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Lou Reed, meio século de inventividade (Foto – Reprodução/Facebook Lou Reed)

 

Poucos artistas tocam sob suas próprias regras, ignorando o status quo que domina a indústria musical. É muito mais fácil se entregar à mesmice que conduz o mundo, em várias áreas, atualmente. Ser original é para poucos. O nova iorquino Lou Reed, que morreu neste domingo (27) em decorrência de problemas no fígado após um transplante realizado no último mês de maio, era um desses artistas.

Lou passava longe da chatice do “politicamente correto”, moda entre as bandas atuais. Sua música era baseada no rock and roll clássico, sem firulas ou enganações. Suas letras eram ácidas e incisivas. Falavam de prostituição, sadomasoquismo, drogas e marginalidade. Elas tocavam as feridas da América. “Jackie está só usando anfetaminas. Pensou que era James Dean por um dia. Aí, acho que ela tinha que desmoronar. Valium deveria ter ajudado nessa doideira. Disse, hey babe, dê um passeio no lado selvagem”, canta Reed em “Walk On The Wild Side”, um de seus maiores clássicos.

A arte, seja ela qual for, deveria ter esse objetivo, ser uma voz divergente das demais. De que vale dizer amém para tudo o que é bem visto e apreciado pela sociedade? De que vale ser apenas mais um?

 

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Metallica e Lou Reed durante o lançamento de “Lulu” (Foto – Reprodução/Facebook Lou Reed)

 

Um artista à frente do seu tempo

 

Dono de uma personalidade forte, como sua arte, Reed não media palavras para falar sobre qualquer assunto. “Música é tudo. As pessoas deviam morrer por ela. Estão morrendo por qualquer outra coisa, então por que não pela música?”, comentou certa vez referindo-se ao rock and roll.

A lista de bandas e músicos influenciados por Lou Reed é imensa. Billy Idol, David Bowie, Radiohead, Strokes e Jesus and Mary Chain, entre outros, receberam uma fagulha de sua obra em seus trabalhos.

O último grupo a reconhecer a importância de Reed foi o Metallica. Em 2011 o quarteto lançou “Lulu”, gravado em parceria com o velho mestre. O disco recebeu duras críticas dos fãs da banda. “Eles estão ameaçando atirar em mim. Nem sequer ouviram o álbum, mas já estão recomendando várias formas de tortura e morte”, declarou o cantor em uma entrevista para o jornal USA Today, na época.

Experiente e consciente do seu valor, Lou não levou a sério a repercussão negativa. “Eu não tenho fãs, mesmo. Depois de ‘Metal Machine Music’ todos fugiram. E quem liga para isso? Eu estou nessa pela diversão”, afirmou. O álbum citado por Lou, lançado em 1975, é mais um exemplo da sua repudia pelo lugar comum. O disco não tem canções estruturadas de forma tradicional. Ele é uma coleção de quatro músicas com 16 minutos de duração cada, que mesclam sons aleatórios e microfonia.

A atitude do Metallica foi corajosa. Alheio ao preconceito e falta de conhecimento de alguns fãs, o grupo abriu os horizontes de sua carreira em uma aposta arriscada, mas artisticamente interessante. “É algo que eles nunca ouviram antes. Ninguém ouve ritmos ou escreve poesia do jeito que Lou faz. Sei que não é para todos, mas eu penso que é um disco fantástico”, disse o baterista da banda, Lars Ulrich, em uma entrevista na época do lançamento de “Lulu”.

Em um mundo do rock cada vez mais mumificado e com as mãos atadas, Lou Reed fará muito falta.

Confira as canções “Pumping Blood”, do álbum “Lulu”e o disco “Metal Machine Music”.