-entrada é válida para estudantes, maiores de 60 anos, professores, doadores de sangue, pessoas com deficiência (PCD) e de câncer. Na compra do ingresso e na entrada do local, é obrigatória a apresentação do documento previsto em Lei que comprove a condição do beneficiário.

Na América Latina, no mês de junho, o grupo também se apresentará no Chile (11), Colômbia (13) e México (15).

No Brasil, além de Curitiba, o NMA fará mais três shows. Os dois primeiros serão em São Paulo, no Fabrique (6), em formato acústico, e no Carioca Club (8). A banda fecha a passagem pelo país no Circo Voador (9), no Rio de Janeiro.

A casa abre às 18h e a apresentação começa às 21h30. A classificação etária é de 16 anos (menores só entram se estiverem acompanhados dos pais ou responsáveis).

O Jokers Pub fica na Rua São Francisco, 164, no Centro.




Jokers Pub

Inaugurado em 2001, o Jokers Pub é um dos mais tradicionais bares da capital paranaense. O local possui quatro ambientes diferentes, além da área do palco na qual acontecem os shows. Nesses espaços, são realizados diversos eventos, de shows a festas temáticas.

A cozinha do bar oferece várias opções aos frequentadores, entre elas, sanduíches, cafés, saladas, sobremesas e sopas, com valores acessíveis para todos os públicos. Além disso, o Jokers conta com uma grande variedade de bebidas, cervejas e drinks.

Os horários de funcionamento do Jokers Pub são os seguintes: segunda-feira, das 10h às 15h, terça a sábado, a partir das 10h.

Cafeteria – Segunda a sábado, a partir das 10h.

Almoço – Segunda a sábado, das 11h30 às 15h.

Happy hour – Terça a sexta-feira, das 18h às 20h30.

Jantar – Terça a sexta-feira, a partir das 18h, e sábados, a partir das 20h.

Acompanhe as informações sobre o Jokers Pub no Instagram e Facebook @jokerspub e no site www.jokers.com.br.

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