Texto – Marcos Anubis
Revisão – Pri Oliveira
“Eu não me importo com as cores. Eu não me importo com a luz. Eu não me preocupo com a verdade”, canta Mark Gardener em “Leave Then All Behind” do álbum “Going Blank Again” (1992) que abriu o show do Ride na madrugada deste sábado (11) no festival americano Coachella, realizado anualmente na cidade de Indio, na Califórnia.
Nada mais real. O Ride é cor, luz e verdade. O quarteto inglês formado por Andy Bell e Mark Gardener (guitarras e vocais), Laurence Colbert (bateria) e Steve Queralt (baixo) foi um dos maiores expoentes da Shoegaze inglesa da década de 1990 e ajudou a definir esse gênero musical que unia melancolia e wall of sound em doses cavalares. E eles continuam absolutamente perfeitos no que fazem.
A banda foi formada em 1988 em Oxford, na Inglaterra e se separou em 1996. Nesses quase 20 anos de hiato, seus integrantes participaram de outros projetos, mais notadamente Andy Bell que assumiu o baixo do Oasis entre 1999 e 2009 e, depois da briga entre os irmão Gallagher, acompanhou Liam no Beady Eye, desta vez como guitarrista. Em novembro do ano passado o grupo anunciou a sua volta e provocou uma grande expectativa na Inglaterra. Ainda hoje o quarteto desperta muito respeito e continua influenciando as novas gerações de bandas inglesas.
Na sequência do setlist, “Taste” e “Polar Bear”, do fantástico “Nowhere” (1990), álbum essencial para entender a cena inglesa da época e especialmente a Shoegaze. “Black Nite Crash”, do último trabalho lançado pelo Ride, “Tarantula” (1996) e “Cool Your Boots” do CD “Going Black Again” (1992), vieram em seguida.
Na parte final do show, uma sequência de tirar o fôlego: A belíssima “Dreams Burn Down”, “Chelsea Girl” e “Vapour Trail”, com sua melodia orquestrada e tocada sob uma base simples, que confere uma melancolia única à canção.
No encerramento, com “Drive Blind”, o público presente pôde conhecer o que é o verdadeiro wall of sound. Bell e Gardener criaram nada menos do que cinco minutos de sons etéreos, sem vocais, que hipnotizaram a plateia.
A Shoegaze curitibana
Curitiba certamente foi uma das cidades do mundo mais influenciadas pela Shoegaze, e muito em função do Ride. A banda teve uma influência fundamental na história do rock curitibano. Na década de 1990, dezenas de bandas foram inspiradas no som do quarteto inglês. Talvez o maior exemplo seja o quarteto Tods, que recentemente também voltou a se apresentar com mais frequência.
Impossível não fazer um paralelo mental entre o Coachella e a criticada edição 2015 do Lollapalooza, que aconteceu em São Paulo nos dias 28 e 29 de mês passado. Enquanto Perry Farrel e seus asseclas se cercaram de bandas clones, iguais, sem nenhum traço de originalidade em seus trabalhos, o Coachella viu a oportunidade de contar com uma banda que carrega a história que o Ride tem e não pensou duas vezes. A banda anunciou seu retorno em novembro do ano passado e esse foi apenas o segundo show dessa volta aos palcos. O primeiro aconteceu no último dia 5 em Oxford, terra natal do grupo.
Ver a volta do Ride no festival Coachella foi de arrepiar a alma. Existem bandas que ajudaram a definir um estilo. Quando pensamos em Punk, nos vêm à mente Sex Pistols, The Clash… Heavy Metal? Iron Maiden, AC/DC, Black Sabbath… Falar de Shoegaze e de rock inglês é se referir ao Ride.
Fica a ideia, e a esperança, de que os produtores brasileiros mais antenados com a história da música e a importância de certas bandas, tentem trazer o Ride para tocar no Brasil.
Para os que gostam da música feita com alma e criatividade, esta foi uma madrugada emocionante. O Ride está de volta. Confira quatro momentos dessa nova fase do quarteto inglês: “Polar Bear” e “Dreams Burn Down” na sua volta aos palcos, que aconteceu no último dia 5 em Oxford. A canção “Vapour Trail” tocada de forma acústica por Gardener e Bell no 100 Club, em Londres, no último mês de fevereiro, e “Leave Then All Behind”, executada nos estúdios da rádio KCRM, da Califórnia.
Deixar um comentário